Em um gesto de apoio à Venezuela, o Governo argentino anunciou a retirada do Grupo de Lima, criado em 2017 para acompanhar a oposição venezuelana na procura de uma solução à crise social, política e econômica. A decisão do Executivo peronista de Alberto Fernández rompe com a política de isolamento a Nicolás Maduro promovida por seu predecessor, Mauricio Macri. Através de um comunicado, a Chancelaria argentina disse que as ações promovidas pelo Grupo de Lima para “isolar o Governo da Venezuela e seus representantes não levaram a nada” e na “participação de um setor da oposição Venezuela como mais um integrante”.
A Argentina reiterou sua aposta por um “diálogo inclusivo que não favoreça nenhum setor em particular, mas sim obter eleições aceitas pela maioria com controle internacional” e frisou a responsabilidade de Maduro para que esse diálogo seja produtivo e inclua a oposição e setores sociais como a Igreja, empresários e ONGs.
“Em um contexto em que a pandemia fez estragos na região, as sanções e bloqueios impostos à Venezuela e às suas autoridades, assim como as tentativas de desestabilização ocorridas em 2020, só agravaram a situação de sua população e, em particular, a de seus setores mais vulneráveis”, destaca o documento. “A Argentina continuará sustentando seu compromisso com a estabilidade na região, e procurará encaminhar soluções pacíficas, democráticas e respeitosas da soberania e dos assuntos internos de cada Estado”, conclui.
Uma decisão previsível
A tensão entre o Governo de Fernández e os outros 13 países participantes do Grupo de Lima aumentava desde sua posse, em dezembro de 2019. Em outubro, a Argentina já havia se negado a assinar o pronunciamento do Grupo em que rechaçavam as eleições convocadas por Maduro e mantinham o apoio a Juan Guaidó. A Argentina chamou à época o líder oposicionista como “um suposto mandatário ao que a Argentina não reconhece e que nunca teve o exercício efetivo do Governo da República Bolivariana da Venezuela”.
A mudança da política de Fernández em relação à Venezuela já havia deixado o Brasil como o principal defensor da linha dura contra Maduro no Grupo de Lima. Além destes dois países, fazem parte o Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru, Guiana e Santa Lúcia. A Bolívia não fez parte do núcleo fundador do Grupo de Lima, mas entrou após a queda de Evo Morales em 2019. Na quarta-feira, o chanceler da Venezuela, Jorge Arreaza, se reuniu em La Paz com representantes do novo Governo de Luis Arce como primeiro passo para o restabelecimento das relações diplomáticas.