Alta da carne bovina é acompanhada de aumento de preços também das opções mais baratas, como suínos, frangos e ovos. “Como é possível essa situação num país que já foi a sexta economia do mundo?”, questiona Lula
O descaso absoluto do desgoverno Bolsonaro com a segurança alimentar da população reduz drasticamente o acesso a proteínas no país. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) estima que, no ano passado, o consumo de carne bovina caiu pelo quarto ano consecutivo. A queda, de 5%, fez o consumo regredir para o menor nível desde 2008: 36 quilos por pessoa.
O levantamento, feito a pedido do site Poder 360, revela que as famílias compram menos carnes em geral e substituem as mais caras pelas mais baratas. A Associação Brasileira da Proteína Animal (ABPA) informou que o consumo de ovos (251 unidades per capita) saltou 9% em 2020. O de frango subiu 7%, para 45 quilos por pessoa.
O presidente da ABPA, Ricardo Santin, afirma que esse cenário permanecerá mesmo depois da pandemia. “Vai haver um ‘boom’ ainda maior no consumo de frango, suíno e de ovos”, prevê. Segundo ele, o início do pagamento do auxílio emergencial ajudou as famílias a comprar mais frangos, ovos e suínos. “Agora nos primeiros seis meses de 2021, repete-se esse fenômeno: aumento do consumo”, avaliou.
Já a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê que neste ano o brasileiro consumirá a menor quantidade de carne vermelha por pessoa em 25 anos. Segundo o órgão, o cenário de crise dos últimos anos, somado à pandemia do coronavírus, vem derrubando o consumo total de carnes (bovina, suína e de frango) desde 2014.
A partir de 2013, quando o consumo de proteínas atingiu 96,7 quilos por pessoa por ano, auge na série histórica iniciada em 1996, houve seis anos seguidos de queda. Neste ano, o consumo total deve ficar 5,3% abaixo do pico.
O menor consumo tem relação direta com o preço. O aumento da produção dos frigoríficos destinada às exportações, em um cenário de cotações internacionais elevadas, também encarece as carnes no mercado interno, pressionado pela alta dos insumos, que compõem de 70% a 80% dos custos de produção do setor.
“A gente foi resiliente na pandemia. Investimos mais de R$ 1 bilhão para não deixar as plantas pararem, protegendo os trabalhadores e não deixando faltar comida. Mas agora a gente a gente está perdendo um pouco o fôlego por conta do aumento do preço do milho e do farelo de soja”, observa Santin.
Dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mostram que o custo da produção cresceu, em média, 52,30% para o frango e 47,53% para o porco nos últimos 12 meses. De janeiro de 2019 até julho de 2021, em média, o preço do milho saltou 170% e a soja, 120%. E nem as embalagens escaparam: os pacotes flexíveis de polietileno subiram 91% de julho de 2020 até abril deste ano.
Preços vão disparar até 2022
Com o aumento do preço dos insumos, o custo é repassado ao consumidor, e os economistas projetam que o preço desses alimentos vai disparar acima da inflação. A estimativa é de que a carestia proteica seja quase o dobro da inflação oficial projetada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) Amplo, de 5,9% em 2021.
Segundo a consultoria LCA, a maior alta deste ano será a carne de boi, com 17,6%. Em seguida, vem a de porco, com 15,1%, a de frango, com 11,8%, e os ovos: 7,6%. A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) prevê aumento no preço do frango entre 10% e 15% já no fim de julho. A LCA estima que a alta nos custos de produção e a demanda externa aquecida terão impacto no preço das proteínas até pelo menos 2022.
Pelo Twitter, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) expressou sua preocupação. “Como estão os preços dos alimentos aí no mercado perto de sua casa? Pela décima-quinta semana consecutiva, a inflação é recalculada. A carne de frango e de porco, por exemplo, vai subir mais de 15%”, anunciou em postagem na rede social.
O senador Humberto Costa (PT-PE) chamou a atenção para o escárnio com a população. “Enquanto Bolsonaro leva uma vida de rei, gastando milhares de reais sem divulgar do cartão corporativo e comendo picanha de quase R$ 2 mil, a fome no país aumenta, assim como o desemprego e a inflação”, comentou em entrevista ao portal IG.
Em entrevista à rádio Jovem Pan de Sergipe, Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a penúria a que milhões de pessoas estão expostas. “Tenho 75 anos de idade, saí do Nordeste por causa da fome. E agora ver uma mulher à espera de um osso na fila de um açougue pra fazer uma sopa?! Como é possível essa situação num país que já foi a sexta economia do mundo? Ver o povo dormindo na rua. Não é possível”, comentou o presidente mais popular da história do país.
Povo deixa de comprar, mas o agronegócio não deixa de vender
Para os produtores agrícolas, a queda no consumo interno de proteínas pelos brasileiros é compensada pelo aumento das exportações. As de carne bovina, por exemplo, registraram incremento de 9,7% em junho em comparação a maio. O Brasil é o maior vendedor individual de carne bovina do mundo.
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pela Abiec, foram embarcadas 164.332 mil toneladas de carne bovina em junho, ante 149.850 toneladas em maio. Em receita, o aumento foi de 15,2%, passando de US$ 725,2 milhões para US$ 835,1 milhões. O preço médio total no período registrou alta de 20,7%.
A ABPA informou que as exportações brasileiras de carne de frango (considerando todos os produtos, entre in natura e processados) totalizaram 397,4 mil toneladas em junho. O volume supera em 16,2% os embarques efetuados no mesmo mês de 2020, quando foram exportadas 341,9 mil toneladas.
Em receita, o saldo em junho alcançou US$ 650,6 milhões, desempenho 45,7% maior em relação ao mesmo mês de 2020, com US$ 446,5 milhões. No total do semestre, as vendas internacionais de carne de frango chegaram a 2,244 milhões de toneladas, volume 6,53% maior em relação ao fechamento dos seis primeiros meses de 2020, com 2,106 milhões de toneladas. A receita em dólares alcançou US$ 3,476 bilhões, resultado 10,6% superior ao do primeiro semestre de 2020 (US$ 3,144 bilhões).
Até as exportações brasileiras de ovos (in natura e processados) acumularam alta – de 145,1% no primeiro semestre de 2021, informa a ABPA. Foram exportadas 5,6 mil toneladas, contra 2,3 mil toneladas no mesmo período do ano passado. As vendas do semestre geraram US$ 8,024 milhões, número 152,9% superior ao realizado nos seis primeiros meses de 2020, com US$ 3,173 milhões.
Considerando apenas o mês de junho, o volume mensal exportado chegou a 554 toneladas, dado 162,2% maior que as 211 toneladas exportadas no sexto mês de 2020. O resultado em dólares dos embarques alcançou US$ 1,016 milhão, que supera em 172,5% o desempenho do mesmo período do ano passado, com US$ 373 mil.
Fonte: PT