Por Bernardo Mello Franco*
O bolsonarismo montou uma máquina para disseminar o discurso de ódio, atacar as instituições e pregar um golpe contra a democracia. A engrenagem foi exposta em relatório da Polícia Federal. Ontem o Supremo abriu um novo inquérito para investigar os extremistas.
Na decisão, o ministro Alexandre de Moraes descreve a existência de uma “verdadeira organização criminosa” destinada a implodir o estado de direito. Ele afirma que o objetivo da tropa é a “imposição de uma ditadura”, eliminando “qualquer possibilidade de controle ou fiscalização” do poder presidencial.
As investigações começaram em abril de 2020, quando Jair Bolsonaro participou de um comício em frente ao Quartel-General do Exército. Os manifestantes tentaram incitar os militares a fechar o Congresso e decretar um novo AI-5.
“Nós não queremos negociar nada”, bradou o capitão, na caçamba de uma caminhonete. “Acabou a época da patifaria. Agora é o povo no poder”, arrematou, diante de uma plateia que o chamava de “Mito” e urrava contra a democracia.
O presidente não é investigado, mas seus filhos Flávio, Carlos e Eduardo são citados no relatório da PF. O inquérito aberto no ano passado também mira deputados bolsonaristas e assessores do governo. Parte deles integra o “gabinete do ódio” instalado no terceiro andar do Planalto.
A polícia ainda identificou empresários que financiam a extrema direita desde a campanha de Bolsonaro. Com a vitória do capitão, o grupo ganhou acesso aos cofres públicos. A Secom passou a liberar verbas para portais que divulgam notícias falsas e pregam ideias golpistas.
As investigações mostram como o bolsonarismo se infiltrou nas instituições para sabotá-las. Deputados eleitos pelo voto conspiram abertamente pelo fechamento do Congresso. Uma das líderes da tropa, a deputada Bia Kicis, está no comando da principal comissão da Câmara.
O aparelhamento também chegou aos órgãos de investigação. Para proteger o governo, o procurador Augusto Aras menosprezou o relatório da PF e pediu o arquivamento do caso. Moraes precisou abrir um novo inquérito para evitar que as provas fossem parar no lixo.
Bernardo Mello Franco é colunista do O Globo