A economia em tempos de pandemia

Júlio Miragaya é ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil


A pandemia da covid-19, que fechará a semana com cerca de 1,4 milhão de infectados e 60 mil mortos no Brasil, terá impacto devastador sobre a economia nacional, podendo o PIB sofrer uma retração de até -10,0%. No Distrito Federal as consequências na economia também serão expressivas, embora com características distintas de outras Unidades da Federação, em face às características peculiares de nossa estrutura econômica.

O impacto no PIB local deverá ser um pouco mais brando do que no restante do país. Aqui, o setor público responde por cerca de 50% do PIB, e ele não deverá registrar grande contração. Do mesmo modo, a indústria de transformação, bastante abalada em todo o país, tem no DF peso reduzido (3% do PIB). Impactos maiores terão os setores de serviços privados (45% do PIB) e a da construção civil (5%), fortemente afetados pela paralisação de suas atividades produtivas.

A enorme presença de pequenas e microempresas e o alto grau de informalidade nas relações de trabalho deverão ter forte impacto nos níveis de desemprego, que já excede 330 mil. Se considerada a Região Metropolitana, este contingente salta para 550 mil.

O impacto na renda tende a ser contundente. Desde 2015, havia sido retomado o aumento na distância entre os extremos dos extratos de renda no DF (que estava em queda desde 2004). E isto tende a se acentuar neste período, pela redução no rendimento das famílias mais pobres, concentradas no mercado de trabalho informal (assalariados sem carteira, domésticas, autônomos, etc). Dessa forma, a tendência é de que a concentração de renda aumente no DF.

Já o impacto na receita deverá ser um pouco menor, visto que o orçamento local é menos dependente de receitas vinculadas a atividades produtivas e as receitas patrimoniais têm peso relativo maior do que em outras UFs. O Fundo Constitucional do DF deve sofrer forte contração em 2021, pois em sua composição estão o Imposto de Renda e o IPI, firmemente afetados pela crise.

Neste cenário, ações emergenciais deveriam ser adotadas pelo GDF, como a disponibilização de financiamento para as micro e pequenas empresas, buscando recursos no BNDES e em outros bancos oficiais, com o BRB criando um fundo de aval e entrando como parceiro avalista e um programa emergencial de obras públicas, organizando frentes de trabalho direcionadas para obras de infraestrutura urbana.

(*) Ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia

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