Por Erika Kokay, deputada federal PT-DF
A situação das mulheres no Distrito Federal é um retrato da falta de políticas adequadas em todo o território nacional. De acordo com estudo sobre paridade de gênero do Fórum Econômico Mundial, o Brasil ocupa a 95ª posição entre 149 países pesquisados. Quando os temas analisados se restringem à participação na economia e à equidade de salários entre homens e mulheres em trabalhos similares, a situação piora e o nosso país fica na posição 132.
Esse estudo fala muito sobre a situação brasileira e a realidade da capital da República. Outros estudos, da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), mostram que, historicamente, as mulheres têm mais dificuldades para se inserir no mercado de trabalho e, quando conseguem, sofrem desvantagens em relação aos homens. No DF, representamos 52,19% dos habitantes, mas no mercado de trabalho somos apenas 48,2% da população economicamente ativa e 55,2% das pessoas desempregadas.
Nos últimos cinco anos, a situação se agravou ainda mais. A geração de oportunidades se mostrou insuficiente ao número de trabalhadoras, o que gerou o aumento da quantidade de desempregadas. A constatação dos estudos é a de que as mulheres têm 21,4% menos chances do que os homens de ingressar no mercado de trabalho no Distrito Federal. Essas dificuldades se amparam em bases culturais patriarcais, como a de que o homem deve sustentar a família enquanto a mulher precisa cuidar do lar.
Por isso as mulheres (91,8% delas) ainda se dedicam mais aos afazeres domésticos do que os homens (73,1%). Dessa forma, precisam se adequar a dois, três turnos de trabalho para dar conta da atividade profissional e do cuidado com a família. Quanto mais baixa é a renda familiar, maior é essa realidade.
Aquelas que conseguem um emprego precisam lidar com as diferenças de tratamento no ambiente profissional, como o assédio contínuo e as desigualdades de oportunidades e de salários. Dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego do DF mostram que os homens recebem em média 25,3% a mais do que as mulheres.
Para mudar essa realidade, precisamos ampliar o número de políticas públicas para impulsionar a inserção, a permanência e a ascensão das mulheres no mercado de trabalho. É necessário promover a qualificação e a capacitação profissional e aumentar a oferta de crédito. Outro ponto importante é melhorar a oferta de creches e de escolas de tempo integral, principalmente para as famílias de baixa renda.
É preciso lutar pela emancipação feminina a partir da construção de uma cultura de equidade de gênero. A nós deve ser garantido o acesso ao conjunto de nossos direitos e a todas as políticas públicas, de forma que cada uma exerça o domínio sobre sua própria vida, com liberdade e independência.
Acima de tudo, o Estado precisa garantir às mulheres segurança para exercerem essa liberdade e independência. Precisa agir de forma contundente, porque, infelizmente, a violência contra a mulher é uma das principais causas de morte e motivo de traumas e comprometimentos físicos, mentais e psicológicos. Essa violência atinge cidadãs de todas as classes sociais e pode acontecer em qualquer lugar, principalmente dentro do próprio lar, uma vez que grande parte dos crimes é cometida por homens que convivem com a vítima.
Para enfrentar essa situação, é importante que o Estado invista na consolidação de uma rede de atuação articulada entre os serviços governamentais de forma a dar maior qualidade e efetividade na prevenção, na assistência e na garantia dos direitos das mulheres em situação de violência e vulnerabilidade. É triste ver que uma estrutura como a Casa da Mulher Brasileira tenha ficado fechada por mais de dois anos no Distrito Federal, sendo reaberta recentemente ainda de forma parcial e limitada.
Por todos esses pontos, afirmo que o Governo do Distrito Federal não pode mais fechar os olhos para a realidade das mulheres. De nada adianta manter uma secretaria de Estado na estrutura de governo se não há investimentos e políticas públicas adequadas. Precisamos de governantes que se preocupem de verdade com todos os segmentos da população e que, principalmente, estejam atentos para reparar as injustiças e desigualdades estruturais da nossa sociedade.