Quem acompanhou a grande imprensa brasileira – especialmente Globo, Estadão e Folha – nos últimos dez dias deve concordar com o título deste texto. No fim de semana passado, essa imprensa conservadora deu amplo destaque para as atividades (de campanha, diga-se) do presidente Bolsonaro, incluindo um grande ato de motociclistas, conduzido por ele.
Não criticaram o presidente por usar dinheiro público para sua proteção num ato que não tinha nada a ver com o cargo que ocupa mas, ao contrário, era um ato contra o distanciamento social, contra as vacinas, contra as máscaras e pelo uso de medicamentos ineficazes em tratamentos precoces. Enfim, atos carregados de ódio bolsonarista, atos contra a vida.
O Globo, no fim de semana passado, deu foto de meia página na capa, com Bolsonaro na moto, sem máscara, seguido por centenas de motoqueiros, atraídos por promessa de isenção de pedágios para motos. O Globo passou a ideia de se tratar de ato espontâneo de apoio às necropolíticas do presidente, que age como fazia Mussolini, o maior líder fascista na década de 30 do século passado.
Essa imprensa se omitiu, vergonhosamente, diante de mais uma evidente atividade ilegal, como o presidente tem prazer diário de esfregar na cara do povo brasileiro, sem um pio das elites. Aglomerações, sem máscara, pregando contra as vacinas e a favor da cloroquina.
Neste sábado, 29 de maio, o povo foi às ruas para protestar contra o desastroso governo Bolsonaro, exigindo mais vacinas e auxílio emergencial digno aos milhões de atingidos por dois grandes problemas: a política de desemprego em massa provocada pelas medidas e omissões de Bolsonaro, antes e durante a pandemia do coronavírus.
Hoje, dia 30 de maio, olhando as capas dos principais jornais, constatamos discretíssimas menções dessas atividades, sempre acompanhadas da informação relativa à aglomeração – para deixar implícito que a oposição também promove esse tipo de descuido – e sem explicitar os reais motivos pelos quais o povo resolveu correr o risco de ir às ruas.
Houve violência policial contra manifestantes pacíficos, em Recife, que incluiu jato de gás de pimenta no rosto da vereadora do PT, Liana Cirne e tiros de balas de borracha contra os manifestantes. A imprensa conservadora brasileira, se não fosse uma vergonha mundial, chamaria a atenção da diferença de como são tratadas, pelas polícias militares, as manifestações populares legítimas e as manifestações ilegais, de campanha a favor da Covid, pelo presidente Bolsonaro.
Para se ter uma ideia dessa atuação vergonhosa da imprensa conservadora brasileira, o The Guardian – jornal diário britânico – mencionou manifestações com dezenas de milhares de pessoas e não apenas milhares, como informou a nossa imprensa. Consultando-se os vídeos existentes, constata-se que o número de manifestantes, no país, esteve na casa de algumas centenas de milhares de pessoas. O que é suficiente para aumentar a pressão sobre a CPI da Covid e sobre o governo federal.
Mas a imprensa conservadora, que é vergonha mundial, é incapaz de fazer um movimento mais radical pela saúde e pela vida. Ao contrário, mostra que está comprometida profundamente com esse governo que eles elegeram, construindo e apoiando o golpe contra a presidenta Dilma e, paralelamente, demonizando e construindo a maior fraude política em nosso país, que foi a condenação e prisão de Lula, por mais de 500 dias, que levou a que ele fosse impedido de participar e de vencer as eleições de 2018.
Seria importante frisar que partidos de esquerda exageraram no pedido de cautela na participação popular nos eventos. Ainda assim, entre os riscos do vírus mortal Bolsonavírus e do coronavírus, resolveram lutar contra o primeiro, que pode causar milhões de mortos e sequelados.
Essa imprensa, que bem representa elite conservadora brasileira, já carrega a culpa de ter levado Bolsonaro à Presidência, em 2018. Mas a marcha da insensatez das elites brasileiras poderia fazer com que Bolsonaro e seu projeto de destruição do país, especialmente da classe trabalhadora, vencessem novamente em 2022. O que o povo demonstrou ontem que não permitirá que ocorra.
No sábado 29, mostramos que somos capazes de lutar contra esse projeto das elites e ir às ruas com protocolos sanitários adequados. A partir de agora, outras manifestações de maior magnitude virão. Quem viver, verá!
Editorial do Jornal Brasil Popular do dia 30/5