As estratégias para gerenciamento e mitigação foram discutidas no ciclo de debates organizado pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Partido dos Trabalhadores (SMAD-PT)
As mudanças climáticas no Brasil fizeram parte do tema central de mais um encontro virtual organizado pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Partido dos Trabalhadores (SMAD-PT). As estratégias para sobre o gerenciamento e a mitigação, com ações voltadas à redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE), fizeram parte do painel.
O geólogo, pós-doutor Ciência e Tecnologias do Ambiente na Universidade do Porto de Portugal e revisor especialista do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), Pedro Cortês, abriu o debate com um vídeo de 2015, que surgiu antes do Laudato Si, documento que inspirou o Plano de Governo Lula-Haddad de 2018.
Cortês falou sobre a umidade que vem do oceano pra Amazônia, irrigando a floresta e drenando o solo, sobre a absorção das árvores, o vapor exalado, e os ventos que sopram levando ventos para os Andes, onde batem e são distribuídos para o Centro e Sul do Brasil. Lembrou ainda da chuva negra que ocorreu em São Paulo e Santa Catarina, com fuligens das queimadas da Amazônia, graças a esses rios voadores, que hidratam vários pontos da américa latina.
“Com o desmatamento, as plantas de pastagem ou soja não têm raízes profundas para drenas as mesmas quantidades de água que as grandes árvores fazem. Então, chove, mas não repõem umidade na atmosfera. Os ventos sopram, mas geram menos chuvas. O que vem acontecendo nas hidrelétricas como furnas e outras, há pelo menos oito anos, têm reduzido os volumes porque reduz as chuvas por causa do desmatamento. O Centro do brasil depende dessas chuvas. Parte de São Paulo, Sul e Litoral se beneficia pelas frentes do Sul do continente, embora a redução dessas chuvas se faça sentir também no Sul, e a estiagem vai permanecer”, explicou.
O modelo de desenvolvimento, que começa com a transamazônica no governo militar para que a Amazônia fosse controlada também por outras nações também foi destacado por Cortês.
“Por isso, fizeram um projeto de ocupação sem planejamento. Esse modelo de desenvolvimento econômico tem 50 anos. Há quem defenda que tem de desmatar para gerar emprego, mas é fácil verificar a progressão do desmatamento e o PIB dos estados amazônicos. Não há correlação, não melhorou a vida das pessoas, educação, saúde, mas o desmatamento avançou e, desde final dos anos 80 cientistas alertavam que o desmatamento poderia gerar alterações climáticas significativas e sobre o receio de que tenhamos ultrapassado o limite para que a degradação fique automática, porque sem reposição de umidade falta chuva não só na região central, mas dentro da própria floresta. Pode culminar na savanização (processo irreversível) da Amazônia. E pode ser irreversível, se já não é”, enfatizou.
Maureen Santos, coordenadora do Grupo Nacional de Assessoria da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE) e mestre em Ciência Política pela UFRJ, falou sobre a crise alimentar e climática, intensificada no Brasil pelo desmonte das políticas socioambientais.
“A construção do código florestal em 2012, fragilizou muito o aparato institucional, destruindo por completo espaços importantíssimos que pelo controle social que havia, pois tinha espaço de debate para construir no executivo. No Legislativo, temos o deputado federal Nilto Tatto, que ajuda a construir esses diálogos, apesar da dificuldade que certos setores colocam”, comentou.
Ela destacou o processo de destruição, que vem acompanhado pelo desmonte do “remonte, como dizemos no grupo Carta de Belém, com remontagem com bases mais frouxas. A auto regulação aparece como elemento central dessas mudanças e ligados à compensação Marco Global importante. Se temos aqui desmonte e remonte, temos internacionalmente o acordo de Paris, a implementação da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC).
Destruição da agenda ambiental
Para Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima e ambientalista, com formação em gestão pública, direito constitucional e políticas públicas, o Brasil vivencia uma destruição da agenda ambiental como um projeto rotineiro, de métodos.
“O que Bolsonaro conseguiu promover nesses dois anos e meio não só perde conquistas, mas torna difícil o país retomar o protagonismo na agenda ambiental e de clima, nos levando a prejuízos econômicos, inclusive, não de imagem, mas em capacidade de fazer negócio internacionalmente. Não acho que ninguém mais vai comprar soja, mas perdemos oportunidades de ser um país bem-vindo em várias circunstâncias. O clima está no centro da agenda e está cada vez mais no dia a dia das pessoas. Aqui no Brasil, toda e qualquer notícia nos últimos dois anos e meio na agenda de clima são negativas, ou extremamente negativas ou inacreditáveis!”, ressaltou Astrini.
O ambientalista falou ainda sobre Bolsonaro ter parado com a cobrança de multa ambiental no Brasil no meio de uma crise climática, e que congelou o fundo da Amazônia. “Um fundo que demorou para ser acordado e importante para manter a fiscalização, programas sustentáveis. Foi congelado com R$ 3 bilhões de reais parado”, lamenta.
Crise da Covid-19
Izabella Teixeira, bióloga e especialista em Avaliação Ambiental Estratégica, Gestão Ambiental, Avaliação de Impacto Ambiental e Licenciamento Ambiental, ressaltou durante o debate que o mundo parou com a crise da Covid-19.
“Segundo todos os cientistas, esta é a primeira crise de várias que virão e, a crise climática será ainda maior. Temos um momento de escolha como humanidade de uma nova relação com a natureza que precisa ser baseada em conter retrocessos. Não há políticas ambientais no Brasil e enquanto este governo permanecer, estaremos pagando o custo do retrocesso de soluções que remetem ao passado e não ao futuro. Precisamos ter dimensão dos impactos. Sem isso, não teremos capacidade de adicionar os impactos da crise pandêmica que não são triviais, pelo contrário, não teremos clareza de como ambicionaremos o futuro”.
Ciclo de debates
O ciclo de debates é organizado pelo Núcleo de Acompanhamento de Políticas Públicas de Meio Ambiente (NAPP), da Fundação Perseu Abramo (FPA), e pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento do PT. Participe deste importante Ciclo de Debates, todas as quintas-feiras, às 19h, na TVPT.
Assista abaixo, na íntegra, o debate sobre mudanças climáticas.
Fonte: PT