No dia 16 de junho o site da CNN divulgou nota do Ministério da Saúde em que se comemorava a intenção de compra de 60 milhões de doses da vacina CanSino. A reportagem informava que teria tido acesso ao documento assinado no dia 4 de junho.
O governo federal, ainda segundo a reportagem, iria pagar 17 dólares por dose. Ou seja, R$ 5,2 bilhões por 60 milhões de doses. O valor mais alto de todas as vacinas compradas pelo governo incluindo a Covaxin, 15 dólares. Ambos os imunizantes são aplicados em dose única.
O detalhe da operação é que o acordo de intenção de compra, assinado pelo secretário em Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros, se deu com a empresa Belcher Farmacêutica do Brasil, que representa a CanSino.
A Belcher Farmacêutica que havia entrado com pedido de uso emergencial junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no dia 19 de maio e cujo processo de análise ainda estaria em andamento tem sua sede em Maringa, como pode ser vista na imagem abaixo.
Maringá, no Paraná, é a cidade em que Ricado Barros tem sua base eleitoral e onde foi prefeito. Ricardo Barros foi acusado pelos irmãos Miranda de ter sido citado por Bolsonaro como o dono do esquema de compra da Vacina Covaxin que está sendo investigado pela CPI do Covid.
Negócio entre amigos
O paranaense Emanuel Catori é o diretor presidente da Belcher Farmacêutica do Brasil, de Maringá. Ele junto com os empresários bolsonaristas Luciano Hang, das lojas Havan, e Carlos Wizard, liderou um movimento para que empresas privadas conseguissem permissão para comprar e distribuir imunizantes, criando o “camarote das vacinas”. Em março deste ano ele esteve em Brasília para uma conversa com o governo federal acerca deste tema.
A Belcher pertence a Emanuel Ramalho Catori e também a Daniel Moleirinho Feio Ribeiro, filho de Francisco Feio Ribeiro Filho, ligado a Ricardo Barros.
Chiquinho Ribeiro, como é conhecido em Maringá, foi presidente da Urbamar na gestão de Barros como prefeito de 1989 a 1992, e conselheiro da Sanepar no curto governo de Cida Borghetti, esposa de Barros.
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O fio dessa história começou a ser levantado pelo jornalista Hugo Souza que publicou o texto que segue:
“Atenção, CPI e colegas jornalistas.
O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, apontado ontem por Luis Miranda como o homem acobertado por Bolsonaro na fraude da Covaxin, é próximo do empresário Francisco Feio Ribeiro Filho.
Conhecido como Chiquinho Ribeiro, o dono da Pneumar foi presidente da Urbamar, empresa de urbanização de Maringá, quando Barros foi prefeito da cidade, lá no início da década de 90. Na declaração de Imposto de Renda de Barros para o exercício 2002 aparece o nome de Francisco Feio Ribeiro Filho na seção ‘pagamentos e doações efetuados’, e o valor de R$ 16 mil, algo que hoje seria em torno de R$ 50 mil, pela correção IPCA.
Quando Chiquinho Ribeiro completou 70 primaveras, em 2016, o irmão de Ricardo, Silvio Barros – que também já foi prefeito da terra do Marreco -, publicou no Instagram uma foto sua e de sua consorte na comemoração: ‘festa linda, merecida e abençoada do nosso amigo Chiquinho Ribeiro’.
Quando Cida Borghetti, esposa de Ricardo Barros, tornou-se governadora do Paraná, em 2018, Chiquinho foi parar na direção da Companhia de Saneamento do estado (Sanepar).
Há dois meses, Cida Borghetti foi nomeada por Bolsonaro para o Conselho de Administração de Itaipu Binacional, rendendo o indefectível Carlos Marun e com salário de R$ 27 mil para participar de umas reuniões.
Há 15 dias, meados de junho, o Ministério da Saúde assinou intenção de compra de 60 milhões de doses de uma vacina contra a covid-19 chamada Convidecia, do laboratório chinês CanSino. O preço é de nada menos que 17 dólares a dose, mais cara que a Covaxin. A se confirmar o negócio, que está na dependência da Anvisa, será a vacina mais cara negociada pelo Brasil (É dose única, mas a Janssen também e custa US$ 10).
Estamos falando de um negócio de mais de R$ 5 bilhões. Para quem não queria ‘vaChina’, que coisa, hein?
A representante da CanSino no país é a Belcher Farmacêutica do Brasil, com sede em… Maringá. Há um ano, em julho do ano passado, a Belcher foi alvo da Operação Falso Negativo, contra empresas que se lambuzaram em superfaturamentos aproveitando-se da dispensa de licitação para aquisição de testes rápidos de covid-19.
Um dos sócios da Belcher é Daniel Moleirinho Feio Ribeiro, que é filho de… Chiquinho Ribeiro.
No dia 6 de janeiro de 2021, há poucos meses, portanto, foi aberta em Maringá a empresa Rcy Brasil & Belcher Spe Ltda, com atividade principal de ‘Comércio atacadista de medicamentos e drogas de uso humano’. No quadro de sócios e administradores da novíssima firma consta a Belcher e a Ribetech Participacoes Sociais LTDA, pessoa jurídica com capital social de mil reais representada pela pessoa física Francisco Feio Ribeiro Filho – Chiquinho Ribeiro, o velho conhecido de Ricardo Barros.
A Rcy Brasil & Belcher funciona no mesmo endereço da Belcher em Maringá, no número 21102 da rua Rodolfo Cremm, numa construção tipo galpão rodeada por terrenos baldios, segundo mostra o último registro feito pelo Google Street View, em 2020. A farmacêutica maringaense que é parte em um contrato de mais de R$ 5 bilhões com o Ministério da Saúde, para compra de vacinas, tem o número de identificação do seu imóvel-sede apenas e tão somente escrito à mão no poste de ligação de energia.
Cereja: informações da imprensa dão conta de que por trás do pedido de liberação da vacina Convidecia na Anvisa estão Luciano Hang, Carlos Wizard e o outro sócio da Belcher, Emanuel Catori. Hang e Wizard são os dois grandes empresários brasileiros mais próximos do presidente da República. Um anda na garupa, o outro é do gabinete paralelo.
Pode ser apenas mais uma grande Convidecia, digo, coincidência, já que este é o país delas, vide a lista de condôminos do Vivendas da Barra.
Mas acho que convinha dar uma olhada no tocante a essa cuestão aí. Talquei?”
No dia seguinte, Hugo completou as informações:
“Muito além da Covaxin:
Ontem publiquei post sobre a ligação de Ricardo Barros com a família responsável pela Belcher, a farmacêutica de Maringá – reduto político de Barros – que assinou contrato com o Ministério da Saúde para intermediar a compra de uma vacina Chinesa chamada Convidecia por US$ 17 a dose, num negócio que vai passar de R$ 5 bilhões. Será a vacina mais cara do Brasil. O negócio está na dependência de aval da Anvisa.
Hoje acrescentei informações ao post. A principal, esta:
‘No dia 6 de janeiro de 2021, há poucos meses, portanto, foi aberta em Maringá a empresa Rcy Brasil & Belcher Spe Ltda, com atividade principal de ‘Comércio atacadista de medicamentos e drogas de uso humano’. No quadro de sócios e administradores da novíssima firma consta a Belcher e a Ribetech Participacoes Sociais LTDA, pessoa jurídica com capital social de mil reais representada pela pessoa física Francisco Feio Ribeiro Filho – Chiquinho Ribeiro, o velho conhecido de Ricardo Barros’.
‘A Rcy Brasil & Belcher funciona no mesmo endereço da Belcher em Maringá, no número 21102 da rua Rodolfo Cremm, numa construção tipo galpão rodeada por terrenos baldios, segundo mostra o último registro feito pelo Google Street View, em 2020. A farmacêutica maringaense que é parte em um contrato de mais de R$ 5 bilhões com o Ministério da Saúde tem o número de identificação do seu imóvel-sede apenas e tão somente escrito à mão no poste de ligação de energia’.”
Fonte: Revista Forum