O projeto aprovado, de autoria de Vanessa Negrini, coordenadora do Setorial de Direitos Animais do PT, pretende investigar o mercado de carnes alternativas e carne animal produzida em laboratório, como alternativas para alimentar um contingente maior de pessoas, com menor impacto climático e em respeito aos direitos animais
Com o tema ‘Soluções alimentares para combate à fome diante do novo regime climático’, a fundadora e coordenadora nacional do Setorial de Direitos Animais do PT, Vanessa Negrini, teve aprovada sua proposta para pesquisa e produção de artigo científico, em edital do Instituto Lula, que selecionou 19 projetos, de seis diferentes temáticas.
O projeto de Vanessa se justifica pela necessidade de conhecer novas tecnologias capazes de suprir a demanda por proteína, com reduzido impacto ambiental, alimentando as pessoas com segurança nutricional, com benefício para a saúde humana e com respeito aos direitos animais.
Ela declarou ser “uma enorme responsabilidade e honra poder contribuir com o Instituto Lula em tema de tão grande relevância para a vida das pessoas humanas e não humanas. Nossos direitos estão conectados. Quando violamos os direitos animais, os humanos também acabam vítimas, seja pela proliferação de pandemia, efeitos climáticos e consequências na segurança e soberania alimentar”.
Vanessa Negrini é Mestre e doutora em Políticas de Comunicação e Cultura (UnB), professora da disciplina Mobilização Pública e Direitos Animais na Universidade de Brasília, coordenadora executiva do Núcleo de Estudos sobre Direitos Animais e Interseccionalidades (NEDAI/Ceam/UnB) e primeira suplente de deputada federal (PT DF).
Conforme o texto, apesar de o consumo de carne animal fazer parte da cultura e contribuir para o fornecimento de proteínas para a dieta humana, paradoxalmente, a pecuária industrial contribui para a redução da oferta global de água e alimentos, considerando a baixa taxa de conversão alimentar.
‘Para cada quilo de proteína animal produzido, os animais consomem em média seis quilos de proteína vegetal proveniente de grãos e forragem, além de 15 mil litros de água. Mais de 40% dos grãos mundiais são dados para os animais na produção industrial de carne. Embora só contribuam com um quinto das calorias consumidas pela população mundial, a carne e outros produtos derivados de animais são responsáveis por mais da metade das emissões de gases de efeito estufa, explica um trecho da proposta aprovada’, diz um trecho da proposta aprovada.
As demais temáticas abordadas no edital foram:
– Papel das empresas de tecnologia na cibersegurança internacional
– América Latina diante do deslocamento do centro dinâmico do Ocidente para o Oriente
– Soluções alimentares para combate à fome diante do novo regime climático
– Taxação e o fundo de combate à desigualdade e pobreza global
– Nova face da economia dos cuidados na Era Digital
– Desigualdades, identidades sociais e formas de organização e lutas na Era Digital
Cada pesquisador receberá uma bolsa de R$ 3 mil para a elaboração do artigo científico. Na seleção, foram avaliados também a titulação do autor, o ineditismo da proposta e demais trabalhos publicados.
Leia na íntegra a proposta de Vanessa, com o tema ‘Soluções alimentares para combate à fome diante do novo regime climático’:
Num mundo em que antes da pandemia de COVID-19 quase 690 milhões de pessoas estavam subnutridas (FAO, 2020), em que a COP26, conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, firmou que reduzir a emissão de metano em 30% até 2030 é medida imperiosa para a sobrevivência humana, urge investigar soluções alimentares para combater a fome, mas que também considerem os efeitos climáticos.
O consumo de carne animal faz parte da cultura e contribui para o fornecimento de proteínas para a dieta humana. No entanto, paradoxalmente, a pecuária industrial contribui para a redução da oferta global de água e alimentos,considerando a baixa taxa de conversão alimentar. Para cada quilo de proteína animal produzido, os animais consomem em média seis quilos de proteína vegetal proveniente de grãos e forragem, além de 15 mil litros de água. Mais de 40% dos grãos mundiais são dados para os animais na produção industrial de carne.
Embora só contribuam com um quinto das calorias consumidas pela população mundial, a carne e outros produtos derivados de animais são responsáveis por mais da metade das emissões de gases de efeito estufa. A indústria de carne responde por 57% das emissões da produção de alimentos, com quase 8 GtCO2e anuais. A produção de 1 kg de trigo libera 2,5 kg de GEE; já 1 kg de carne bovina joga na atmosfera cerca de 70 kg de GEE.
Neste contexto, o mercado de proteínas alternativas – produtos à base de plantas que imitam com cada vez mais perfeição o gosto e a textura de carne animal – e de carnes produzidas em laboratório – trata-se de carne animal de verdade, mas cultivada sem o abate de animais -, despontam como possibilidades para alimentar as pessoas, com qualidade nutricional, além de mitigar os efeitos no clima.
O cultivo de carne em laboratório começa a ganhar escala e variedade. Já é possível criar alimentos a partir de células de boi, frango, peixe, lagosta. Os ganhos em sustentabilidade são enormes: a tecnologia empregada no cultivo garante economia de 80% menos emissão de gases que causam efeito estufa; 96% de economia na água usado no processo; 99% de redução no uso de terras usadas para a pecuária.
O tema deste trabalho circunda o direito humano à alimentação, e dialoga com a percepção que direitos humanos de direitos ambientais e animais estão conectados. O objetivo deste trabalho é conhecer as soluções alimentares que despontam no mercado de carnes alternativas e carnes produzidas em laboratório; conhecer o conceito de carne alternativa, artificial, cultivada, sintética e in vitro; identificar os desafios técnicos e econômicos para a popularização das carnes alternativas e para a produção em grande escala da carne de laboratório; conhecer a opinião pública e o grau de aceitação dos consumidores. Na metodologia, para realização deste trabalho, passaremos por revisão bibliográfica, análise descritiva, entrevistas e questionário online. A fonte dos dados será primária nas entrevistas e questionários, e secundária na revisão bibliográfica.
PTDF