Balanços de 2022 avançam em relação a 2021, mesmo com salto de endividamento e inadimplência. “Enquanto a população sofre, os bancos lucram em várias pontas”, lamenta a presidenta do SPbancários
Após os quatro grandes bancos brasileiros com capital aberto na bolsa obterem em 2021 o melhor resultado nominal (sem considerar a inflação) já registrado, a temporada dos balanços do primeiro trimestre de 2022 começa com perspectiva de lucros ainda maiores neste ano. Bradesco e Santander apresentaram seus desempenhos nesta semana, enquanto Itaú e Banco do Brasil os divulgam na próxima.
O Bradesco (BBDC4) registrou lucro líquido contábil de R$ 7,009 bilhões no primeiro trimestre. A alta é de 13,9% em comparação com o mesmo período do ano passado (R$ 6,153 bilhões). No quarto trimestre de 2021, o banco registrou lucro líquido de R$ 3,170 bilhões, fechando o ano com acúmulo R$ 21,9 bilhões – 32% a mais que em 2020.
O lucro líquido recorrente (que desconsidera efeitos extraordinários) foi de R$ 6,821 bilhões, 3,1% a mais que nos primeiros três meses de 2021. Neste primeiro trimestre, o lucro do Bradesco é o maior para o período em valores nominais no setor de bancos e o nono em valores ajustados pela inflação, conforme levantamento de Einar Rivero com a plataforma das provedoras de informações TC/Economatica.
O resultado ficou acima do esperado pelo mercado, já que a expectativa era de lucro de R$ 6,737 bilhões, conforme pesquisa da agência Bloomberg. A expansão das margens do banco, em especial com clientes, e das receitas com serviços levou à alta.
Superlucros às custas do desemprego e da fome
Ao mesmo em que os bancos obtém superlucros durante a pandemia e a crise econômica, os brasileiros mais pobres, os trabalhadores, as famílias sofrem para sobreviver. A maior inflação em 28 anos atinge em cheio a vida dos mais pobres, com aumentos sucessivos dos preços dos alimentos, transporte e aluguéis.
Sem política industrial, por outro lado, o país é empurrado para a recessão, com desemprego crescente. As famílias brasileiras perderam renda e são vitimas da extorsão de juros de cartões de créditos, usados para comer. O salário mínimo foi congelado, sem aumento real.
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Inadimplência e endividamento movem os resultados
Satisfeito com os lucros, o Bradesco já se preocupa com a inadimplência. O índice de inadimplência da clientela em 90 dias cresceu 0,7 ponto percentual, a 3,2%, e o de 60 dias cresceu 0,7 ponto percentual, a 4%. O movimento acompanha a tendência generalizada no Brasil de Jair Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes.
Dados mais recentes da Serasa Experian apontam que o número de pessoas com o nome negativado subiu 1,2 milhão em dois meses e chegou a 65,2 milhões em fevereiro. Em março, o percentual de famílias com dívidas a vencer chegou a 77,5%, maior proporção na série histórica da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor da CNC (Confederação Nacional do Comércio). O índice estava 10,3 pontos abaixo há um ano.
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“A qualidade dos ativos dos bancos brasileiros provavelmente continuará a se deteriorar no primeiro trimestre, enquanto acreditamos que seu índice de inadimplência pode retornar ao nível pré-pandemia até o final de 2022”, afirma o banco de investimentos UBS BB em relatório enviado a clientes.
O agravamento do estado pré-falimentar das famílias, no entanto, não impediu que o Santander apresentasse lucro líquido gerencial de R$ 4,005 bilhões no primeiro trimestre de 2022, com alta de 1,3% em relação ao mesmo período de 2021 e de 3,2% em relação ao quarto trimestre de 2021. Ano passado, o banco lucrou R$ 14,98 bilhões.
“Nada mal para um país em recessão, que piorou a maioria de seus principais indicadores econômicos, com fechamento de empresas, aceleração do desemprego e alta no endividamento das famílias”, critica a presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Silva. “Tudo isso em meio à alta da inflação, com disparada dos preços dos combustíveis e da cesta básica.”
“É importante destacar que a deterioração do cenário econômico e social brasileiro com alta taxa inflacionária e elevação na taxa de juros ampliou o endividamento das famílias nos últimos meses. Mas para o Santander, os indicadores de inadimplência seguem em patamares inferiores ao período pré-pandemia”, prossegue Ivone.
O retorno sobre o patrimônio líquido do Santander ficou em 20,7%, patamar em que se encontra desde o quarto trimestre de 2018. O crédito à pessoa física alcançou R$ 212.347 milhões em março, aumento de 19,0% no ano. Os produtos que apresentaram as maiores contribuições positivas foram cartão de crédito (+30,5%), crédito pessoal/outros (+30,4%), crédito imobiliário (+15,2%) e consignado (+9,2%).
“Ou seja, cresceram linhas de crédito que potencializam o endividamento das famílias, mas que trazem lucro ao banco. Como exemplo podemos citar o juro médio do rotativo do cartão de crédito, que é de 346,3%”, observa a dirigente.
Para tranquilizar os acionistas, o banco ampliou as despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD) de maneira significativa. A alta foi de 24,9% em relação ao trimestre anterior e de 45,9% em comparação com o mesmo trimestre de 2021.
“Como se trata de uma provisão, não significa prejuízo. Parece muito mais um alerta para pressionar o Governo Federal a tomar medidas que favoreçam mais ainda os bancos”, aponta Ivone.
Entre essas medidas, a dirigente cita linhas de crédito e financiamento para empresas; ampliação da margem de crédito consignado aos aposentados e pensionistas do INSS; autorização para realização de empréstimos e financiamentos via crédito consignado para beneficiários do Benefício de Prestação Continuada (MP 1.106).
“E há ainda outra ação que beneficia os bancos, já mencionada e intencionada por Paulo Guedes, que é a ampliação de saques do FGTS para o pagamento de dívidas”, cita a presidenta do SPbancários. “Ou seja, enquanto a população sofre, os bancos lucram em várias pontas. Pode parecer choradeira, mas na verdade é puro lobby”, conclui.
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