Amanda Jurno inicia o artigo com uma ótima explicação do papel das “Plataformas de todos os tipos (que) povoam nosso cotidiano – de saúde, transporte, trabalho, redes sociais compra, streaming. Elas organizam e disponibilizam dados e informações sobre os usuários e se oferecem enquanto infraestrutura para o funcionamento de empresas. Alcançam escalas enormes, coexistem e até mesmo suplantam antigas infraestruturas, inserindo sua lógica de produção, circulação e conhecimento nos mais diversos setores sociais, em um processo chamado “plataformização””. (p. 47)
As plataformas digitais têm um papel fundamental sobre os consumidores. Utilizando à larga os algoritmos que têm como objetivo “poder de prever e moldar” nosso comportamento. Extrai bilhões de dados dos consumidores que servem para estabelecer perfis do comportamento dos usuários que são vendidos no mercado para empresas compradoras. (p. 47)
Há uma dificuldade em compreender o conceito de algoritmo. Segundo a Wikipédia: “Em matemática e na ciência da computação, o algoritmo é uma sequência finita de ações executáveis que visam obter uma solução para um determinado tipo de problema. Segunda Dasgupta, Papadimitriou e Vazirani, “algoritmos são procedimentos precisos, não ambíguos, padronizados, eficientes e corretos”. São: finitos – o algoritmo deve eventualmente resolver o problema; bem definidos – os passos devem ser definidos de modo a serem entendidos; efetivos: deve sempre resolver o que tem para solucionar, antecipando falhas. (em: Wikipédia, acesso em 29/09/2021).
Continuando o artigo de Amanda Jurno, “Mais do que intermediários que veiculam conteúdo e possibilitam serviços, por trás das interfaces visíveis elas são executadas por protocolos codificados, com interesses e valores embutidos, que direcionam o tráfego social, de acordo com seus modelos de negócio. Essa penetração das extensões econômicas, governamentais e infraestruturais das plataformas nos ecossistemas da web e aplicativos afeta fundamentalmente as operações das indústrias culturais. E, em processo imbricamento da sua lógica na produção de diversos setores sociais, que se dá de forma gradual, acabam compelindo governos e Estados a ajustar suas estruturas legais e democráticas.” (p. 47-48)
Os executivos afirmam que as plataformas são intermediárias e que, por isso, não interferem na vida dos consumidores. São explicações que visam esconder o importante papel ideológico das plataformas em prever e moldar os interesses dos consumidores. São, contudo, “máquinas complexas de visibilidade governadas por algoritmos (…) responsáveis por organizar, elencar e selecionar o conteúdo que será (in)visibilizado de acordo com regras e protocolos preestabelecidos.” (p. 48)
A autora afirma que “Os algoritmos das plataformas podem ser poderosas máquinas ideológicas que se escondem sob um mito de objetividade, camuflando ideais e preconceitos dos humanos que os projetaram.” (…) Como explica Joy Buolamwini (citado pela autora): “Tal como o preconceito humano, (o viés algorítmico) resulta em desigualdade. Porém, os algoritmos, assim como os vírus podem espalhar o viés em grande escala e rapidamente. Diferentemente das organizações humanas, não há como recorrer da sua decisão, o que faz seu poder ainda mais temível. Eles não se dobram, não dão ouvidos a apelações ou ameaças, e ignoram a lógica quando há razões para questionar os dados que alimentam suas conclusões. Vivemos hoje em uma realidade extremamente mediada por esses artefatos sociotécnicos, aos quais progressivamente são delegadas importantes decisões que nos afetam o tempo todo.” (p. 48-49 – negritos)
A grande maioria das plataformas tem como base “a versão brutal do capitalismo do Vale do Silício (na Califórnia), os algoritmos podem ser pensados como aparatos ideológicos que moldam nosso olhar cotidianamente com base nos valores caros e esse modo específico de produção.”
A autora afirma que “Partimos do conceito de “ideologia” de Göran Terborn, para que a operação da ideologia se dá pela constituição e padronização da vida dos humanos como seres conscientes e reflexivos em um mundo estruturado e significativo. Para o autor, a ideologia opera na constituição da subjetividade humana sob dois eixos: o “ser” sujeito humano e o “ser no mundo”. O primeiro eixo relaciona-se a uma dimensão individual e existencial; o segundo eixo ao mundo em que se está inserido de forma relacional. Como os algoritmos constituem infraestruturas informacionais com base em determinados pontos de vista humanos e históricos, e não de “lugar nenhum”, eles gradualmente participam, moldam e influenciam a ação desse “ser no mundo””. (p. 49, negrito nosso)
A seleção algorítmica realizada pelas plataformas se utiliza de algoritmos que são modelos matemáticos, empregados para enaltecer conteúdos bem como escondê-los. É a política que ao mesmo tempo expõe alguns conteúdos e também esconde aqueles que não são interessantes de se tornarem visíveis. Essa ação da visibilidade e invisibilidade “estão subjetiva e ideologicamente alinhados a quem os controla”. (p. 49)
Ademais, algoritmos são desenhado para alcançar objetivos e metas específicos que deve ser determinados de forma clara para que sua ação seja automática e satisfatória. Portanto, incorporam interesses expectativas de grupos específicos e, para compreendermos a sua ação, devemos questionar quem os desenhou e porquê. Como a maioria das plataformas tem sua base de negócios fundada na venda de anúncios ou de dados sobre seus usuários (ou uma combinação das duas), pela mediação algorítmica elas constantemente nos influenciam a permanecer por mais tempo em sua fronteira, gerando mais dados e sendo expostos a mais anúncios. (p. 50, negrito nosso)
A plataforma Facebook está baseada em três frentes como modelo de negócio: usuários, anunciantes e comerciantes e desenvolvedores. O maior fomento de renda é a de anunciantes e comerciantes, mas as três formam um todo e “se fundam nos dados dos usuários”. É com a captura de bilhões dados dos usuários que a plataforma pode organizá-los a fim de estabelecer perfis que identificam tipos de comportamentos. Esses perfis são vendidos à empresas que os utilizam para satisfazer, incentivar, moldar o comportamento dos usuários. Com isso, ganham muito dinheiro. (p. 50)
Amanda Jurno afirma “Por trás do mito da objetividade dos algoritmos, as plataformas influenciam e manipulam os conteúdos, os desejos e até mesmo as emoções dos usuários, tudo para que permaneçam por mais tempo interagindo com conteúdos, gerando dos dados e consumindo serviços e produtos dos anunciantes.” (p.50-51, negrito nosso)
A autora exemplifica a estratégia das plataformas da seguinte forma: “Por exemplo, ao descobrir “pessoas que gostam de batata frita” costumam gostar de “ler jornal em papel”, os algoritmos criam uma lógica pela qual oferecem produtos e serviços. Assim, quando alguém comprar batatas fritas no iFood, poderá receber uma propaganda com a oferta de assinatura de um jornal impresso.”
A autora afirma que, “Através desses vazamentos de dados, os algoritmos vão paulatinamente moldando o comportamento dos usuários. (…) Assim, nossas ações e interesses estão sendo contínua e paulatinamente induzidos por algoritmos em busca de produtos e serviços. (p. 51-52, negrito nosso)
Amando Jurno insiste que “Fazendo previsões, os algoritmos mostram produtos e serviços finamente direcionados para os nossos “interesses”, estimulando a compra e o consumo de acordo com nossas vidas particulares. Contudo, esses “interesses” são desejos algoritmicamente construídos, que não são personalizados, mas baseiam-se em padrões de um usuário “dataficado”.” (p. 52)
Estamos progressivamente sendo “programados”, tendo como referência o modelo algorítmico “para organizar e guardar nossos dados”. As plataformas procuram nos convencer de que essa “programação” de nossas vidas garante liberdade e democracia, mas ao vermos com clareza nossa situação, vemos que estamos submetidos aos interesses dos capitalistas do Vale do Silício na Califórnia (EUA). ( p. 52, aspas e negrito nossos).
Amanda Jurno conclui o artigo: “Assim, pelo funcionamento de aparatos ideológicos como as plataformas, os algoritmos não só inserem a lógica capitalista na nossa rotina, estimulando o consumo de conteúdos e produtos a partir de um conhecimento profundo de nossos comportamentos, mas também moldam nossos desejos a partir do que nos mostram e escondem com base em lógicas próprias ocultas. Por trás de linhas e linhas de zeros e uns comandos de programação e tabelas de dados, nossos gostos e acesso ao mundo têm sido moldados e influenciados pela ação dos algoritmos a partir do que eles definem como o nosso interesse.”
Fonte: http://tododiaedia.com.br/?p=1402