Ciclo de debates promovidos pela SMAD-PT, com representantes de outros países, busca o combate à crise sanitária, econômica, política e ambiental no Brasil e no mundo
Desde abril, a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Partido dos Trabalhadores (SMAD-PT) promove ciclo de debates com diversos painéis sobre temas ambientais, políticos, sociais e econômicos para combater a crise climática no Brasil e no mundo.
O último encontro virtual trouxe ao PT a discussão de estratégias inovadoras sobre ações locais e impactos globais, com a participação de especialistas nacionais e internacionais.
Nilto Tatto, deputado federal (PT/SP) e secretário Nacional de Meio Ambiente do PT, abriu a discussão reforçando a importância de se construir um mundo mais justo e sustentável e falou do papel do partido de carregar o DNA ambiental desde a sua fundação, em 1980.
“Desde 2018, o PT tem a transição ecológica como uma de suas grandes prioridades, como eixo estruturante na construção de suas políticas. Em 2020, avançamos bastante na construção de um material que o partido sistematiza a cada dois anos, a partir das experiências de administração nas diversas esferas do governo. O tema assume um papel importante como ferramenta para reverter este momento de destruição social e ambiental, promovido pelo governo Bolsonaro”, destacou Tatto.
EUA de volta aos trilhos
David Livingstone, do gabinete presidencial especial para o Clima do Estados Unidos (EUA), afirmou que valoriza muito a relação com o Brasil e aprecia a oportunidade para desenvolver ações climáticas, uma economia mais limpa e uma transição energética necessária no mundo todo para evitar as mudanças climáticas.
Livingstone disse ainda que o Brasil e os EUA são grandes produtores agrícolas e de combustíveis. Portanto, possuem um significativo papel na descarbonização.
“Nosso objetivo se divide em três pilares: o primeiro é colocar os EUA de volta aos trilhos, exercer a liderança americana e liderar as ambições climáticas no mundo. Temos de arrumar a nossa própria casa. O presidente Biden se comprometeu com uma liderança forte na linha das mudanças climáticas, e assinou o documento que coloca os EUA de volta no Acordo de Paris. Nos comprometemos, até 2023, a reduzir as emissões de carbono em 50% a 52%, o que já melhora muito no compromisso feito por Obama”, explicou.
O representante americano afirmou que os esforços vão atingir todos os setores da economia americana como energia, agricultura e transporte. “Vamos gerar muitos empregos e avançar nos interesses de nossos aliados que têm ideias semelhantes”.
Além dos compromissos com o Marco do Acordo de Paris, os EUA tem ações complementares. Foi criado um plano de financiamento de clima para ajudar outros países a agirem contra a mudança climática. Segundo Livingstone, haverá o dobro de recursos com foco especial para a adaptação. A verba geral vai duplicar e, especificamente para adaptação, vai triplicar.
América Latina e Caribe
Camila Gramkow, doutora em economia e mudanças climáticas, comentou sobre a grave situação da crise social, sanitária e econômica que o Brasil, os países da América Latina e o Caribe passam.
“Essa crise chega na América Latina e Caribe em um momento, uma circunstância, de profundas brechas de desenvolvimento nos três pilares: econômico, social e ambiente. E isso significa que a amplitude desse evento se magnifica. Há aumento das desigualdades, da pobreza, o crescente efeito estufa e a destruição de florestas nativas”.
Conforma Camila, a pandemia tende a gerar uma adição de 22 milhões de pessoas em situação de pobreza nos países da América Latina e no Caribe, e no Brasil cerca de nove milhões a mais em situação de pobreza e mais de 500 mil em situação de pobreza extrema.
“É uma das facetas mais severas e cruéis da pandemia. Esse cenário nos mostra o quanto é urgente usarmos um novo estilo de desenvolvimento. Precisamos de uma recuperação transformadora, no sentido da sustentabilidade e da igualdade. O enfrentamento das emissões precisa ser coletivo, mundial”, ressaltou.
Desafios sociais
O especialista em desenvolvimento sustentável na Bélgica, Said El Khadraoui, comentou sobre o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que mostra mais uma vez que “estamos, sim, em meio a uma crise climática, e estamos nela juntos e todos precisam cooperar”.
Khadraoui enfatizou sobre a necessidade de analisar as intersecções entre meio ambiente e área social, sobre as considerações sociais. Ele explicou que o aquecimento global e a degradação gradual do meio ambiente, juntos, geram uma série de desafios sociais. “As pessoas mais vulneráveis sofrem, em primeiro lugar, e sofrem mais e isso acontece a nível global. É nos países mais pobres que vamos ver mais sofrimento com a mudança climática”.
Os segmentos mais ricos são os que mais contribuem com as altas emissões devido a seus padrões de consumo com grandes espaços de habitação, alto uso de energia, consumo, viagens de carro e aviões, segundo Khadraoui.
“Portanto, temos de absorver esses riscos sociais adicionais justamente para nos adaptarmos à nova realidade, que é um planeta em transição, mesmo que tenhamos ações rápidas, temos cada vez padrões mais disruptivos no clima. Agir não é uma opção, aqui nesse caso, mas tomar medidas ambiciosas por outro lado também provavelmente vai ter implicações sociais, porque os custos das políticas climáticas podem afetar os grupos vulneráveis mais do que os outros com a precificação, a externalidade de produtos e serviços, que é chave para mudar o comportamento das pessoas e obter o encerramento de práticas insustentáveis”.
China
A contribuição da China para a redução das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) foi o tema da fala do pesquisador do Instituto Tricontinental da China, Marco Fernandes. Ele destacou que a questão ambiental está no limite e que o surgimento de cada vez mais tragédias ambientais no mundo inteiro só vai ser resolver em um trabalho de cooperação.
Fernandes também disse sobre a importância do retorno dos EUA no Acordo de Paris, e sobre outro grande acontecimento quando, em setembro do ano passado, a China anunciou uma meta de atingir o pico de emissão de carbono em 2030 e a neutralidade da emissão em 2060.
“A China emite 28% do dióxido de carbono do mundo, mas ela produz 28% dos bens industriais do mundo, gerando a metade do carvão e do cimento utilizando no planeta. Então, a produção e a emissão da China não é responsabilidade somente dela, e também dos países (200 pelo menos) que se beneficiam da produção. Portanto, a China não vai resolver o problema das mudanças climáticas sozinha”.
O alto uso de energia de carvão da China, com 58% da energia vindo de termelétrica, é visto como o grande vilão das emissões, conforme Fernandes. Ele compartilhou que, hoje, os chineses usam 15% da sua energia renovável e tem uma meta de passar de 15% para 25% de energia renovável em todo o seu consumo, em quatro anos.
“A China se tornou a maior produtora, investidora e consumidora de energia renovável no planeta. Ela gastou quase 800 bilhões de dólares em investimento total de energia renovável. É o país que mais investe em pesquisas e desenvolvimento, por exemplo. E pode ser um parceiro estratégico na América Latina, na África, pois tem uma experiência acumulada e pelo compromisso declarado”.
Ciclo de debates
O evento, promovido pela SMAD do PT, é organizado em parceria com o Núcleo de Acompanhamento de Políticas Públicas de Meio Ambiente (NAPP), a Fundação Perseu Abramo (FPA) e a Fundação Friedrich Ebert do Brasil.
Assista o debate, na íntegra, abaixo:https://www.youtube.com/embed/fpgKPQHHES8?start=4883&feature=oembed