O mais amplo movimento político contra Jair Bolsonaro protocolou na tarde desta quarta-feira (30) o “superpedido” de impeachment do presidente da República. A união é considerada por lideranças da esquerda à direita do espectro politico equivalente à da luta pelas Diretas Já de 1984. As lideranças destacaram, em coletiva realizada após o ato formal, crime contra a humanidade, caracterizado pela conduta de Bolsonaro na pandemia, e aspectos de seu projeto econômico, simbolizado pela recente privatização da Eletrobras, enquanto Brasil está na iminência de um crise energética.
O presidente do Psol, Juliano Medeiros, afirmou que todos os esforços para enfrentar a crise sanitária e econômica, mesmo com a soma de diferentes tendências ideológicas, serão inúteis se o país continuar sendo governado por “um sabotador”. “Hoje começa o fim do governo Jair Bolsonaro”, disse. Ele enfatizou que a instalação do processo depende do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e aliados. “Ou a Câmara é independente e salva o Brasil desse e genocida ou será cúmplice dos crimes”, afirmou.
Nas ruas
Iago Montalvão, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), lembrou que a união em torno do impeachment se dá ao mesmo tempo em que a sociedade está indo às ruas contra o governo. No sábado (3), novas manifestações contra Bolsonaro ocorrerão em todo o país. Para o deputado federal Chico D’Angelo (PDT-RJ), “o escândalo da Covaxin foi a gota d’água”.
O líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), afirmou que Bolsonaro lidera um governo que “vende a vida dos brasileiros por um dólar”, em alusão a suposto esquema de pagamento de propina em negociações de vacinas. Ele explicou na coletiva que o termo “superpedido de impeachment” é utilizado por reunir vários pontos: unificar todos os outros 122 pedidos já apresentados contra o atual presidente, os 23 tipos penais diferentes praticados pelo mandatário, dezenas de entidades da sociedade e forças políticas representantes das mais diversas correntes políticas e ideológicas. Entre os crimes apontados estão omissões e erros no combate à pandemia, promover revolta contra o isolamento social recomendado pela ciência, prevaricação no caso Covaxin e atos contra comunidades indígenas.
Vida e democracia
A presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), destacou que atores e partidos unidos em torno do movimento pela queda do presidente da República têm divergências, mas são convergentes “na defesa da democracia e da vida do povo brasileiro”. “Como foi dito aqui, a gestão do genocida é deixar o povo morrer. Vamos pressionar pela aceitação do #SuperImpeachment! Ninguém aguenta mais esse governo da morte, que brinca com a saúde do brasileiro e destrói o país”, disse.
Douglas Belchior, fundador da Uneafro e da Coalizão Negra por Direitos, afirmou que Bolsonaro “vende a vida dos brasileiros” – em referência ao escândalo das vacinas, que revela novos fatos todos os dias, inclusive pagamento de propina. Ele destacou que as últimas revelações da CPI da Covid mostraram o caráter corrupto de um governo que se elegeu em nome do combate à corrupção. O movimento pelo impedimento reflete a “unidade contra a barbárie”, disse.
O coordenador nacional da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim, afirmou que “povo está pronto” para intensificar os protestos nas ruas. No ato político, Bonfim criticou o presidente da Câmara, Arthur Lira. “O Lira será cúmplice dos crimes de genocídio e de corrupção cometidos pelo governo Bolsonaro, caso não instale a abertura do processo de impeachment. Este é um pedido das ruas”, ressaltou.
Joice: “Bolsonaro matou pessoas“
A deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-bolsonarista, justificou sua presença dizendo que Bolsonaro é um “inconsequente irresponsável estimulando mortes”. Segundo ela, o país perdeu 200 mil vidas na pandemia graças ao presidente, referindo-se a mortes que poderiam ter sido evitadas, do total de 518 mil. “200 mil mortos é o equivalente ao que mataram as bombas de Hiroshima e Nagakazi. Bolsonaro fez isso com nosso país”, disse. “Ele jogou duas bombas em nosso país. Ele matou pessoas. Não é que foi negligente, ele matou.”
O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil – que assina um dos 122 pedidos de impeachment parados na Câmara – participou do ato desta tarde, denunciando “a instrumentalização da fé pela antipolítica” de Bolsonaro e sua “política de morte”. As igrejas repudiam as informações de que missionários têm sido enviados às terras indígenas para convencer os povos originais a não tomar vacinas.
Direitos humanos
Em sua página na internet, a entidade cristã faz uma comparação para dar a dimensão do que acarretou a conduta do atual governo ao “não conter o avanço do novo Coronavírus”. A guerra na Síria, em 10 anos, matou cerca de 387 mil pessoas, segundo dados do Observatório Sírio de Direitos Humanos, publicados de 2020. “No Brasil, em dois anos de pandemia, morreram mais de 510 mil pessoas, isso sem contar as subnotificações”, diz a entidade.
O movimento pela derrubada de Bolsonaro reúne entidades como Central dos Movimentos Populares (CMP), Frente Brasil Popular, Frente Povo sem Medo, Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), Coalizão Negra por Direitos, todos os partidos de esquerda, representantes de legendas de centro e direita.
“Anotem esse dia: 30/06/2021! É o início do fim de Bolsonaro!”, tuitou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), classificando o governo Bolsonaro como “o pior, mais corrupto e genocida presidente da história do Brasil”.