Esquerdista Pedro Castillo abre vantagem sobre conservadora Keiko Fujimori, que acusa partido rival de atrasar a contagem de resultados que poderiam favorecê-la
As eleições do Peru não terão um vencedor claro até o último minuto. A disputa é máxima, e a vitória será ganha voto a voto, mas, antes mesmo do fim do escrutínio, o candidato esquerdista proclamou a própria vitória. Com 98,3% das atas de votação no país processadas até as 7h56 desta quarta-feira, Pedro Castillo conta 50,206% dos votos contra 49,794% da conservadora Keiko Fujimori. A diferença é de 71.764 votos. O órgão eleitoral havia alertado que “o voto rural e o voto na selva” são os últimos a se refletir nos resultados —justamente os feudos favoráveis ao professor Castillo, enquanto o voto estrangeiro, também ainda por se contar integralmente, tende a favorecer a líder conservadora. Mesmo após o fim do escrutínio, dada a proximidade dos resultados, todos os olhares estarão voltados para as atas contestadas nas mesas de votação. A decisão final sobre eles caberá ao tribunal eleitoral.
A virada de Castillo na segunda-feira levou Fujimori a denunciar uma “fraude sistemática” na contagem dos votos, sem apresentar provas de irregularidades. Para Fujimori, o partido esquerdista Peru Libre desenvolveu “uma estratégia para distorcer ou atrasar os resultados que refletem a vontade popular”, para evitar urnas com tendência de maior votação para o Fuerza Popular não sejam contadas. Nesta terça, Jorge Salas, presidente do Júri Eleitoral Nacional do Peru, lamentou “mau favor” que se faz à democracia “ao falar de fraude que não existe”. “A fraude está na imaginação febril de alguém”, declarou.
O partido de Castillo também nega as acusações. “Rejeitamos as declarações da candidata Fuerza Popular, lembrando-lhe que o Peru Libre nunca recorreu à fraude eleitoral, pelo contrário, sempre foi vítima dela, e apesar de tudo que sabíamos enfrentar e vencer”, afirmou a sigla no Twitter.
Castillo, vencedor do primeiro turno (com 2,7 milhões de votos, 19%), liderou as pesquisas nos primeiros 15 dias, mas Fujimori voltou na última reta. Costuma-se dizer que no Peru o favorito nunca vence. A filha de Alberto Fujimori (1,9 milhão de votos no primeiro turno, 13%), autocrata que governou o país entre 1992 e 2000, ficou bastante em evidência desde que conseguiu passar para o segundo turno. A qualquer momento em que a televisão era ligada, a candidata de 46 anos aparecia na tela vestida com a camisa do time peruano, seu uniforme de campanha. Painéis em todo o país lançaram mensagens a seu favor de uma forma indireta (embora muito óbvia) para contornar a lei eleitoral.
A exposição do rival, um sindicalista de esquerda radical, foi muito inferior a da adversária, em parte por opção. O professor de 51 anos mal deu entrevistas. Nos comícios, reclamou que a neutralidade que é assumida por alguns setores da sociedade não estava sendo respeitada. Seu maior esforço na reta final foi para tentar se afastar de Vladimir Cerrón, o presidente do partido Peru Libre, ao qual está vinculado, mais como convidado do que como verdadeiro militante. Cerrón é um esquerdista dogmático e próximo de Cuba e da Venezuela. No último debate, ele insistiu que respeitará a propriedade privada e a economia de mercado, a despeito do que diga seu adversário. Castillo tentou no último minuto atrair um eleitor mais focado e urbano, que pode se sentir tentado a votar em Fujimori como o mal menor.
Fonte: El País