A revista alemã Der Spiegel fez uma longa reportagem sobre o governo local e afirma que a cidade é “uma ilha” dentro de um Brasil governado pela extrema direita
“Como uma ilha cercada pelo Brasil do presidente de direita Jair Bolsonaro, a cidade de Maricá está testando um totem esquerdista: a renda básica incondicional. Ele provou seu valor na crise da coroa”, é dessa maneira que a revista Der Spiegel abre uma longa reportagem sobre a gestão municipal do PT na cidade de Maricá, Rio de Janeiro.
“A cidade responsável por esta beneficência está localizada a cerca de 60 quilômetros (37 milhas) a leste do Rio de Janeiro, na costa do Atlântico. À primeira vista, Maricá é quase indistinguível de outras cidades brasileiras. Postos de gasolina, oficinas, restaurantes baratos e igrejas protestantes se alinham na artéria de quatro pistas que a conecta ao Rio”.
“Mas se você sair da estrada principal para o centro da cidade, a imagem muda. As ciclovias passam ao longo das estradas e as bicicletas podem ser emprestadas gratuitamente. Guardas de trânsito uniformizados ajudam crianças e idosos a atravessar a rua. Ao lado da praça principal da cidade, que está passando por reformas, há um novo cinema vermelho brilhante, construído pela agência de cultura da cidade. Os ônibus também são vermelhos, assim como as bicicletas emprestadas e a prefeitura. A escolha da cor não é acidental: aqui, proclama, os esquerdistas estão no poder”.
Em determinado momento, a publicação, uma das mais populares na Alemanha, chama atenção para o fato de que a gestão de Maricá é realizada “pelo partido do ex-presidente Lula”.
“Em um Brasil governado pelo presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, Maricá é como uma ilha. Com 160 mil habitantes, a comunidade é liderada pelo Partido dos Trabalhadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva há 12 anos e abriga uma experiência de novas políticas sociais voltadas para a igualdade de oportunidades e integração.
“Em Maricá, políticas que estão sendo discutidas como modelo em várias partes do mundo – principalmente para a era pós-corona – se tornaram realidade: renda básica incondicional, sistema de transporte público gratuito e saúde integral e gratuita. Cientistas sociais, economistas e políticos de todo o mundo estão prestando muita atenção”.
“Somos um laboratório de todo o Brasil”, afirma o ex-prefeito Washington Quaquá à revista. “O ex-prefeito Washington Quaquá, de 49 anos, governou a cidade de 2009 a 2017 e lançou as bases para a realidade de hoje. O jovial cientista social é uma figura importante do Partido dos Trabalhadores e é uma estrela em ascensão entre os protegidos do poderoso Lula.
A construção de uma plataforma de streaming local também ganhou espaço na reportagem. “A cidade também está construindo um parque tecnológico completo com universidade e fábricas. Como parte de uma cooperativa, a cidade planeja produzir chocolates premium e outros alimentos. Um centro de cinema e televisão deve produzir filmes que serão transmitidos em seu próprio serviço de streaming. Com esse ‘Netflix de esquerda’, como Quaquá o chama, Maricá espera entrar na batalha de ideias contra o presidente Bolsonaro e seus seguidores”.
“Alguns críticos acreditam que a riqueza do petróleo subiu para as cabeças dos administradores municipais. Mas Quaquá rebate essas críticas dizendo: “Quando chegamos ao poder, não recebíamos nenhuma taxa de licenciamento. E ainda alcançamos tudo o que nos propusemos a fazer”, diz a matéria.
Renda universal
A implantação da renda universal como ferramenta para combater a miséria, que depois de mostraria também eficaz durante a pandemia, é retratada como um passo fundamental rumo à utopia socialista.
“O próximo passo foi a introdução de Quaquá de uma renda básica incondicional para aqueles que vivem na pobreza. Cerca de um quarto da população da cidade – 42.000 pessoas – recebe dinheiro do estado. Basta comprovar que mora em Maricá há pelo menos três anos e não ganha mais de três salários-mínimos. Para receber o dinheiro, eles devem abrir uma conta em um banco da prefeitura e instalar um aplicativo em seus celulares. No início de cada mês, o dinheiro é depositado na conta pela prefeitura.
Em seguida, a revista alemã destaca a criação da moeda local, a Mumbuca. “A renda básica, porém, não é paga em reais, mas no Mumbuca, moeda digital que só circula em Maricá. Ele está vinculado ao real a uma taxa de câmbio de 1: 1 e representa uma tentativa de estimular a economia local. ‘As pessoas iam ao Rio para fazer compras’, diz Quaquá. Agora, eles gastam o dinheiro aqui’”.
“Aceitamos Mumbuca”, diziam as vitrines de grande parte das lojas da cidade. Também é aceito em restaurantes, consultórios médicos, salões de beleza e barbearias. Seu nome deve-se ao rio que atravessa a cidade.
Hoje Maricá (PT) é governada por Fabiano Horta, que também é do PT e sucedeu Quaquá.
Os lojistas locais ficaram inicialmente céticos. “Nós pensamos: que ideia maluca!” diz Delfim Moreira, presidente da associação comercial da cidade. Mas hoje, 9.400 empresas usam a moeda digital – muito mais do que aceitam Visa e Mastercard.
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Fonte: Revista Forum