“Se já fizemos muito, é preciso fazermos muito mais. Indignar, cobrar, pressionar, denunciar, punir não são simples verbos. São palavras que, se conjugadas, tem o poder para continuar o processo de transformação já deflagrado”, afirma em artigo.
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“Nesta última semana a ONU divulgou uma pesquisa que revela que em cada três mulheres no mundo uma foi vítima de violência doméstica; ou seja, teve a sua vida, liberdade e direitos violados por outra pessoa. Essa realidade deveria indignar os outros dois terços da população mundial. A violência doméstica é fruto da construção da mulher como uma pessoa inferior que deve ser subordinada ao outro, que pode ser oprimida e privada de direitos.
A emancipação da mulher a partir dos anos 1960, com sua saída do espaço doméstico para ocupar o mercado de trabalho, criou novas obrigações que foram somadas às tarefas domésticas como o cuidado com a casa, os filhos, os doentes, a família. A igualdade, o reconhecimento dela enquanto sujeito autônomo com vontades e necessidades próprias, a responsabilização dos homens na divisão do trabalho doméstico não acompanharam a nova situação de organização da sociedade, o que resulta, ainda hoje, em práticas criminosas contra a manifestação de seus direitos.
Nesse contexto, a violência permanece em todas as classes sociais. É preciso promovermos uma mudança cultural. Construir socialmente um novo homem e uma nova mulher, uma nova relação com os direitos humanos das mulheres, liberdade de escolha e respeito à vida.
A violência marca a alma. Além do físico, há uma destruição psicológica. A vítima e a sociedade tratam muitas vezes o ato violento como culpa da vítima. Fica mais fácil (con)viver assim, sem ter que se posicionar. É preciso assumirmos que a culpa não é dela. É de todos e todas que se omitem. A vítima não é só ela. A vítima pode ser qualquer uma. Se já fizemos muito, é preciso fazermos muito mais. Indignar, cobrar, pressionar, denunciar, punir não são simples verbos. São palavras que, se conjugadas, tem o poder para continuar o processo de transformação já deflagrado.
Ao contrário do que diz o velho ditado, em briga de marido e mulher, se mete a colher sim.”
Laisy Moriére é secretária nacional de Mulheres do PT.