Renda média do brasileiro cai abaixo de R$ 1 mil pela primeira vez em dez anos

O impacto da pandemia sobre o mercado de trabalho levou a renda média do brasileiro a ficar abaixo de R$ 1 mil pela primeira vez em dez anos. É o que mostra a pesquisa “Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia”, do Centro de Estudos FGV Social.

levantamento aponta que a renda média per capita chegou a alcançar o maior patamar da série no primeiro trimestre de 2020, mas despencou 11,3% em menos de um ano com a chegada da pandemia. Caiu de R$ 1.122 para R$ 995, na comparação do primeiro trimestre deste ano com igual período em 2020.

O estudo considerou a renda efetivamente recebida do trabalho dividida pelos integrantes da família e analisou os microdados da Pnad Contínua, do IBGE, cuja série histórica foi iniciada em 2012.

Pobres perderam mais

Os mais pobres sentiram ainda mais os impactos da pandemia sobre o mercado de trabalho. De acordo com a pesquisa, descontada a média móvel, a média da renda individual do trabalho caiu 10,89% no primeiro trimestre de 2021 em comparação com o mesmo período do ano passado.

A nova pobreza: ‘Aqui, a pandemia que a gente vive é a da fome’

Entre os mais pobres, esse percentual chegou a 20,81%. É uma queda quase duas vezes maior do que a da média.

Com o alto preço do gás, Simone, de 49 anos, é obrigada a retroceder à lenha para cozinhar no quintal de casa Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Com o alto preço do gás, Simone, de 49 anos, é obrigada a retroceder à lenha para cozinhar no quintal de casa Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Vitória dos Santos Macedo, de 21 anos, era ambulante na praia. Com a pandemia, deixou de trabalhar. Vivendo com o marido no Vale dos Eucaliptos, em Senador de Vasconcelos, Zona Oeste do Rio, a casa deles não tem água encanada, nem fogão, nem geladeira Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Vitória dos Santos Macedo, de 21 anos, era ambulante na praia. Com a pandemia, deixou de trabalhar. Vivendo com o marido no Vale dos Eucaliptos, em Senador de Vasconcelos, Zona Oeste do Rio, a casa deles não tem água encanada, nem fogão, nem geladeira Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Simone Souza Bernardes, 49 anos. Ela e os filhos, Aline, 6 anos, Marcos e Naiara, de 15, vivem na zona rural de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Simone Souza Bernardes, 49 anos. Ela e os filhos, Aline, 6 anos, Marcos e Naiara, de 15, vivem na zona rural de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Dados mostram que, com impacto da queda de renda durante a pandemia, 14% dos brasileiros que não eram considerados pobres em 2019 estão nesta situação em 2021 Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Dados mostram que, com impacto da queda de renda durante a pandemia, 14% dos brasileiros que não eram considerados pobres em 2019 estão nesta situação em 2021 Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
No caixote onde Simone está sentada, estão guardados os poucos mantimentos que se tem para a família, um pouco de farinha e feijão Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
No caixote onde Simone está sentada, estão guardados os poucos mantimentos que se tem para a família, um pouco de farinha e feijão Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
A pequena Aline come as migalhas de um bolo Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
A pequena Aline come as migalhas de um bolo Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Casal Gustavo Moura e Naomi da Silva, no quartinho onde vivem no Jardim dos Eucaliptos, em Senador Vasconcellos. Eles estão sem trabalhar e esperam o primeiro filho Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Casal Gustavo Moura e Naomi da Silva, no quartinho onde vivem no Jardim dos Eucaliptos, em Senador Vasconcellos. Eles estão sem trabalhar e esperam o primeiro filho Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Júlio, que preferiu não mostrar o rosto, era lanterneiro e perdeu o emprego na pandemia. Com problemas na família, foi morar recentemente na rua, dormindo na Praça Jardim do Méier, Zona Norte do Rio Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Júlio, que preferiu não mostrar o rosto, era lanterneiro e perdeu o emprego na pandemia. Com problemas na família, foi morar recentemente na rua, dormindo na Praça Jardim do Méier, Zona Norte do Rio Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

Desigualdade bate recorde

Os impactos da pandemia percebidos de forma distinta pelos diferentes grupos no mercado de trabalho também fez a desigualdade alcançar nível recorde no país. A pesquisa aponta que a diferença entre os ganhos de ricos e pobres deu um salto ao longo da pandemia de Covid-19.

O Índice de Gini, que mede a desigualdade, avançou para 0,674 no primeiro trimestre de 2021, contra 0,642 no mesmo período do ano passado. Na escala de Gini, quanto mais perto de 1, maior é a concentração da renda.

O aumento na desigualdade no período teve igual magnitude ao observado entre a crise econômica de 2015 até o início de 2020.

“O Brasil teve um péssimo desempenho em termos de desigualdade. A gente devolveu quase dois terços da queda de desigualdade que tínhamos obtido nesse século, isso na grande recessão e durante a pandemia”, disse o economista Marcelo Neri, diretor do FGV Social, que assina o estudo.

Brasileiros mais infelizes

O estudo também comparou a percepção de felicidade no Brasil com a de outros países, a partir de dados do Gallup World Poll. Em uma escala de 0 a 10, a satisfação do brasileiro ficou em 6,1 em 2020,menor nível da série histórica. Houve uma queda de 0,4 ponto percentual em relação a 2019.

Já a amostra da média de 40 países aponta que a avaliação ficou estagnada na passagem de 2019 para 2020: de 6,02 foi para 6,04.

“Podemos dizer que, infelizmente, a felicidade o brasileiro em termos relativos foi embora”, disse Neri.

O levantamento da FGV também evidencia que a queda na percepção de felicidade está diretamente relacionada à perda de renda: o recuo no indicador foi concentrado entre os 40% mais pobres e no grupo intermediário entre os 40% e 60% mais pobres.

Para os outros dois grupos de brasileiros com faixas de renda mais elevada, a avaliação não apresentou mudança significativa entre um ano e outro.

Fonte: O Globo

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