BALANÇO ELEITORAL: AVANÇA O BRASIL, AVANÇA A AMÉRICA LATINA

A furiosa reação conservadora à reeleição de Dilma decorre das profundas mudanças que estão em curso no País e na América Latina. Há uma clara interface nas recentes vitórias eleitorais no Brasil, na Bolívia e no Uruguai. Neste último, a esquerda, representada pela Frente Ampla e pela candidatura de Tabaré Vasquez à Presidência da República, confirmará a vitória no 2º. turno, no próximo dia 30.

As massas latinoamericanas assumem o processo eleitoral como um instrumento seu, de classe, para avançar nas suas conquistas, cortando os laços de dependência com as grandes potências capitalistas e construindo a integração a partir dos interesses da classe trabalhadora. Um processo que reafirma, sobretudo, a perda da hegemonia social do sistema capitalista.  Desde o Golpe de 64, não se via mobilização de segmentos sociais fascistas neste País, como vem ocorrendo principalmente na capital paulista, região com grande influência da burguesia industrial paulista, rentistas, banqueiros e grandes investidores privados do campo e da cidade. Tomados pelo delírio de viabilizar um golpe empresarial-militar, como em 1964, esses setores tentam histericamente construir um 3º turno da eleição presidencial.

No caso das denúncias de corrupção na Petrobrás, a funcionalidade é dupla: ao mesmo tempo que investem em desgastar o PT e Dilma, buscam abalar a credibilidade de nossa gigante petroleira, uma estatal com potencial de crescimento ainda maior, agora com a exploração dos recursos da camada pré-sal. De forma escancarada, até organismos do aparato estatal dos EUA são usados para “fechar o cerco” sobre a Petrobrás.

O sistema capitalista, em sua fase moribunda, tem na corrupção um instrumento de sobrevida (lembrando que grandes empresas, como a alemã, SIEMENS, possuem dotações contábeis específicas para corromper governos) e aproveita a crise que ele mesmo cria com suas ações corruptas e corruptoras para “faturar duplamente”, solapando a credibilidade de uma Petrobrás, de olho na riqueza petroleira do País. Não é mera coincidência que, simultaneamente à “onda denuncista”, tenham barrado o Decreto de empoderamento dos conselhos populares (participação social), instrumentos mais eficazes no combate ao desperdício de dinheiro público que a ação dos chamados “órgãos de controle e fiscalização do Estado”.

Conclusão: a grande mídia e as classes dominantes adotam o discurso anticorrupção apenas como uma tática na disputa de classe, inconformados que estão com a quarta derrota eleitoral seguida para a Presidência da República e também com o crescimento da Petrobrás na era do pré-sal, que coloca o Brasil no patamar de potência petroleira mundial.

Construir e Consolidar a Frente de Esquerda

Para enfrentar a desesperada ofensiva da direita (o adjetivo “desesperada” não tem o sentido de menosprezar as ações reacionárias em curso pelo país) ressurge a proposta de constituição de uma Frente de Esquerda. Já apresentada há alguns anos por Lula, sem que a discussão tenha avançado, a proposta é agora recolocada pelo Governador do Ceará, Cid Gomes. É preciso discuti-la e viabiliza-la como uma necessidade urgente do processo de construção da unidade dos distintos setores da esquerda brasileira, ampliando-a em relação aos partidos e incluindo a “esquerda social”, representada pelos movimentos. Ou seja, além do PT e demais partidos da esquerda e do campo democrático-popular, essa Frente deve incorporar sindicatos e movimentos populares e sociais como instrumento estratégico das transformações anticapitalistas que amadurecem na consciência do povo brasileiro.

Para dar consistência a essa nova geometria política, construir um programa de transição que dê efetiva segurança para a base social trabalhadora que se reafirmou na reeleição de Dilma, mas também aos milhares que se abstiveram, votaram nulo ou branco, mas que também apoiam o aprofundamento das mudanças por meio da implantação de um modelo alternativo ao capitalismo dominante. A implantação desse modelo, deve vir coordenado com os mecanismos regionais e mundiais de integração existentes: Mercosul, Unasul, Celac, G-20 e BRICS, que dê conta de afirmar uma governança mundial antimperialista, com um novo padrão monetário e de validação de novas medidas de valoração do comercio internacional, baseadas no valor trabalho, na inclusão e na solidariedade.

A demora em avançar para um novo modelo tende a abrir flancos no processo político, causando incertezas e propiciando a divisão política do campo progressista. Esse é o desafio que o Partido dos Trabalhadores tem pela frente. Nesse sentido, uma delegação de dirigentes do PT encontra-se na China. Oportunidades como essa permitem avançar na coordenação política internacional da classe trabalhadora,  abarcando as relações econômicas, culturais, mas sobretudo balizadas pelo entendimento político. Não há como fazer omelete sem quebrar os ovos! Ou seja, não há como construir um país justo, solidário, com distribuição de renda e igualdade de oportunidades, sem atingir esse patamar de ação política articulada mundialmente.

Os desafios políticos internos para o próximo período, como a eleição da Presidência da Câmara e a Constituinte exclusiva para a Reforma Política são parte dessa luta que é mundial.

Eleições no Distrito Federal

Temos que internalizar, no DF, essa relação de forças favorável em nível nacional, que permitiu a reeleição de Dilma, e assim reconstituir nossas forças depois da derrota eleitoral local em outubro. O PT-DF, apoiado nos 38% dos votos dados a Dilma no DF, no 2º. Turno, tem todas as condições de recuperar, em 2018, o espaço político-eleitoral perdido.

Os quatro anos de governo Agnelo mostraram, mais uma vez, que o tempo da política não necessariamente coincide com o tempo do relógio. O emperramento do governo nos dois primeiros anos consolidaram uma visão bastante negativa da população brasiliense, e que o bom governo dos dois últimos anos não foi capaz de reverter.

Temos que aprender nos dois níveis: com a vitória nacional e com a derrota local, mudando radicalmente o funcionamento partidário para que os milhares de militantes que saíram às ruas na campanha e que propiciaram, em Brasília, o diferencial de votos para Dilma do primeiro para o segundo turno (23% para 38%) sejam incorporados à vida interna partidária. Que as sedes e locais do PT nas cidades sejam espaços abertos à comunidade e que as ações da direção partidária e da bancada parlamentar se deem em harmonia com os anseios da base militante e partidária.

O legado do Governo Agnelo estará em disputa nos próximos quatro anos (os investimentos em educação, creches, saúde, moradia popular, transporte, transparência, nas carreiras dos servidores públicos, no turismo, na participação popular etc etc). Por outro lado, se o partido do governador eleito não mudar seu posicionamento nacional em relação ao Governo Dilma, só há uma opção no DF: militar na oposição ao governo Rollemberg.

Brasília, novembro de 2014.

 

Balanco eleicoes 2014

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