Não adianta o capitão se armar para uma guerra que já perdeu, a guerra pelo voto. Vai gastar retórica. A fala pueril, de almanaque, “quem quer paz se prepara para a guerra”, é mais um esforço estridente para mobilizar a sua tropa, que mingua.
Em vão.
A pacificação do país será um resultado da eleição de Lula no primeiro turno, em 2022. A constatação não é de um militante do PT, da “esquerda comunista”, ou de saudosistas do tempo em que a Lava Jato era sinônimo de garantia de honestidade na gestão pública. A fala é ouvida e dita nos corredores de uma entidade que atemoriza e que justifica políticas econômicas conservadoras, o tal “mercado”.
A conclusão não é resultado de súbita conversão de empresas e conglomerados financeiros a uma lógica que visa benefícios sociais e defesa do meio ambiente, da redução da pobreza e da construção de muros que impeçam práticas de malfeitos no trato da coisa pública. Não se trata de uma aversão do mercado à maneira desaforada como tem sido gerenciada a crise pandêmica, com consequências humanitárias, e a morte, evitável, de 580 mil pessoas no Brasil.
São as seguidas pesquisas qualitativas que vêm sendo realizadas. As amostras, em profundidade, verbalizam o desconsolo pela maneira como o capitão reformado tomou a Presidência da República. O cenário avaliado é de que se torna irreversível sua defenestração. E isso se dará mais cedo do que tarde. Não haveria segundo turno.
Circulam pelas redes de WhatsApp mais mensurações e têm elas o mesmo tom. Acelera-se a distância entre o capitão e Lula. A confiança em que surja um tertius, o tal terceiro nome que iria unir o país, não aparece como opção. Embora embalado pelo sonho de se tornar personagem com peso eleitoral nacional, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, não é reconhecido com qualquer potencial.
Ficará repetitivo, pela frequência e recorrência, que não se desmentem – o mais recente estudo, conduzido por uma instituição financeira, não deixa dúvida. A crescente rejeição ao capitão e a igualmente consistente perda de apoio também aparecem como um mantra.
Curiosamente, aqueles que hoje são mais identificados com o “mercado”, pelo nível de renda, correspondem ao grupo onde a rejeição ao capitão mais aumenta. E a perda de confiança contamina aqueles que eram tidos como devotos, o público identificado como evangélico.
A criação de factoides, de crises artificiais, produzidas no laboratório do ódio que cerca o capitão, e que dão o tom dos discursos que faz como uivos de bicho ferido, para mobilizar a milícia para o bote contra o estado democrático de direito, têm uma base na solidez do expurgo que vem vindo para desalojá-lo, sendo, e é sabido, o mais perverso ocupante do Palácio do Planalto.
Um legado vai se estabelecendo e contra o qual não haverá negacionismo ou narrativa de encomenda com poder para anular. Na conta do capitão: os mortos pela covid-19, enquanto vicejava a corrupção no Ministério da Saúde – bilhões reservados para a compra e de vacina que não existia. E tem: inflação – indo além do teto, seguindo a cartilha do Guedes, o mago da Economia que teria respostas, mas só apresenta tentativas canhestras para o país. Não acaba aí. Vem o racionamento de energia elétrica, com uma conta de luz cara, mas pela qual, segundo o mago-posto Ipiranga, “não adianta ficar chorando”. O preço do arroz, do feijão, do botijão de gás, da gasolina, e, “não adianta ficar chorando”.
A vocação por negar também deixará um legado histórico. A dizimação das matas, das florestas, da vegetação do Pantanal, a morte da milhares de animais sufocados pelo fogo, pela fumaça, pelo descaso e pela corrupção.
E tem o legado da destruição das universidades, do estrangulamento dos recursos para a ciência e para a cultura.
E não acaba ainda a destruição, como legado, do capitão. Neste momento, o pessimismo em relação ao futuro também é uma herança. O capitão produziu a descrença, junto com o discurso do ódio, a polarização que colocou uns contra os outros, pela disseminação de mentiras de fácil deglutição, pela simplória argumentação que envolve os ignorantes e acríticos.
Mas, se não é possível hoje olhar o país com orgulho de ser brasileiro, de ser brasileira, porque tem um representante que nos reduz no que somos, estamos também aprendendo que é possível dar uma volta nessa história. Não estamos condenados. Com manifesto ou sem manifesto público da Fiesp ou da Febraban, em favor da harmonia dos Três Poderes da República. Mesmo que o Paulo Skaf arregue, o mercado já sabe. Com o capitão não dá. E, pacificação tem nome: Lula.