O Brasil caiu 26 posições em 15 anos em ranking global de igualdade de gênero divulgado nesta quarta (31) pelo Fórum Econômico Mundial (WEF). Entre 156 nações avaliadas, o país ocupa agora a 93ª posição (dados de 2020). No levantamento divulgado em 2006 (dados de 2005), o Brasil era o 67º.
A conquista de espaço pelas mulheres nesse período variou muito de acordo com cada área avaliada pelo ranking. As piores perdas de posição aconteceram na participação política, em que o Brasil caiu de 86º para 108º, e na igualdade econômica, na qual desceu de 63º para 89º.
Houve avanço na posição relativa em educação: da 74ª posição para a 37ª. Na área de saúde, que avalia sobrevivência ao nascer e expectativa de vida, o Brasil manteve sua condição de igualdade quase total entre gêneros, dividindo o topo do ranking com vários outros.
Na média, considerando apenas sua própria pontuação, sem compará-la com a de outros países, o Brasil teve uma leve melhora na desigualdade: passou de 0,654 pontos, em 2006, para 0,695 (nessa graduação, 0 significa desigualdade total e 1, igualdade).
Ou seja, se houvesse uma corrida para chegar à igualdade de gênero, o Brasil teria percorrido 69,5% do caminho até agora, um avanço de 3,9 pontos percentuais em 15 anos. No entanto, outros países aceleraram muito mais no tratatamento igual a homens e mulheres, ultrapassando os brasileiros no ranking.
Das quatro áreas analisadas, educação é a única em que as conquistas masculinas e femininas estão em pé de igualdade. São avaliadas as porcentagens de homens e mulheres alfabetizados e matriculados no ensino primário, secundário e superior. A não ser no ensino primário, em que a parcela de mulheres é levemente inferior (94,7% a 94,8%), elas superam os homens nos outros quesitos.
A igualdade nesse quesito, porém, não significa que as condições para a educação feminina sejam ideais, mas que problemas que atingem homens atingem também mulheres, mas em menor grau. Isso fica claro, por exemplo, nas porcentagens de matriculados no ensino secundário (83,2% delas contra 80,3%) e mais ainda (59,5% a 43,5%).
O pior desempenho brasileiro é em participação política, que leva em conta a porcentagem de mulheres no parlamento, em ministérios e o número de anos sob o governo de uma mulher nos últimos 50 anos. O Brasil está em 122º lugar entre os 156 países no número de mulheres eleitas para o Congresso e em 120º em relação à participação em ministérios.
A situação só não é pior por causa dos seis anos de presidência de Dilma Rousseff (de 1º de janeiro de 2011 a 31 de agosto de 2016), que colocaram o Brasil na 27ª posição no ranking nesse item. Mas, de forma geral, a pontuação brasileira em igualdade política é 0,138: só 13,8% do caminho até a igualdade foi percorrido.
De forma global, a análise do WEF reflete o forte impacto da pandemia de coronavírus sobre a população feminina, algo que já apareceu também em outros levantamentos.
Isso acontece principalmente porque elas eram a maioria dos trabalhadores em setores mais afetados, como os de turismo, cuidados pessoais e educação, e também porque é sobre elas que recai o maior peso de estar fechada em casa, seja pelos trabalhos domésticos, seja pela exposição à violência.
“Mulheres perderam empregos muito mais rapidamente que os homens e estão sendo recontratadas muito mais lentamente”, afirmou Saadia Zahidi, diretora-executiva o WEF.
O Brasil foi citado como um dos países em que a população feminina foi mais profundamente afetada pela crise provocada pelo coronavírus por Natalie Lacey, executiva do instituto de pesquisa Ipsos, co-autor do estudo..
Em todo o mundo, a distância em relação à paridade aumentou 0,6 ponto percentual de 2019, antes da pandemia, para 2020. Se o caminho até a paridade fosse uma estrada, as mulheres teriam recuado alguns passos, para 68% do trajeto necessário.
O retrocesso parece pequeno, mas faz uma diferença grande no longo prazo. Pela trajetória atual, mais uma geração inteira terá que esperar antes que a lacuna entre gêneros seja fechada no mundo todo. Serão necessários agora 135,6 anos, contra 99,5 anos no último levantamento.
A lacuna econômica levará ainda mais tempo para ser fechada: 267,6 anos, se for mantido o ritmo atual. Nessa área, a boa notícia é que a proporção de mulheres entre profissionais qualificados continua a aumentar e há progresso em direção à igualdade salarial, embora em ritmo mais lento.
Por outro lado, as disparidades gerais de renda ainda estão a meio caminho de serem superadas e persiste a ausência de mulheres em cargos de liderança: elas são só 27% de todos os cargos de chefia.
O WEF ressalva ainda que os dados disponíveis para a edição de 2021 não refletem totalmente o impacto da pandemia: “As projeções para alguns países mostram que as disparidades na participação da força de trabalho cresceram desde o início da pandemia, e a diferença pode ser até 4% maior que a relatada”.
Assim como no Brasil, poder político é a maior lacuna: nessa rodovia, as mulheres só andaram 22% do caminho até agora e também caminharam para trás no último ano: em 2019, elas estavam em 24,4%.
Entre os 156 países abrangidos pelo índice, as mulheres representam apenas 26,1% de cerca de 35,5 mil assentos no Parlamento e apenas 22,6% de mais de 3.400 ministros. Em 81 países, não houve uma mulher chefe de governo ou de Estado considerando os 50 anos até 15 de janeiro de 2021. Do lado positivo, dois países elegeram sua primeira premiê mulher: Togo, em 2020, e Bélgica, em 2019.
O relatório mostrou que lacunas de gênero estão quase fechadas em desempenho educacional, saúde e sobrevivência. Em nível de escolaridade, de forma geral as mulheres já andaram 95% do caminho e em 37 países, atingiram a igualdade.
“Mas a ‘última milha’ de progresso está avançando ainda são necessários mais 14,2 anos para fechar completamente essa lacuna”, diz o WEF.
Na área de saúde, 96% da lacuna já foi eliminada, mas, como não houve avanço em relação ao ano passado, não é possível estimar em quanto tempo ela será totalmente eliminada. Os autores do estudo ressaltam que, tanto em educação quanto em saúde, embora o progresso seja maior do que para economia e política de forma global, “há importantes implicações futuras de interrupções devido à pandemia, bem como variações contínuas na qualidade de renda, geografia, raça e etnia”.
Folha Uol