Considerações sobre a tática eleitoral do PT DF para 2022 (PARTE 1)

O contexto

1. A primeira coisa a se considerar para avaliar a tática eleitoral é compreender o contexto em que estamos.

2. Ao se levar em conta as fragilidades do partido atualmente (dificuldades organizativas, necessidade de reconexão com a periferia e capacidade comunicativa) e a brutal ofensiva dos setores conservadores nos encontramos numa situação de defensiva estratégica.

3. O problema decorrente dessa situação é que as fragilidades do partido impactam na organização dos trabalhadores e na sua capacidade de fazer luta social. Sem um partido atuante a classe tem dificuldades de se mobilizar. E, sem luta social e resistência política os conservadores avançam na retirada de direitos e nas formas de dominação econômica e cultural.

4. Portanto, fortalecer o partido é uma tarefa fundamental para a retomada da organização dos trabalhadores, o êxito da luta social e o resgate de uma agenda popular.

5. De fato, a atual direção do PT no DF tem agido para reorganizar o partido e essa atuação tem gerado resultados muito positivos. Porém, ainda será preciso mais tempo e esforço coletivo para que o PT/DF reconstitua de forma suficiente sua força comunicativa e consiga se reconectar com a periferia ao ponto de tornar-se novamente uma referencia política para o povo do Distrito Federal.

6. Enquanto isso, nos aproximamos de uma batalha política importante: as eleições de 2022 no DF. Como enfrentar essa batalha numa situação de defensiva estratégica?

A tática

7. Nesse tipo de situação uma coisa é fundamental: preservar nossas forças.

8. Contudo, preservar nossas forças não significa uma defesa passiva que ora subestima a força dos inimigos (presumindo que estão desgastados, que são burros e que não tem organização política) e ora subestima as nossas próprias forças (atribuindo uma força ao antipetismo que ele não tem e duvidando da capacidade de reação da militância de base).

9. Essas duas atitudes, na prática, reforçam a dispersão da militância e por tabela contribuem para o enfraquecimento da luta social e da resistência.

10. Numa situação de defensiva estratégica é preciso se defender de maneira ativa. Para isso, além das necessárias iniciativas de reorganização partidária e vinculo com o povo, o partido precisa desempenhar outro papel na trincheira da disputa eleitoral.

11. O PT/DF, como já foi demonstrado nas duas últimas eleições (2018 e 2014), tem poucas chances de vitória eleitoral nesse momento. Seja pela queda nas votações para deputados distritais e federais, seja pela diminuição de votos para governador, senado e, até mesmo, para presidente aqui no DF.

12. Diante desse cenário de dificuldades eleitorais, além da necessária reconstrução organizativa que já está em curso — e que poderá gerar no futuro um acumulo político suficiente para viabilizar vitórias eleitorais — resta ao PT/DF sair das eleições de 2022 com uma vitória política. Este deve ser o objetivo do partido no próximo período: construir as condições para uma vitória política em 2022.

13. Uma vitória política sem ilusões com uma vitória eleitoral é uma ação de defesa ativa. Mas, o que seria, na prática, uma vitória política para o PT/DF em 2022?

Reagrupar as nossas forças

14. O que pode configurar uma vitória política seria o partido sair das eleições com uma imagem diferente da que ele tem hoje na sociedade do DF. É voltar a representar a novidade no fazer político. Superar a imagem de partido tradicional e voltar a influenciar a agenda pública do DF com propostas inovadoras.

15. Ao mesmo tempo, é o partido elevar sua autoestima, e a militância partidária sair do processo eleitoral, além de animada, disposta a fazer política no período posterior às eleições. Ou seja, os filiados sentirem orgulho do papel que o partido cumpriu durante as disputa eleitoral e saírem motivados a militar politicamente. Algo bem diferente do que ocorreu em 2014 e 2018.

16. Mais do que isso, uma vitória política significa sair das eleições com uma grande unidade interna, que não se expressa no consenso de ideias, até porque a divergência de pensamento no PT é saudável e parte da sua força vital, mas unidade sobre o que fazer, sobre como atuar na sociedade.

17. Vitória política é o partido sair mais organizado socialmente. É o PT/DF ter conseguido ampliar alianças. Não com legendas que muitas vezes tem baixa representatividade social, mas ampliar seus vínculos para setores sociais que tenham enraizamento comunitário (alianças populares) e, assim, voltar a ser um polo atrativo e agregador não só da esquerda social e política no DF, mas uma referencia popular.

18. Claro que uma vitória política pode também impactar eleitoralmente aumentando o voto de legenda e o número de eleitos para deputado distrital e federal. Esse é o efeito que mais se espera da vitória política.

19. Aliás, no caso de vitória no cenário nacional, uma vitória política do PT/DF (com mais parlamentares e uma base social mais organizada) irá contribuir possibilitando melhores condições aqui em Brasília para o governo Lula avançar num programa que reverta os retrocessos e possibilite transformações mais duradouras.

A tática da tática

20. Mas, como alcançar isso? Como conquistar uma vitória política nesse cenário de defensiva estratégica?

21. Primeiro, evitando cometer os erros da eleição passada: falta de unidade programática, falta de visão estratégica comum, fragmentação e decisão sobre candidaturas sem a antecedência necessária.

22. Segundo, ter um partido mais organizado e mais mobilizado antes das eleições. É preciso acumular politicamente com lutas sociais antes da campanha eleitoral. Logo, é preciso continuar a intensificar as mobilizações com o projeto Sinergia Petista.

23. Terceiro, para que seja construída essa condição de vitória política, que anime a militância e reconstrua a imagem do partido na sociedade do DF, é preciso que o PT/DF inove na forma de agir nas eleições. Isso significa:

a) Apresentar um programa arrojado com soluções criativas para os velhos problemas do DF;

b) Ser referência em inovação na forma de fazer campanha;

c) Inovar, também, na forma de representar os eleitores radicalizando nos formatos democráticos-digitais, que podem retomar a confiança e inspirar uma dimensão positiva da política na população, como o PT já fez em outros momentos da sua história.

24. Quarto, o partido se organizar para as eleições com antecedência. Ou seja, definir a chapa proporcional um ano antes e tendo essa chapa uma linha programática (discurso), uma estratégia territorial, coesão e, principalmente, maior cooperação de recursos, ideias e comunicação.

25. Se considerarmos que a conjuntura está mais favorável do que em 2018. Isto é, ela continua difícil, porém, alguns aspectos mudaram e devem ser levados em conta como: o desgaste de Bolsonaro e de Ibaneis, as vitórias sobre a lava jato com a liberdade de lula e a recuperação dos seus direitos políticos, e a crescente insatisfação popular com a crise sanitária, a crise econômica e a crise social.

26. Sendo assim, das tarefas necessárias para uma vitória política, o PT/DF já tem, hoje, uma condição melhor de organização e mobilização interna. As instancias estão funcionando minimamente. A militância está mais atuante, nas ruas e nas redes e o partido tem debatido mais a conjuntura e refletido mais profundamente sobre os desafios do seu funcionamento. Pelo menos, se comparado com a situação de 2018.

27. Além disso, a antecedência necessária para construir melhores condições de disputa eleitoral está se viabilizando com o fato do partido ter começado 2021 debatendo a preparação para o processo eleitoral.

28. Agora, é importante destacar que uma campanha eleitoral, no caso da esquerda, depende de 4 recursos fundamentais, os quais não tivemos em 2018: a) tempo, b) um mínimo de acúmulo de luta social anterior a ao processo eleitoral, c) coesão e d) uma militância empolgada o suficiente para mudar o clima do processo eleitoral no DF.

29. Nesse sentido, para o partido ter uma tática eleitoral eficiente estaria apenas faltando:

a) produzir um programa, ao mesmo tempo, produto de um amplo processo participativo que anime a militância e que contenha novas ideias sem perder de vista as respostas para as necessidades urgentes do povo.

b) intensificar as ações de mobilização social e de atuação na organização popular junto as periferias do DF.

30. Com a construção dessas condições as possibilidades do PT/DF ter uma vitória política são reais.

José Ricardo Bianco Fonseca (Zé Ricardo) é militante do PT/DF desde 1989.

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