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Entrevista com Vicente Faleiros

Em 1991 a ONU (Organização das Nações Unidas) instituiu o 1º de outubro como como o dia internacional do idoso. No Brasil, em 1999, o Senado Federal estabeleceu 27 de setembro como o dia nacional do idoso. Ambas as datas são momentos de reflexão sobre os direitos e dificuldades vividas pelos idosos.

Para ajudar o PT nessa reflexão fomos conversar com o companheiro VICENTE FALEIROS que tem dedicado parte do seu tempo e da sua experiência ao tema.

Vicente Faleiros é militante dos direitos humanos, assistente social, doutor em sociologia e professor emérito da Universidade de Brasília.

“Dia da pessoa idosa é todos os dias e por muitos anos. Envelhecemos todos os dias e quando nos damos conta foram anos de vida. Aos 60 anos completamos 21.900 dias. O desejo não se conta por dias. O amor não se conta por dias. Os direitos não se contam por dias. São permanentes na vida e na velhice. Que permaneçam e se fortaleçam o desejo, o amor e os direitos em todas as vidas e sejam comemorados no dia internacional da pessoa idosa”.
Vicente Faleiros

P – Há de fato uma preocupação geral com a pessoa idosa?

FALEIROS – A velhice tem uma representação ambivalente, por um lado como peso e inutilidade, e por outro, como afetividade, avosidade , reverência. Mesmo na família observa-se essa dupla percepção de carinho e de peso, com vinculação à história familiar. Para os neoliberais , como Paulo Guedes, e negacionistas como Bolsonaro, a velhice é peso e gasto para a Previdência Social, devendo os velhos morrerem, negando-se a vida, a cultura, e mesmo a importância dos idosos na economia pelo consumo e a movimentação dos fundos previdenciários para a economia e o sistema financeiro.

P – Dá para se notar essa preocupação em relação a direitos e políticas públicas para idosos e idosas?

FALEIROS – As políticas públicas para pessoas idosas são conquistas do direito de envelhecer bem, variando de um país a outro. O tripé da seguridade social com seguro pré-pago, saúde universal e transferência de renda na assistência social existe nos países onde os movimentos ou partidos dos trabalhadores tiveram poder. O capitalismo, nesse caso, viu que os fundos públicos também contribuem para um mínimo de bem- estar, o consumo e a legitimação do sistema.

P – Nesse contexto de pandemia falou-se muito em prioridade na atenção aos idosos, mais vulneráveis ao vírus. Na sua opinião, foi dada mesmo essa atenção aos idosos pelas autoridades brasileiras?

FALEIROS – Na Europa e nos Estados Unidos a morte de pessoas idosas foi assustadora principalmente nos abrigos e pelas comorbidades. No Brasil a maior proporção de mortos pela Covid é de pessoas idosas. No Brasil, Bolsonaro negou a vacinação. A prioridade para essa faixa etária é fruto da constatação da dura realidade, da ciência e da visão da proteção social à população com maior vulnerabilidade. É triste ver como certas elites se mexeram para se proteger primeiro em detrimento dos outros, como se viu em Belo Horizonte, por parte de
Juízes e políticos.

P – No mundo, as pessoas estão cada vez mais tendo uma longevidade maior. Os idosos estão se organizando melhor para conquistar direitos e qualidade de vida?

FALEIROS – A mobilização pelos direitos das pessoas idosas, como mostra meu livro A Política Social do Estado Capitalista, durante a grande crise dos
Anos 30 e influência da economia keynesiana e da grande guerra, promoveu a implantação de fundos públicos para proteção da velhice, do desemprego, da doença, de acidentes, com muita resistência dos liberais defensores do mercado. Hoje esses fundos públicos e a proteção social como direitos estão sendo ameaçados e
desmontados pelo capitalismo selvagem do neoliberalismo e governos aliados a ele.

P – Você é militante político e está militando também na organização dos idosos. Fale um pouco sobre esse trabalho.

FALEIROS – A luta pela democracia e pela igualdade desde a vida estudantil em 1962 me levou a ser considerado subversivo pela Ditadura de
64, a duas prisões no Brasil, ao exílio e a uma prisão no Chile. Voltamos com a Anistia e a luta continua no sindicato de professores universitários, nos movimentos pelos direitos de
crianças , idosos, loucos e no Partido.Hoje coordeno o Fórum dos Direitos da Pessoa Idosa do DF e contribuo para o Setorial da Pessoa Idosa.

P – Fala-se muito que o PT envelheceu porque de fato, muitos militantes e lideranças ficaram idosos. Causas e idéias envelhecem?

FALEIROS – Todos os partidos têm uma relação geracional entre fundadores e ingressantes novos . Faz parte do contexto e da dinâmica da história. A história do PT é de revolução na política das classes dominantes no Brasil e ainda lhes causa ódios por se contrapor à sua dominação. Essa necessidade da mudança é mais atual que nunca e agrega todas as idades, mas os caminhos precisam ser elaborados em
cada conjuntura numa aprendizagem entre gerações e no embate de ideias e estratégias. As forças das classes dominantes não dormem no ponto e apresentam o antiquado liberalismo como novidade e liberdade. A defesa das políticas públicas precisa estar aliada às demandas de igualdade e a lutas contra o corporativismo a corrupção , o patrimonialismo, e contra todas as formas de exclusão. São ideais de uma sociedade equânime para todas as gerações.

P – É possível ser idoso ou idosa e revolucionário ou revolucionária?

FALEIROS – A história dos partidos progressistas mostra a garra de muitos lutadores nas frentes de batalha pelos Direitos Humanos. Para citar um desses batalhadores lembro Nelson Mandela. É importante a presença e
a contribuição de todas as
gerações para a vitalidade do PT que uma organização viva e em movimento.

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