A Petrobrás concluiu semana passada a venda integral da BR Distribuidora, empresa criada há 50 anos para levar combustíveis a todos os estados do país. A privatização começou em julho de 2019, quando a então gestão de Castello Branco entregou ao mercado o controle acionário da subsidiária abrindo mão de um setor estratégico para os negócios da petrolífera. Ao se desfazer agora dos 37,5% de participação que ainda detinha na BR, a Petrobrás perde de vez a sua integração no setor, entregando à concorrência uma fatia considerável do quarto maior mercado consumidor de derivados de petróleo do mundo.
A BR é a maior distribuidora de combustíveis do Brasil, com uma rede de cerca de 8 mil postos em todo o território nacional e 14.000 clientes dos segmentos operacionais de grandes consumidores e aviação. Sua privatização, além de acentuar a desintegração do Sistema Petrobrás, coloca em xeque a própria identidade da estatal. “A população não consegue ver a Petrobrás em plataformas de petróleo e sim nos postos de gasolina. Com a venda da BR, isso acaba, pois a empresa perde o contato direto com o consumidor”, alerta Cloviomar Cararine, economista do Dieese que assessora a FUP.
Além disso, a privatização da BR abre caminho para que a empresa entre em outros segmentos do setor de óleo e gás, podendo no futuro competir com a Petrobrás, com a vantagem de ter o controle de 27% do mercado de diesel e 25% do mercado de gasolina. “A Petrobrás só perde com esta privatização e ainda está criando um monstro, pois a BR pode se tornar uma empresa de petróleo integrada e competir com a estatal, com a vantagem de estar atuando no segmento de distribuição e, o que é pior, utilizando a própria marca da Petrobrás”, alerta o economista Henrique Jäger, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).
O resultado direto deste desmonte foi a redução de quase metade dos postos de trabalho no Sistema Petrobrás, com a saída de cerca de 30 mil trabalhadores concursados que deixaram a empresa através de planos de desligamentos e o fechamento de mais de 100 mil postos de trabalho terceirizados.
“A Petrobrás está sendo vítima do maior desmonte da história da indústria de petróleo. A maior empresa nacional está sendo dilapidada a toque de caixa sob uma lógica que vai na direção contrária das principais petrolíferas. Enquanto as grandes empresas estrangeiras estão aumentando a integração, a Petrobrás abre mão do refino, da distribuição, da logística, da cadeia de transição energética, para atender aos ditames dos acionistas privados, que querem que a empresa gere lucro de forma predatória, se concentrando na exploração do pré-sal para exportação de óleo cru. Enquanto isso, o povo sofre com desemprego, desindustrialização e importação de derivados. O resultado é a disparada dos preços dos combustíveis, o que tende a piorar com a privatização da BR e das refinarias, se não revertemos esta situação”, alerta o coordenador da FUP, Deyvid Bacelar.
[Da imprensa da FUP | Imagens: reprodução de apresentação do Dieese]