A variante B.1.621 foi oficialmente detectada no Brasil, em dois homens que integravam as delegações de Equador e Colômbia, que disputaram a Copa América durante as últimas semanas.
Esses casos de covid-19 foram diagnosticados em Cuiabá, pelo Laboratório Central do Mato Grosso (Lacen-MT), que enviou amostras para análise genética no Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo.
A notícia de que essa nova versão do coronavírus está em nosso território veio na segunda-feira (12/7), após a confirmação do próprio instituto e do governo de Mato Grosso. Mas o que essa variante tem de diferente e o que a ciência já conhece sobre ela?
A B.1.621 foi descrita pela primeira vez em janeiro de 2021, na Colômbia. De lá para cá, ela já se espalhou para outros 19 países das Américas e da Europa, segundo o site Pango Lineages, que reúne especialistas em vigilância genômica de várias universidades e centros de pesquisa.
Atualmente, a B.1.621 integra uma “lista de alerta” da Organização Mundial da Saúde, junto com outras versões virais que precisam ser monitoradas e estudadas.
Como é relativamente nova, ela ainda não foi nominada com uma letra grega, como aconteceu com a Alfa (Reino Unido), a Beta (África do Sul), a Gama (Brasil) e a Delta (Índia).
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) da Europa aponta que a B.1.621 traz ao menos cinco mutações importantes na espícula, estrutura que fica na parte externa do coronavírus e é responsável por se encaixar nos receptores das nossas células e dar início à infecção.
Quatro dessas alterações genéticas (E484K, N501Y, D614G e P681H) já foram observadas em outras variantes mais preocupantes, como a Alfa, a Beta, a Gama e a Delta. Já a mutação R346K parece ser nova e não foi descrita nas demais versões do vírus.
Essas modificações no código genético podem deixar o agente infeccioso ainda mais transmissível, o que representa um perigo para o controle da pandemia.
O CDC europeu também informa que essa variante poderia ter algum impacto na imunidade obtida após a recuperação de um quadro de covid-19 prévio ou pela vacinação, mas isso ainda precisa ser estudado mais a fundo.
Na prática, essa versão do coronavírus parece ter se espalhado com relativa facilidade por certos lugares: de acordo com as informações do Gisaid, uma iniciativa global de vigilância genômica, a variante representa 24% de todas as amostras colhidas e analisadas na Colômbia.
Em algumas localidades, como Córdoba, Bolívar, Atlántico e Choco, ela já está presente em mais de 60% de todas as investigações genéticas feitas desde o início do ano.
A situação da pandemia na Colômbia, aliás, é bem preocupante: o país latino-americano tem atualmente a terceira pior média móvel de óbitos em todo o mundo (só fica atrás de Namíbia e Tunísia).
Mas será que essa variante tem alguma coisa a ver com isso? Não se sabe. A exemplo do Brasil, a Colômbia não possui um sistema bem estruturado de vigilância genômica do coronavírus, que faz um número elevado de testes diariamente. Em razão disso, não dá pra ter certeza sobre a presença e o impacto das variantes por lá.
Num artigo publicado em maio, eles se mostram preocupados com “o rápido aumento na frequência” dessa variante “num curto espaço de tempo”, especialmente em cidades que “pareciam estar próximas de uma eventual imunidade de rebanho”.
O virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul, destaca que, por ora, não há motivo para pânico com a B.1.621.
“São poucos os casos reportados no Brasil. É claro que ela deve ser monitorada, mas os dados da Colômbia e de outros países não indicam uma maior agressividade, apesar da elevação do número de casos em algumas regiões”, avalia.
“Também não temos dados sobre um possível escape dessa nova variante às vacinas já disponíveis”, completa o especialista, que também coordena a Rede Corona-Ômica do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações.
De acordo com uma nota divulgada pelo governo do Mato Grosso, os casos de covid-19 causados por essa versão do coronavírus foram detectados em dois homens de 37 e 47 anos, que integravam as delegações de futebol de Equador e Colômbia, respectivamente.
No dia 13 de junho, os dois países se enfrentaram pela primeira rodada da fase de grupos da Copa América. A partida, que terminou 1 a 0 para a Colômbia, aconteceu na Arena Pantanal, em Cuiabá (MT).
A boa notícia, segundo as informações das autoridades mato-grossenses, é que os dois pacientes foram isolados num hotel após o diagnóstico e permaneceram em quarentena até ganharem um atestado que liberou o retorno deles aos seus países de origem.
Embora o protocolo após o diagnóstico tenha sido seguido à risca, não se sabe se esses indivíduos tiveram contato com outras pessoas antes de realizar os exames.
Há, portanto, o risco de eles terem espalhado a variante pelo país — daí a necessidade de acompanhar a situação de perto e ver se a B.1.621 ganha terreno em território brasileiro ou não.
Ainda no reino das incertezas, não é possível determinar se essa variante da Colômbia causará estragos maiores por aqui, uma vez que temos outras versões do coronavírus em circulação que são bastante dominantes, como é o caso da Gama (a antiga P.1, detectada originalmente em Manaus).
Independentemente das mutações na espícula ou do maior potencial de virulência, uma coisa é certa: as medidas de prevenção contra a covid-19 seguem efetivas e necessárias.
Por isso, é importante reforçar o distanciamento físico, o uso de máscaras (de preferência, a PFF2 ou a N95), a higiene das mãos e o cuidado com a circulação de ar pelos ambientes. Outra atitude essencial é tomar as duas doses da vacina quando chegar a sua vez.
Os imunizantes disponíveis continuam eficazes contra as variantes já descobertas e, com uma boa quantidade de gente vacinada, eles são capazes de impedir que outras versões do coronavírus ainda mais perigosas apareçam em algum canto do planeta.
Fonte: BBC