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Nelson Freire caiu em casa e teve uma concussão cerebral, diz assessora; corpo será enterrado em Minas

O pianista Nelson Freire morreu em decorrência de uma queda na própria casa, no Joá, na Zona Oeste do Rio. Ao g1, a amiga e assessora Glória Guerra contou que Nelson “teve uma concussão cerebral” e “morreu na hora”, mas não detalhou como ele caiu.

O músico, um dos mais talentosos do século 20, morreu aos 77 anos, na madrugada desta segunda-feira (1º). O velório, aberto ao público, foi realizado nesta terça no Theatro Municipal, no Centro do Rio.

O corpo de Nelson seria sepultado no Memorial do Carmo, no Caju, mas parentes informaram que o enterro será em Boa Esperança (MG), terra natal do músico, no mausoléu da família.

Pianista Nelson Freire morre aos 77 anos

Pianista Nelson Freire morre aos 77 anos

Até a última atualização desta reportagem, não se sabia como seria o traslado até Boa Esperança, distante sete horas de carro do Rio.

Carreira começou cedo

Pianista Nelson Freire se apresenta na abertura festiva do Festival Internacinonal de Música de Londrina — Foto: Festival Internacional de Música/Divulgação

Pianista Nelson Freire se apresenta na abertura festiva do Festival Internacinonal de Música de Londrina — Foto: Festival Internacional de Música

Mineiro de Boa Esperança, nascido em 18 de outubro de 1944, Nelson Freire começou a tocar piano aos 3 anos de idade, vendo a irmã estudar o instrumento. Dois anos depois, ele fez seu primeiro recital, no Teatro Municipal de São João Del Rei.

Naquela noite, os pais se preocuparam que ele dormisse antes da apresentação e fizeram questão de massagear as mãos dele para afastar o frio.

O talento de Nelson o levou à Europa com 12 anos para estudar com os melhores professores. Com 15, ele dava seus primeiros concertos.

Consagrado pela crítica europeia, Nelson se apresentou com as melhores orquestras do mundo e se tornou um dos grandes intérpretes de Beethoven. Ele também era conhecido por ser um grande intérprete de Chopin.

Durante décadas, Nelson se recusou a fazer gravações. Para ele, a música só acontecia ao vivo, diante do público. A partir de 2001, ele começou a lançar grandes discos, como o dedicado à obra de Debussy. Ele também fez interpretações da obra de Villa-Lobos.

Nelson Freire se apresenta ao lado da Filarmônica de Minas Gerais em Boa Esperança, onde nasceu — Foto: Samantha Silva / G1

Nelson Freire se apresenta ao lado da Filarmônica de Minas Gerais em Boa Esperança, onde nasceu — Foto: Samantha Silva / G1

Nelson Freire teve na pianista argentina Martha Argerich sua grande amiga e parceira artística, com quem fez várias turnês e onde se apresentou em peças de dois pianos.

Nelson Freire nunca parou de estudar. Passava a maior parte do tempo em casa, sozinho, se exercitando e desenvolvendo a técnica que o tornou um dos maiores pianistas dos séculos 20 e 21.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Em 2003, o cineasta João Moreira Salles lançou um documentário sobre a vida e a obra de Freire. O filme mostra a rotina e as turnês mundiais do maior pianista brasileiro de seu tempo. O público conhece a infância, os primeiros acordes e os sacrifícios feitos pela família.

O longa está disponível no Globoplay.

Recital no cinema

Pianista Nelson Freire volta ao palco onde fez seu primeiro concerto

Pianista Nelson Freire volta ao palco onde fez seu primeiro concerto

Em 2012, ele voltou ao palco de São João Del Rei onde fez seu primeiro concerto, após 62 anos (relembre acima).

A apresentação, no Projeto Música no Museu, teve lugares disputados e também foi exibida em um cinema da cidade.

“É uma demonstração de carinho enorme, uma coisa muito tocante. Fico muito agradecido, emocionado em pensar que eu estive aqui há 62 anos. É um passo enorme, uma vida”, disse na ocasião.

Livro sobre pianista Nelson Freire é lançado em Belo Horizonte

Livro sobre pianista Nelson Freire é lançado em Belo Horizontehttps://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Em 2015, o escritor Ricardo Fiúza lançou um livro sobre a vida e obra de Nelson Freire. Os dois eram amigos desde os anos 1950. O resultado de mais de 20 anos de trabalho se transformou no livro “Nelson Freire: a pessoa e o artista”.

“Com cinco anos de idade, ele escutava a irmã mais velha tocar. Ela saía do piano. Ele subia devagarinho, com muito cuidado, e tocava o que ela acabou de tocar”, contou Ricardo Fiúza.

Entre as comendas e distinções recebidas por Nelson Freire, destacam-se as de Cidadão do Rio, Cavaleiro da Ordem do Rio Branco, Medalha Pedro Ernesto, Cavaleiro da Legião de Honra da França, Comandante de Artes e Letras da França, Medalha da Cidade de Paris e da Cidade de Buenos Aires, além do título de doutor honoris causa da Faculdade de Música da UFRJ.

Orquestra juvenil do Rio acompanha ensaio de Nelson Freire

Orquestra juvenil do Rio acompanha ensaio de Nelson Freire

Em 2018, jovens da Orquestra Sinfônica da Baixada Fluminense acompanharam um ensaio do pianista no Theatro Municipal. Ele afirmou que tocar no Brasil era especial.

“É diferente. Eu tenho que fazer um esforço para me concentrar. Além da emoção de estar aqui, onde estive tantas vezes. A primeira vez que eu pisei neste palco foi em 1953”, disse Nelson.

Ele falou sobre a importância da cultura para a formação dos jovens.

“O médico cuida do seu corpo, o professor te educa e o artista alimenta o seu espírito. E são três coisas que não são valorizadas no Brasil, infelizmente. Ver aquelas crianças saindo de um ambiente de balas perdidas, de violência, de miséria, é bom. E o meu sonho é ver este teatro cheio dessas crianças”, disse Nelson.

Imprensa internacional destaca morte do pianista Nelson Freire; veja repercussão

Imprensa internacional destaca morte do pianista Nelson Freire; veja repercussão

Capa do álbum 'Encores', de Nelson Freire — Foto: Divulgação

Capa do álbum ‘Encores’, de Nelson Freire — Foto: Divulgação

Em 2019, quando completou 75 anos de vida e 70 anos de carreira, Freire lançou no dia do seu aniversário, em 18 de outubro, o disco “Encores”.

No mês seguinte, o pianista levou um tombo ao tropeçar em uma calçada de pedras portuguesas na altura do Posto 3, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. O músico fraturou o braço e passou por uma cirurgia no Hospital Copa D’Or, em Copacabana, na Zona Sul.

Desde então, ele nunca voltou a gravar ou a se apresentar em público.

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