A recomposição do quadro de pessoal da Caixa Econômica Federal (CEF) e o fortalecimento da instituição como banco genuinamente público foi tema de audiência pública, nesta sexta-feira (06), na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (Ctasp) da Câmara Federal. O requerimento para a realização do evento foi de autoria da deputada federal Erika Kokay (PT-DF), que presidiu a sessão. “É importante se deter sobre essa empresa que é fundamental para o desenvolvimento do Brasil”, ressaltou a parlamentar.
De acordo com o requerimento, nos últimos cinco anos, a Caixa realizou diversos planos de demissão voluntária (PDV), resultando em uma redução de mais de 20 mil empregados sem a devida reposição e sem qualquer previsão de novas contratações. Enquanto o número de trabalhadores diminuiu, durante a pandemia, mais de cem milhões de brasileiros foram atendidos, mensalmente, em alguma agência. “Foram estabelecidas metas abusivas e pesadas jornadas para os empregados, provocando, em decorrência, um aumento significativo nos casos de doenças e acidentes de trabalho”, destacou a deputada.
Na audiência, Erika Kokay destacou o papel social histórico do banco. “A Caixa chegou a financiar muitas cartas de alforria. Essa empresa possibilita várias liberdades no que diz respeito às políticas humanas. É a maior articuladora de políticas sociais do Brasil. Por isso, tenho alegria muito grande por ter cruzado a minha história com a da Caixa”, disse.
Por isso, ela afirmou que é muito doloroso passar por esse momento da história brasileira, no qual o banco sofre com diversas ameaças. “O discurso de que o governo não vai privatizar a Caixa não se sustenta e não condiz com as ações que têm sido tomadas – tentar desmembrá-la, criar subsidiárias como banco digital para disputar mercado com a própria Caixa e depois ser privatizada, vender a seguridade e outros tantos segmentos importantes, como cartões.”
Segundo a deputada, o governo quer privatizar a instituição sem a aprovação do parlamento, porque defende que a venda de subsidiárias não precisa da avaliação do Congresso. “Para entender a ousadia tirânica desse governo, que busca entregar o patrimônio público à banca privada, queremos discutir o fortalecimento dessa empresa.”
Para a deputada, é preciso fazer todas essas discussões aliadas à necessidade de recompor o quadro de trabalhadores. “O presidente da Caixa tem anunciado que irá estender a rede de agências, portanto precisamos de mais funcionários”, lembrou. “Esperamos que os empregados que estão em cargos de gestão façam a defesa da Caixa, que não se calem frente aos ataques que ela sofre neste momento”, completou.
A parlamentar também destacou uma fraude cometida pela direção da Caixa em relação aos servidores terceirizados. Recentemente, diversas categorias, como a dos copeiros, foram desassociadas do sindicato de origem para fazerem parte do Sindicato da Construção Civil. Essa manobra permitiu diminuir condições salariais e benefícios. “Como é possível que uma empresa com a história da Caixa construa essa relação com seus colaboradores?”, questionou.
Para discutir esses pontos foram convidados para a audiência: Fabiana Uehara, coordenadora da Comissão Executiva dos Empregados da CEF; Kleytton Guimarães Moraes, presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília; Isabela Freitas Santana, representante dos aprovados do último concurso da CEF; Maria Isabel Caetano, presidente do Sindserviços-DF; Rita Serrano, representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da Caixa; Sérgio Takemoto, presidente da Fenae; Paula de Ávila e Silva Porto Nunes, procuradora do Ministério Público do Trabalho da 10ª Região; Jairo da Silva Muniz Sobrinho, diretor de Marketing e Relacionamento Institucional da CEF; e Angelica Djenane Philippe Correa, diretora de Logística e Segurança da CEF.
Luta contínua
Foi decidido na audiência a apresentação de uma moção na Câmara para a contratação dos novos habilitados no último certame. “É um absurdo que a Caixa esteja realizando um novo concurso público. É uma incoerência. Ao mesmo tempo vamos solicitar aos representantes do governo para que tenhamos uma audiência a fim de que possamos tirar o limite de 84 mil empregados, o que é inexplicável”, disse Erika.
A deputada ainda lembrou que o partido ingressou com uma ação contra o presidente da CEF, Pedro Guimarães, por falsear dados do banco. “Ele disse que deu mais lucro durante o governo Bolsonaro do que nos anteriores, mas ele não corrigiu monetariamente o lucro. E ao fazer isso, pegou valores de dez anos atrás. Além disso, o lucro atual não foi fruto de um resultado operacional, mas foi estabelecido com venda de ações da Petrobrás e de parte da seguridade da Caixa, o que é um crime.”
“Nós vamos continuar na luta em defesa dessa empresa. Temos pleno acordo da função da Caixa e temos uma profunda relação com ela. Um slogan muito feliz dizia que o povo não precisa de um banco, mas de uma Caixa”, afirmou a parlamentar no fim da audiência. Segundo ela, os funcionários devem ser respeitados, ao contrário do assédio moral com que convivem desde o início da pandemia.
“Recebi várias cartas de gestores pedindo socorro porque as condições estavam inadequadas. Enquanto isso, o presidente da Caixa gasta milhões de reais para percorrer municípios e chamar políticos para elogiar o governo. Não façam isso com a Caixa. Sempre nos posicionamos contrários àqueles que utilizam a empresa para benefícios partidários. A Caixa é muito maior do que isso. Ela é do tamanho do Brasil”, finalizou Erika Kokay.