Uma operação que está vindo a mercado quer fazer a ponte entre o mercado de capitais e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) para financiar a agricultura familiar.
Um ano depois de testar as águas numa incursão improvável no mercado, desta vez o cheque pretendido pelo MST é maior. A ideia é levantar R$ 17,5 milhões com a emissão de um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA).
A operação terá também um acesso democrático para os investidores: se dará por meio de uma oferta pública, que será aberta para aplicações a partir de R$ 100 (na venda do ano passado, cerca de cinco investidores aplicaram ao menos R$ 100 mil cada).
As famílias assentadas pelo MST são responsáveis por grande parte da produção agrícola orgânica no país — há quem diga que trata-se do maior produtor.
O dinheiro captado vai financiar a produção de sete cooperativas de agricultura familiar ligadas ao movimento, que produzem, leite, milho, soja, arroz, açúcar mascavo e suco de uva, nos Estados de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e São Paulo.
As cooperativas são: Coana, Coapar, Coopaceres, Cooperoeste, Cootap, Copacon e Copavi e boa parte delas tem uma produção exclusivamente orgânica.
Os títulos, emitidos pela securitizadora Gaia Impacto, têm prazo de cinco anos e pagarão remuneração de 5,5% ao ano. Os CRAs contam com isenção de imposto de renda para os investidores e são títulos de renda fixa lastreados em recebíveis da atividade agrícola. Neste caso, o lastro serão cédulas do produtor rural (CPR) emitidas pelas cooperativas.
Os investidores poderão reservar os papéis a partir do dia 26. A venda dos CRAs será feita pela corretora Terra, por meio de uma plataforma inédita do Finapop, um braço financeiro idealizado pelo economista Eduardo Moreira para financiar o MST.
Os investidores interessados poderão abrir um conta, sem custos, dentro de uma área do Finapop abrigada no site da corretora Terra.
O pagamento da dívida aos investidores começa a acontecer no segundo ano da operação. E os títulos vendidos aos investidores de varejo estarão protegidos de inadimplência até o limite de 17% do valor da operação. Essa fatia corresponde às cotas subordinadas da emissão, que recebem um retorno maior, mas também absorvem as primeiras perdas.