No momento em que países hegemônicos, como China e Estados Unidos, disputam protagonismo no setor, Jair Bolsonaro (sem partido) extingue a fábrica de chips do Brasil, a Ceitec, que não só produz, mas também desenvolve e exporta novas tecnologias no segmento. O que ele fez com a Ceitec tem feito com a Petrobras, uma das três maiores e melhores empresas petrolíferas do mundo. Somente no governo Bolsonaro, a gestão da Petrobrás fechou 37.610 postos de trabalho.
Enquanto a gestão da Petrobrás resiste em absorver cerca de 150 trabalhadores da PBio, que, mesmo concursados, estão sendo “ofertados” junto com as unidades da subsidiária no processo de privatização, o risco iminente de um grande acidente ampliado nas instalações da empresa aumenta a cada dia. Estudos recentes produzidos pelo corpo gerencial da companhia, aos quais a FUP teve acesso, confirmam os alertas frequentes do movimento sindical: os atuais efetivos são insuficientes e o drástico quadro de redução imposto pela gestão coloca em risco a segurança dos trabalhadores, das unidades e do meio ambiente.
Segundo dados levantados pela equipe que elaborou um plano de ação corporativo para mitigar os “riscos empresariais” da falta de efetivo da Petrobrás, a probabilidade de acidentes e de danos aos trabalhadores e ao meio ambiente é altíssima. Como revelam as próprias gerências da empresa, a saída em massa dos trabalhadores nos planos de desligamento ofertados (PIDVs e PDVs) causou um “provimento inadequado de efetivo”, gerando a necessidade de “revisão do planejamento da demanda de mão de obra própria, podendo resultar em lacunas de efetivo necessário à consecução do Plano Estratégico da Companhia, com destaque para as atividades operacionais”.
Somente no governo Bolsonaro, a gestão da Petrobrás fechou 37.610 postos de trabalho na holding e nas subsidiárias, ao retirar dos quadros da empresa 14.311 trabalhadores próprios e 23.299 terceirizados. Entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020, houve uma redução de 22,6% no número de trabalhadores concursados, que caiu de 63.361 para 49.050. Entre os terceirizados, a queda foi de 20,1%, com a redução de 116.065 para 92.766 empregados contratados.
O levantamento dos “riscos empresariais” decorrentes da redução de efetivos da Petrobrás foi apresentado em maio deste ano e aponta uma estimativa de prejuízos na ordem de 750 milhões de dólares em “custos não programados, perdas advindas de parada de produção, impactos na reputação da Companhia e na segurança operacional”, incluindo “questionamentos legais referentes ao não cumprimento de efetivos mínimos legais” e “multa diária de órgãos de controle externo (MPT, marinha, ANP, IBAMA…)”.
As gerências da Petrobrás alertam para os riscos de acidentes operacionais e de danos aos trabalhadores e ao meio ambiente em consequência de “problemas operacionais por falta de pessoal ou por falta de capacitação das pessoas”. O levantamento aponta questões graves que a FUP e seus sindicatos vêm denunciando há tempos, como a falta de treinamento adequado, a multifunção, o excesso de dobras nas unidades operacionais e a perda de conhecimento técnico.
“Como que os gestores da empresa podem se negar a incorporar os 150 trabalhadores da PBio, subsidiária que é 100% Petrobrás? É um absurdo a resistência da empresa em absorver esses trabalhadores, quando poderia aloca-los nas unidades operacionais que estão com os efetivo reduzidos e sob a iminência de novos acidentes”, questiona o coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar.
Os constantes acidentes nas refinarias, plataformas e terminais comprovam o processo de desmantelamento em curso no Sistema Petrobrás, com impactos na vida dos trabalhadores, nas comunidades vizinhas e no meio ambiente. Os vazamentos de óleo mais do que triplicaram nos últimos anos, saltando de um volume de 70 metros cúbicos em 2014, para 415 metros cúbicos em 2019 e 216 metros cúbicos em 2020.
Como destaca o estudo feito pelas gerências, o “processo de otimização do número de pessoas e sem perspectiva de reposição, com perda de profissionais experientes” é um dos fatores de risco, assim como a “ausência de realização de treinamento decorrentes do não atendimento das exigências legais e normativas para atuação dos empregados em determinadas atividades, podendo gerar multas para a companhia, danos à saúde dos empregados”. Mas, em vez de priorizar a segurança, a gestão da Petrobrás só se preocupa em otimizar o lucro dos acionistas privados, mesmo que às custas da vida dos trabalhadores e do meio ambiente.
Fonte: O Cafezinho