Preso no dia 18 de março por participar de ato contra o presidente da República, à frente do Palácio do Planalto, em que uma faixa trazia os dizeres “Bolsonaro genocida”, o ativista Rodrigo Grassi continua cumprindo pena em regime semiaberto no Centro de Progressão Penitenciária do Distrito Federal, apesar da decisão judicial para que ele passe ao regime aberto. A audiência que confirmaria a mudança de regime, marcada para a última quarta-feira, 9, foi adiada para o próximo dia 16. Para protestar contra essa demora e as más condições da cadeia, Grassi, que é conhecido como Rodrigo Pilha, iniciou ontem greve de fome.
Na carta que enviou a amigos e parentes, o ativista justifica o protesto: “Tendo em vista que o Judiciário segue me proibindo de falar ,conceder entrevistas, e agora me mantém preso , mesmo eu tendo conquistado o direito ao regime aberto, optei por usar meu corpo e a resistência pacífica para protestar contra estes e diversos outros absurdos que seguem ocorrendo no sistema penitenciário do DF, por conta do autoritarismo policial e judicial”.
Ele denuncia no texto “maus-tratos”, “péssimas condições de cumprimento de pena” e “toda a sorte de violações de direitos humanos” na prisão.
Rodrigo Pilha fala, inclusive, de torturas que levam à morte dos presos. “A diretoria penitenciária de operações especiais (DPOE) é acusada de espancamentos gratuitos, mutilações e até de ser responsável pela morte de presos após a prática do procedimento chamado de ‘extração’ ou ‘guindar’ apenados”, escreve.
Menciona também “ameaças de castigo e agressão”, “xingamentos e maus tratos por parte de policiais penais”, como também “inquirições de apenados sem a presença da defesa”.
Além disso, relata que as celas e alas estão “hiperlotadas”, com “pessoas dormindo por cima das outras, e até no chão sujo em meio a baratas e escorpiões”.
Depois de preso por causa da manifestação em que Bolsonaro foi chamado de genocida, Rodrigo Pilha foi inocentado da acusação de crime contra a Lei de segurança Nacional, mas continuou preso por causa de duas condenações anteriores, por desacato e crime de trânsito.
A progressão para o regime aberto foi concedida ao ativista na terça-feira, 6.
A seguir, a íntegra da carta:
Queridos familiares e amigos, após refletir bastante na última madrugada de cárcere, decidi que inicio a partir de hoje uma greve de fome sem data para acabar.
Tendo em vista que o Judiciário segue me proibindo de falar, conceder entrevistas e agora me mantém preso, mesmo eu tendo conquistado o direito ao regime aberto, optei por usar meu corpo e a resistência pacífica para protestar contra estes e diversos outros absurdos que seguem ocorrendo no sistema penitenciário do DF, por conta do autoritarismo policial e judicial.
Bem mais que não desejar comer aquela lavagem que chamam de comida, entregue aos apenados, lá naquela espécie de campo de concentração contemporâneo chamado de “Galpão”, minha greve de fome tem o intuito de denunciar e chamar a atenção da sociedade para os maus-tratos, as péssimas condições de cumprimento de pena e toda a sorte de violações de direitos humanos que continuam a ocorrer dentro do sistema prisional do DF, sob a vista grossa de um Judiciário que muitas vezes lava as mãos, passa o pano e acaba sendo conivente com tais atrocidades.
Ameaças de castigo e agressão, xingamentos e maus tratos por parte de policiais penais, seguem ocorrendo, e inquirições de apenados SEM a presença da defesa (fato que só comigo , já ocorreu em três oportunidades),são práticas corriqueiras.
As celas e alas seguem hiperlotadas, com pessoas dormindo por cima das outras, e até no chão sujo em meio a baratas e escorpiões.
O banheiro mais parece uma pocilga e os banhos de sol são de meia hora apenas.
Castigos excessivos e por razões banais, com o mero intuito de causar a regressão penal dos presos, acabam por institucionalizar a tortura psicológica por parte do estado no cotidiano dos presídios.
A diretoria penitenciária de operações especiais (DPOE) é acusada de espancamentos gratuitos , mutilações e até de ser responsável pela morte de presos após a prática do procedimento chamado de “extração” ou “guindar” apenados.
Por fim, sei dos riscos que corro, mas estou convicto de que minha greve de fome é o mais acertado a se fazer neste momento, para trazer luz ao terror existente nos presídios do DF, e , lhes garanto que as mazelas do sistema prisional são bem mais radicais e maléficas à vida das pessoas do que a atitude que hoje adoto como forma de protesto.
Ante ao exposto e já que não me deixam falar, peço que FALEM POR MIM e divulguem ao máximo esta carta-denúncia, afim de que o maior número de pessoas saibam da barbárie que hoje impera no sistema prisional do DF.
“… podem me prender, podem me bater, podem até me deixar sem comer, que eu não mudo de opinião…”
Com os versos de protesto do sambista idealizador da “Voz do morro”, Zé Keti, me despeço agradecendo a todas e todos por todo apoio e carinho recebidos até aqui.
Um forte abraço e hasta la Victoria siempre!!!
Com carinho,
Rodrigo Pilha
Fonte: UOL