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A crise ambiental do Coronavírus e a crise do capitalismo

Por Henrique Rodrigues Torres*

Chegou ao Brasil os efeitos devastadores de duas crises gestadas pelo capitalismo e que se apresentam como um mal para a população planetária: a ambiental e a econômica. Embora se concretizem como um caos, tais crises também podem representar a oportunidade de construirmos uma sociedade justa, equitativa e sustentável – uma nova sociabilidade.

Não é novidade para ninguém que a atual crise econômica – como a não superada de 2008 – advém de processos especulativos, onde o dinheiro não é utilizado no processo produtivo, mas para aumentar a concentração de renda por meio do investimento em sistemas fictícios e desonestos nas bolsas de valores.

Já a outra crise, a ambiental, na qual um novo vírus (conhecido como Sar-CoV-2 ou Coronavírus) que se apresenta em animais selvagens contaminou humanos, vem causando colapsos dos sistemas de saúde, paralisia do sistema produtivo e mortes. Esta crise afetou gravemente a saúde pública e a economia de países da Ásia, Oceania e Europa, chegando com grande poder de impacto nos países da América Latina, América do Norte e África.

Entretanto, é imprescindível lembrar que o Coronavírus não surgiu por acaso. Suas raízes estão ligadas às formas de reprodução atual do capitalismo, que ocorre mediante a exploração intensa e insustentável dos recursos ambientais, precarização do trabalho e desregulamentação das legislações de proteção à vida humana, ao meio ambiente e ao trabalhador e trabalhadora.

A intensa exploração e destruição da natureza, dos habitats, dos biomas utilizados como matéria-prima; a intensa poluição do ar, das águas e do solo pelo sistema produtivo urbano, rural e no campo; o aquecimento global; o degelo de estruturas glaciais seculares; o aquecimento e dessalinização dos mares e oceanos são alguns fatores que nos indicam que a crise ambiental provocada pelo Coronavírus será, mediante a sociabilidade capitalista que vivemos, apenas a primeira grande catástrofe ambiental planetária deste século.

Inicialmente, o COVID-19 se apresentou na grande maioria dos países como uma doença que afeta os mais ricos, por seus privilégios de poder fazer viagens internacionais. Posteriormente, começou a atingir com maior gravidade a classe trabalhadora, que se depara com a impossibilidade de se isolar diante da continuidade do cumprimento da jornada de trabalho, além de estar submetida a precários serviços de saúde pública – desmantelados por políticas neoliberais, e, muitas vezes, por questões financeiras, tem dificuldades até mesmo de fazer a prevenção básica à infecção.

Porém, a debilitação da classe trabalhadora com o vírus compromete profundamente todo o sistema produtivo capitalista e, consequentemente, a mais valia ou a exploração da nossa mão de obra para o lucro. E isso comprova a tese marxista do poder revolucionário da classe trabalhadora, que aborda a capacidade desse grupo de mudar o sistema imposto.

Mesmo na atual conjuntura, marcada pela robotização do trabalho, pela precarização das relações trabalhistas, pela tentativa de entregar todo patrimônio público às empresas privadas, Estados capitalistas vêm sendo obrigados a procurar alternativas que superem o neoliberalismo. Nos Estados Unidos, por exemplo, país que sempre teve orgulho em propagar a falsa ideia de que “o capitalismo dá certo”, o governo norte-americano aprovou medidas como o fornecimento de testes gratuitos de coronavírus, subsídios por doença e licença paga, além de reforçar o seguro-desemprego para milhões de americanos.

As crises apontadas e seus resultados nos coloca diante de uma encruzilhada histórica, diante da qual nos perguntamos: para onde queremos ir? Os exemplos de trabalhadores no Chile, na França e na Itália, que se unem na luta para se proteger do cenário assustador, nos provam que há condições para a formação de consciência de classe entre trabalhadores e trabalhadoras, indicando a pavimentação de um novo caminho mais justo e igualitário.

Para isso, faz-se necessário que organizações sociais, sindicatos e partidos populares e democráticos se unam nacional e internacionalmente, escancarem o projeto de concentração de renda, miséria e exploração do neoliberalismo; aprofunde as críticas à sociabilidade capitalista e comecem, de fato, a produzir e divulgar um projeto alternativo de sociabilidade democrática, sustentável e socialista que demonstre sua possiblidade de implementação.

*Henrique Rodrigues Torres é professor de Geografia da Secretaria de Educação do DF, filiado ao SINPRO-DF e Secretário de Meio Ambiente da CUT-DF

Fonte: CUT-DF

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