CPI ouve Osmar Terra e sócio de ‘intermediária’ na compra de vacina indiana 11 vezes mais cara

Preço da indiana Covaxin saltou de US$ 1,34 para US$ 15 em seis meses. CPI ouve hoje “padrinho” Osmar Terra e acionará Interpol para localizar Carlos Wizard

O primeiro a ser ouvido pela CPI da Covid esta semana será o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), hoje (22). Em seguida, na quarta, a comissão ouve o empresário Francisco Emerson Maximiano, sócio da Precisa Medicamentos. Isso porque a empresa intermediou a compra da vacina indiana Covaxin por US$ 15 a dose, 1.000% mais cara do que o valor informado seis meses antes. Desse modo, a CPI entra esta semana na terceira fase. Depois de investigar o negacionismo do governo de Jair Bolsonaro e o “gabinete paralelo” (ou gabinete das sombras), a comissão vai se aprofundar no “caminho do dinheiro”. Assim, a investigação vai se concentrar nos lucros supostamente auferidos por fabricantes de medicamentos como hidroxicloroquina e ivermectina. E até de empresas produtoras de vacinas.

Esse roteiro já estava sendo desenhado na CPI. Há quinze dias Randolfe declarou ao programa Revista Brasil TVT que a comissão investigava a existência de um “esquema de pessoas ligadas a Bolsonaro e vultosas quantias de dinheiro para a defesa da cloroquina”. “A negativa da vacina foi motivada por dinheiro, por corrupção”, disse.

A semana começou com uma derrota do ex-chanceler Ernesto Araújo, no Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Alexandre de Moraes rejeitou nesta segunda-feira (21) um pedido do ex-ministro e manteve a quebra de seus sigilos telemático e telefônico determinada pela CPI.  O presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), anunciou para o próximo dia 30 (quarta-feira da semana que vem) o depoimento do empresário Carlos Wizard, cuja condução coercitiva foi autorizada pelo ministro Luís Roberto Barroso, do STF, na sexta-feira (18).

Segundo Aziz, a CPI vai acionar a Interpol para localizar o empresário. “Depois de dois meses de ser pública e notória a convocação da CPI ao senhor Carlos Wizard, ele agora diz que virá. Não custa nada, ainda assim, notificar a Interpol para deixar tudo formalizado”, escreveu o senador Renan Calheiros no Twitter.

Vacina 1.000% mais cara

O negacionismo se comprovou como uma política deliberada, segundo a apuração. De acordo com os senadores do G7, não como mera tese, mas com objetivos financeiros. Nesta terça (22), a CPI ouve o deputado Osmar Terra, um dos mais ativos e importantes conselheiros de Bolsonaro no “gabinete das sombras”. A existência do grupo foi confirmada concretamente com a divulgação de vídeo no início do mês pelo jornal Metrópoles. A gravação vazada mostra a oncologista Nise Yamaguchi afirmar ser “uma honra trabalhar com o senhor neste período”, referindo-se ao deputado. As mensagens de Terra que negavam a gravidade da pandemia foram disseminadas aos milhares por WhatsApp e Telegram desde o ano passado. No vídeo, um participante da reunião gravada dirigia-se a Osmar Terra como “padrinho”.

Na quarta (23), a CPI entra diretamente na terceira fase, com a oitiva do sócio da Precisa Medicamentos Francisco Emerson Maximiano. A comissão possui documento de inquérito do Ministério Público Federal que mostraria a Precisa como “intermediária” na compra da vacina indiana Covaxin antes da aprovação pela Anvisa. A CPI já aprovou a quebra dos sigilos telefônico, telemático, fiscal e bancário de Maximiano. Os senadores afirmam que o governo Bolsonaro mostrou empenho para comprar o imunizante, enquanto boicotou a Pfizer e a CoronaVac sistematicamente.

O contrato negociado pela Covaxin teria o valor de R$ 1,6 bilhão, com o preço de US$ 15 por dose. De acordo com reportagem do Estadão, telegrama localizado na embaixada brasileira na Índia, datado de agosto, sugeria o valor de US$ 1,34 por dose do imunizante da Bharat Biotech. Ou seja, o valor da compra, seis meses depois, ficou pouco mais de 1.000%, ou 11 vezes mais caro.

Tempo perdido

Segundo o jornal O Globo, o período entre a negociação e a assinatura do contrato para comprar a Covaxin demorou 97 dias. Com a Pfizer as tratativas levaram 330 dias e com a Sinovac, 154 dias. A AztraZeneca consumiu 123 dias de negociação e a da Janssen 184 dias. Um servidor da área técnica do Ministério da Saúde afirmou ter “sofrido pressão atípica” da gestão de Eduardo Pazuello, na tentativa de garantir a importação da vacina indiana, a mais cara. O funcionário declarou que a pressão era exercida pelo tenente-coronel Alex Lial Marinho – homem de confiança de Pazuello.

Na quinta-feira (24), os senadores recebem Filipe Martins, assessor internacional da Presidência da República, mais conhecido por fazer um gesto supremacista branco dos Estados Unidos no Senado. Na sexta (25), serão ouvidos Pedro Hallal, epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas, e Jurema Werneck, diretora-executiva da Anistia Internacional.

Confira a agenda da CPI na semana

Terça-feira (22) – deputado Osmar Terra (MDB-RS)

Quarta-feira (23) – Francisco Emerson Maximiano (sócio da Precisa Medicamentos)

Quinta-feira (24) – Filipe Martins (assessor internacional da Presidência da República)

Sexta-feira (25) – Pedro Hallal (epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas), e Jurema Werneck (diretora-executiva da Anistia Internacional)

Fonte: Rede Brasil Atual

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