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Um dia de luta, sangue, flores e pão para todos

Por Pedro Del Castro*

Quase que pelo globo inteiro, ter um feriado que leva o nome de Dia Internacional dos Trabalhadores não é o resultado de qualquer coisa.
Esse dia, o 1º de Maio, é o dia em que as trabalhadoras e os trabalhadores em luta impuseram para o mundo que prestem atenção, pois esse é o dia de lançamento das lutas que estão para chegar. É um dia de lutas em todo mundo contra a opressão e a exploração, é um dia que marca a vitória dos trabalhadores ao pegar o seu destino em suas mãos e, assim, através de muita coragem seguirem transformando a vida e o planeta para algo melhor e mais generoso. É uma espécie de alerta e de pré-anuncio que uma onda transformadora quer mudar comportamentos, a história e todo um tipo de coisas que tanto fazem sofre os povos.
Tudo começa num 1º de Maio em 1886 em Chicago nos EUA e numa mesma época em 1891 no norte da França, que a luta pela redução da jornada de trabalho (que era de 16, 17 horas diárias), deixou muito além de sangue, prisões e condenações de morte para aqueles que tão somente queriam ter o direito de poder ser um ser humano, de ter direito a vida comum e gozar das coisas simples como poder ver um filho crescer, ou namorar numa praça, ou quem sabe, visitar um amigo querido, ou apenas descansar tão somente.
A verdade é que as jornadas de trabalho para além de gerar a exaustão físicas e mental como bem mostra o Chaplin no filme Tempos Modernos, ela roubava o bem mais precioso da vida humana que é o direito a ter tempo fazer bem o que quiser com ele.
Naquela época os poderosos não queriam seres humanos, eles queriam máquinas humanas de trabalho, para assim, produzirem lucros e mais lucros, ou seja, um exército para o fomento de sua ganância, pessoas sem cérebros e corações, mas com braços e pernas que no exercício do trabalho espirrassem dinheiro nas carteiras de seus patrões. Era um momento na história que quase todo trabalho fabril dependia da força humana.
Esse processo de libertação da vida humana, organizado internacionalmente nos países industrializados, traduzida em luta, colhe a sua primeira vitória em 1919, quando o senado francês aceita a redução da jornada de trabalho para 8 horas e decreta o 1º de Maio como feriado. Dois anos depois, em 1920, a primeira experiência de um “estado operário” (a União Soviética) adotou o dia de hoje como feriado, o que gerou um efeito cascata em outros países que estavam em ebulição social e política, pois os trabalhadores começavam a ocupar espaços importantes de poder.
No Brasil só em 1925 essa data vira feriado, mas não veio do nada, as lutas iniciadas após a primeira Greve Geral no Brasil (1917) e seus desdobramentos, forçaram Artur Bernades então presidente da república a declarar o 1º de Maio como feriado.
Já na era Vargas, essa data vira o “Dia do Trabalho”, pois era o momento em que ele anunciava as medidas que seu governo iria adotar para melhorar a vida do trabalhador numa linha de tentar absorver as lutas sindicais ao estado de forma proposital de aparelhamento, ou seja colocar sobre seu controle. Essa prática de tentativa de absorção do estado se estendeu (com menor força e com oposição dos trabalhadores pós-Vargas) até os anos 1960. Já na Ditadura Militar, o 1º de Maio era utilizado para espionar lideranças políticas e até ter atentados como foi o caso fracassado (no final da Ditadura) do Riocentro em 1981.
Hoje, tão longe e tão perto, com todas as diferenças históricas de quase 130 anos, o 1º de Maio no mundo, paradoxalmente, buscará as mesmas pautas de reivindicação que tiveram inicialmente, mesmo que o mundo tenha mudado muito e, essa mudança para melhor, tenha vindo das mãos dos próprios trabalhadores.
É só reparar que o surgimento das Fábricas 4.0, das impressoras 3D e da Inteligência Artificial em postos de trabalho, o que gera e seguirá gerando desemprego estrutural pelo mundo à fora (mesmo com a conquista das 8 horas de jornada de trabalho), não tem como produzir outra alternativa para o operariado mundial que não seja, lutar por maior redução da jornada de trabalho.
E a lógica é simples, se a tecnologia até agora criada e em todo momento é melhorada para algo superior com o objetivo de melhorar o planeta, então, ela deve estar à serviço do ser humano como finalidade, ou seja, ela tem que ajudar a libertar ainda mais o ser humano.
Mais tempo é igual mais liberdade e, isso, é sem prejudicar a produção de mercadorias, já que as máquinas produzem mais que o ser humano.
Outro ponto igual as pautas históricas que simboliza o Dia Internacional do Trabalhador são as questões democráticas, já que existe uma onda conservadora no mundo.
No Brasil essa questão ainda é mais cadente (mas não diferente de outros países), pois conquistas civilizatórias estão fortemente ameaçadas e sendo constantemente agredidas, e, essa é uma das belezas do 1º de Maio que para além de anunciar lutas que visam conquistar melhorias na relação trabalhador e trabalho, é também, um dia em que alerta e organiza os trabalhadores para as questões humanas, de gênero, raça e etc.
Outro ponto importante desse dia é relembrar momentos complicados e de perda para os trabalhadores, assim como foi a retomada do 1º de Maio em Portugal que só virou feriado após a Revolução dos Cravos em 1974, pois durante a Ditadura do Estado Novo as comemoração era reprimidas pela polícia, ou os 1º de Maio após as Ditaduras na América-Latina que homenagearam lideranças sindicais mortos ou torturados, ou os 1º de Maio em países da Europa que pós-Segunda Guerra Mundial que buscavam denunciar o horror da guerra e do ódio destilado pelo fascismo e o nazismo no planeta.
E isso é fundamental, pois não há como melhorar a vida dos trabalhadores sem a existência de democracia, sem um terreno propício para luta de direitos, pois não há como avançar em direitos se não houver um piso mínimo, para assim, desse ponto, poder ir além e avançar. Nesses casos, coube a Classe Trabalhadora derrotar as Ditaduras com greves, manifestações e atos de massas e na Segunda Guerra Mundial, pegar em armas para recuperar a paz perdida no planeta.
De diferente no mundo, outras questões produzidas pelo Capital devem ser incorporar ao debate dos trabalhadores, a crise ambiental, a falta de perspectiva para o jovem, as sequelas da última crise econômica (2008) e a próxima crise econômica que bate em nossa porta, são elementos que merecem toda atenção dos trabalhadores.
Enfim, o direito a vida, a liberdade, a justiça social e de avançar nas conquistas trabalhistas e humanas, nesse dia de comemorar as vitórias conquistadas e que tanto mudaram o planeta, é dia também, de arregaçar as mangas para em luta conseguir mais e mais.

Pedro Del Castro é filiado ao PT

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