É muito desagradável ter que dizer: eu avisei. Mas, fazer o que?, o fato é que não foi por falta de aviso. Quem conheceu Jair Bolsonaro, vulgo “capiroto”, em seus 28 anos de mandatos improdutivos e maléficos, não teve nenhuma surpresa.
Sua liderança nasceu de falsas lutas. Reivindicando melhores salários para uma classe – os militares – cuja sindicalização é vedada em todos os países, por razões óbvias, planejou operações criminosas, que poderiam ter resultado na morte de centenas ou milhares.
Por essa razão, foi levado à Justiça Militar, na qual foi acusado de crimes e por mentir em seus depoimentos no inquérito que apurou sua conduta. A Justiça Militar, talvez por corporativismo, decidiu transferi-lo para a reserva, pasmem, remunerada.
Baseado na lenda de que lutava por sua classe, tornou-se vereador e depois deputado federal, sempre envolto em atitudes ilegais, entre as quais fraude eleitoral, registrada em matérias jornalísticas da época em que a eleição se dava por voto impresso. E a famigerada “rachadinha”, que consiste na apropriação de parte dos salários de seus assessores para fins de enriquecimento ilícito. Tecnologia que ensinou, ao que tudo indica, para seus filhos.
Seus mandatos de deputado foram tudo de ruim e inconstitucional. Apologia da violência, elogia das milícias, misoginia agressiva, homofobia vociferante, defesa de um militarismo tosco e incompatível com o texto da Constituição.
Esse cidadão, tratado como figura folclórica pela mídia, acumulou força para lançar-se à Presidência da República. Fez campanha posando de honesto, denunciando o chamado “Centrão”, agrupamento de partidos conhecido pela capacidade de se oferecer a qualquer governo em troca de cargos e verbas. Não admitiu que sempre esteve em partidos desse tipo. Passou por vários deles e nunca antes havia denunciado o fisiologismo.
Bolsonaro mentiu na campanha, dialogando com os desavisados e anunciando o armamentismo como solução e o compromisso com o combate à corrupção.
Eu avisei: está mentindo, é corrupto, incompetente, ignorante e com sinais de psicopatia.
Depois de agravar brutalmente a situação da pandemia no Brasil, sabe-se agora com motivações para além do negacionismo, Bolsonaro vê crescer no povo a consciência de que ele é um desastre em todos os aspectos: saúde, educação, meio ambiente, cultura, relações internacionais, infraestrutura, relações entre os poderes, desmoralização das Forças Armadas, etc.
E descobre que só pode sobreviver graças aos serviços do…Centrão. Arthur Lira pode segurar o impeachment e Ciro Nogueira pode acalmar o Senado, ele imagina. São do PP, o mesmo partido que Jair esteve filiado por anos.
Eu avisei: ele sempre foi do Centrão. Esta semana, ele mesmo confessou: é do Centrão, sempre foi. Entre tantas “fake news”, mentiras de grupos de zap, esse é o mais completo descaramento. O general de pijama que entusiasmou a plateia de uma convenção do PSL, partido hipertrofiado pelos votos fascistas, Augusto Heleno, pode ensaiar a canção que foi imortalizada na voz de Maysa: “Meu mundo caiu”.
Ou, com a cara de pau do seu chefe, dar uma gargalhada e cantar:
“Se gritar pega ladrão, vai pegar o Capitão.”
540 mil mortos e suas famílias destroçadas pagam a conta dessa terrível farsa, que se consumou em 2018. Milhões de desempregados e famintos, também. O futuro do Brasil está na beira do abismo. E só o povo brasileiro pode impedir que afundemos ainda mais.
Chico Vigilante é Deputado Distrital, foi deputado federal (1991/1999), fundador da CUT e do PT