Bolsonaro e CBF aceitaram receber a Copa América, cancelada na Argentina. Os advogados do partido encaminharam ao STF um pedido de tutela emergencial contra o evento esportivo
O Partido dos Trabalhadores contestou no Supremo Tribunal Federal (STF) a criminosa decisão de Jair Bolsonaro de realizar a Copa América no Brasil. Os advogados do PT encaminharam ao ministro Ricardo Lewandowski um pedido de tutela emergencial contra o evento esportivo, por este contrariar “os esforços engendrados por parte da sociedade brasileira para a contenção da pandemia” de Covid-19 (acesse aqui o documento).
Foi apresentado um adendo à Ação por Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) das Vacinas contra a Covid, da qual Lewandowski é relator. O pedido é para suspender todas as tratativas relacionadas à realização no Brasil da Copa América de Futebol 2021. O partido argumenta que a autorização da realização da competição no Brasil, decidida de última hora e sem transparência, é irresponsável e põe em risco a saúde da população do país e das delegações estrangeiras. Foram anexados à ação depoimentos de diversos especialistas em saúde pública que reagiram negativamente à realização da competição no país, argumentando que o ingresso e o trânsito interno no país de milhares de pessoas envolvidas na competição agravará os riscos de disseminação de novas cepas de coronavírus.
O anúncio de que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e o governo brasileiro aceitaram receber o torneio foi feito nesta segunda-feira (31) pela entidade organizadora do evento, a Conmebol. Segundo apuração do site UOL, o presidente da CBF, Rogério Langanke Caboclo, ligou para consultar Bolsonaro, que rapidamente deu o aval. Assim, apenas 12 horas depois de a competição ser cancelada na Argentina, o Brasil foi anunciado como nova sede.
Para a presidenta nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), a decisão é “inaceitável”. Ao aceitar abrigar o torneio no momento em que o país entra em uma terceira onda do coronavírus e já se aproxima de meio milhão de mortos, Bolsonaro mostra que não pode mais presidir o país.
Gleisi lembrou que o governo demorou três meses para responder a oferta de vacinas da Pfizer e outros quatro para finalmente comprá-las. “Bolsonaro ignorou diversos e-mails da Pfizer sobre ofertas de vacina e demorou meses para comprar as doses. Já o e-mail da Conmebol sobre o Brasil sediar a Copa América, o genocida respondeu prontamente e ainda aceitou trazer o torneio. Bolsonaro não pode mais presidir o Brasil!”, escreveu a deputada no Twitter.
O ex-ministro da Saúde e deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) também criticou duramente a decisão de Bolsonaro, que classificou como “absurda”. “Continuaremos defendendo a vida, a vacinação ampla e irrestrita e medidas que busquem controlar a disseminação de novas cepas e a segurança para o povo”, afirmou Padilha no Twitter, chamando o torneio de Copa da Morte.
Já o secretário nacional de Comunicação do PT, Jilmar Tatto, disse que o atual presidente “ultrapassou todos os limites do bom senso”. “Três meses pra responder e-mail pra Pfizer sobre vacinas. 12h pra aceitar sediar a Copa América em cidades que estão colapsadas pela pandemia”, ressaltou.
O governador do Piauí, Wellington Dias, também ressaltou a disparidade entre a pressa para dizer sim ao torneio e a morosidade para adquirir imunizante. “Muito facilmente, o governo federal brasileiro disse sim para que possamos sediar a Copa América. A pergunta que eu faço é: e as vacinas? É a vacina que nos coloca em um patamar seguro. Eu quero ver essa mesma agilidade do Brasil, através de suas autoridades, atrás de mais vacina”, cobrou Dias, que é presidente do Consórcio Nordeste e coordenador da temática Estratégia para vacina contra Covid-19 do Fórum de Governadores.
Indignação nacional
Longe de ser apenas uma reação do PT, a decisão causou revolta em toda a sociedade brasileira, que já não aguenta mais os demandos e a desumanidade de Bolsonaro diante de tantas mortes. Não por acaso, no último sábado, as ruas de mais de 200 cidades receberam atos por seu impeachment, com várias delas reunindo milhares de pessoas. Após a notícia, líderes políticos de diferentes partidos e jornalistas esportivos reagiram veementemente contra a realização do torneio. Vice-presidente da CPI da Covid, o senador Randolfe Rodrigues (Repe-AP), anunciou a convocação do presidente da CBF.
Uma das declarações, a do jornalista da SporTV Luís Roberto de MEucio, logo viralizou nas redes sociais. Exaltado, o repórter chama a decisão de Bolsonaro de “tapa na cara dos brasileiros” e conclama: “A sociedade brasileira, a coletividade do futebol, não pode aceitar essa decisão” (assista abaixo).
A fala de Luís Roberto foi elogiada pelo neurocientista Miguel Nicolelis: “Parabéns ao jornalista pela manifestação inequívoca em relação ao escárnio que Conmebol e CBF pretendem realizar no Brasil. Que outros jornalistas de peso acompanhem e ampliem a nossa indignação enquanto brasileiros e vítimas de um genocídio sem precedentes!”
Fonte: PT