*Gleisi Hoffmann
O golpe executado por Michel Temer e seus apoiadores tinha como objetivos desmontar o Estado brasileiro e sepultar as políticas sociais implantadas nos governos Lula e Dilma. O presidente golpista se aproveita da aliança espúria construída com setores obscuros do Congresso Nacional para avançar sobre direitos de trabalhadores e congelar qualquer tipo de investimento destinado à melhoria da vida dos mais pobres. O derradeiro capítulo dessa farsa se deu na última quarta-feira, quando Temer foi absolvido da denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal, que indicava o recebimento de uma mala – que foi filmada, diga-se de passagem – com R$ 500 mil, apreendida junto a um assessor direto do presidente. Em vez de se defender da acusação, o peemedebista fez um pronunciamento à nação justificando o apoio do Congresso Nacional como saída para a crise econômica do País.
O que Temer não explicou aos brasileiros foi o custo da operação abafa colocada em marcha para salvá-lo. As contas mais otimistas indicam a negociação de cerca de R$ 14 bilhões em recursos destinados aos parlamentares em troca de votos no plenário – cerca de R$ 10 bilhões foram usados para quitar dívidas dos ruralistas, que têm uma bancada forte e bastante organizada dentro do Congresso Nacional. A compra dos votos foi descarada, com ministros saindo de seus gabinetes para negociar recursos às claras, sem pudor nenhum e sob o cúmplice silêncio dos que outrora diziam lutar contra a corrupção.
O governo promoveu cortes em áreas sociais, mas também avança sobre setores sensíveis, caso da pesquisa científica. Até o momento, calcula-se uma redução de 44% das verbas, o que afeta estudos sobre doenças como Alzheimer e Parkinson, agricultura e até o programa espacial brasileiro. Segundo um grupo de professores de Brasília, já foram bloqueados R$ 11 bilhões das universidades federais desde 2015, levando a suspensão de atividades de campi já em setembro, por falta de dinheiro para custeio.
Foi para isso que Temer e seus apoiadores deram o golpe? A base de sustentação do governo atual é a mesma que elegeu Eduardo Cunha e Rodrigo Maia para a presidência da Câmara, e que um jornal britânico classificou de hostil e manchada por corrupção. Pois são esses que não se envergonham dos R$ 14 bilhões em emendas para salvar o chefe, que agora tramam nos bastidores as mudanças na previdência social que, mais uma vez, castigarão os mais pobres, e passarão bem longe da aristocracia do serviço público.
Um ano depois da farsa do impeachment, começa a ficar claro que o discurso sobre ajustes e equilíbrio das contas públicas não passou de conversa fiada. Com sua política econômica equivocada, que beneficia os mais ricos em detrimento aos mais pobres, Temer não está apenas quebrando o Brasil. Ele está destruindo o sonho e autoestima de milhares de brasileiros que até bem pouco tempo passaram a ter acesso a direitos básicos, como financiamentos estudantis e programas de moradia e assistência social. Já está na hora de o Congresso Nacional entender que os humores estão mudando, e que em breve não será mais possível esconder a negociata com o Executivo debaixo do tapete. Quem já comeu três vezes por dia não aceitará a retirada deste direito mínimo.
*Gleisi é Senadora e presidente nacional do Partido dos Trabalhadores
Artigo publicado originalmente no portal Brasil 247
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