Rodrigo Pilha estava preso desde 18 de março, após protestar com uma faixa com os dizeres “Bolsonaro genocida” diante do Palácio do Planalto
O ativista Rodrigo Grassi, conhecido como Rodrigo Pilha, foi liberado do Centro de Progressão Penitenciária do Distrito Federal e reencontrou com a família na noite deste sábado (10).
Preso em 18 de março deste ano após levar uma faixa com os dizeres “Bolsonaro genocida” para um protesto contra o presidente diante do Palácio do Planalto, Pilha deveria conquistar a progressão para o regime aberto em audiência marcada para a última quarta-feira, mas que acabou adiada para o dia 16.
Diante das más condições da cadeia e do tratamento que vinha recebendo — ele já havia denunciado ter sido torturado no local –, Pilha decidiu entrar em greve de fome em protesto. Para justificar a decisão, ele encaminhou uma carta a amigos e familiares em que justifica a ação.
“Tendo em vista que o Judiciário segue me proibindo de falar, conceder entrevistas, e agora me mantém preso, mesmo eu tendo conquistado o direito ao regime aberto, optei por usar meu corpo e a resistência pacífica para protestar contra estes e diversos outros absurdos que seguem ocorrendo no sistema penitenciário do DF, por conta do autoritarismo policial e judicial”, diz a carta.
Na noite deste sábado, Erico Grassi, irmão de Rodrigo Pilha, informou no Twitter que o alvará de progressão de regime foi publicado e postou uma foto do reencontro do ativista com a família em Brasília.
Pilha havia sido enquadrado originalmente na acusação de crime contra a Lei de Segurança Nacional pelo protesto contra Bolsonaro, mas fora inocentado. Contudo acabou mantido preso por condenações anteriores por desacato e crime de trânsito.
A seguir, confira a íntegra da carta divulgada no sábado:
Brasília, 9 de julho de 2021
Queridos familiares e amigos, após refletir bastante na última madrugada de cárcere, decidi que inicio a partir de hoje uma greve de fome sem data para acabar.
Tendo em vista que o Judiciário segue me proibindo de falar ,conceder entrevistas, e agora me mantém preso, mesmo eu tendo conquistado o direito ao regime aberto, optei por usar meu corpo e a resistência pacífica para protestar contra estes e diversos outros absurdos que seguem ocorrendo no sistema penitenciário do DF,por conta do autoritarismo policial e judicial.
Bem mais que não desejar comer aquela lavagem que chamam de comida, entregue aos apenados, lá naquela espécie de campo de concentração contemporâneo chamado de “Galpão” , minha greve de fome tem o intuito de denunciar e chamar a atenção da sociedade para os maus-tratos, as péssimas condições de cumprimento de pena e toda a sorte de violações de direitos humanos que continuam a ocorrer dentro do sistema prisional do DF, sob a vista grossa de um Judiciário que muitas vezes lava as mãos, passa o pano e acaba sendo conivente com tais atrocidades.
Ameaças de castigo e agressão, xingamentos e maus tratos por parte de policiais penais, seguem ocorrendo, e inquirições de apenados SEM a presença da defesa (fato que só comigo , já ocorreu em três oportunidades), são práticas corriqueiras.
As celas e alas seguem hiper lotadas, com pessoas dormindo por cima das outras, e até no chão sujo em meio a baratas e escorpiões.
O banheiro mais parece uma pocilga e os banhos de sol são de meia hora apenas.
Castigos excessivos e por razões banais, com o mero intuito de causar a regressão penal dos presos, acabam por institucionalizar a tortura psicológica por parte do estado no cotidiano dos presídios.
A diretoria penitenciária de operações especiais (DPOE) é acusada de espancamentos gratuitos, mutilações e até de ser responsável pela morte de presos após a prática do procedimento chamado de “extração” ou “guindar” apenados.
Por fim, sei dos riscos que corro, mas estou convicto de que minha greve de fome é o mais acertado a se fazer neste momento, para trazer luz ao terror existente nos presídios do DF, e, lhes garanto que as mazelas do sistema prisional são bem mais radicais e maléficas à vida das pessoas do que a atitude que hoje adoto como forma de protesto.
Ante ao exposto e já que não me deixam falar, peço que FALEM POR MIM e divulguem ao máximo esta carta-denúncia,afim de que o maior número de pessoas saibam da barbárie que hoje impera no sistema prisional do DF.
“… podem me prender, podem me bater,podem até me deixar sem comer, que eu não mudo de opinião…”
Com os versos de protesto do sambista idealizador da “Voz do morro”, Zé Keti, me despeço agradecendo a todas e todos por todo apoio e carinho recebidos até aqui.
Um forte abraço e hasta la Victoria siempre!!!
Com carinho,
Rodrigo Pilha
Fonte: RBA