Fiocruz: Pandemia deve piorar e controle exige vacinar pelo menos 70% da população

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) estima que, sem a vacinação de pelo menos 70% da população, o Brasil não controlará a pandemia. A análise consta do novo Boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz, divulgado hoje e que alerta para o recrudescimento da doença no país nas próximas semanas.

Os pesquisadores ressaltam que, mantidas as tendências dos atuais indicadores, o estudo sinaliza uma nova elevação do número médio de óbitos para um patamar em torno de 2.200 por dia. Na Semana Epidemiológica 20 (de 16 a 22 de maio), a análise mostra que houve um aumento das taxas de incidência de casos novos de covid-19.

Além disso, o estudo mostra que os índices de positividade dos testes para diagnóstico realizados permanecem em altos patamares, demonstrando a circulação intensa do vírus Sars-CoV-2. Essas novas infecções podem resultar em casos graves de covid-19, afirmam os pesquisadores responsáveis pelo Boletim.

Outra questão preocupante é o rejuvenescimento da pandemia que, associada à circulação de novas variantes do vírus no país, torna mais críticas as consequências entre grupos mais jovens. O estudo conclui que a maior exposição desta faixa etária está associada a condições precárias de trabalho e transporte, além da retomada de atividades econômicas e de lazer, que vêm sendo efetivadas em diversos Estados e municípios, com a flexibilização das restrições vigentes em março.

“Esse contexto vai gerar novas pressões sobre todo o sistema de saúde. O aumento no número de internações, demonstrado pelo novo aumento das taxas de ocupação dos leitos de UTI é resultado desse novo quadro da pandemia no Brasil”, diz o boletim.

Os pesquisadores são categóricos em destacar que é premente a intensificação de ações de vigilância em saúde, o reforço de estratégias de testagem de casos suspeitos e seus contatos (incluindo a vigilância genômica), além do controle de voos internacionais e a manutenção de restrições de eventos de massa e atividades que promovam a interação e infecção de grupos suscetíveis. Simultaneamente, são necessárias medidas de preparação do sistema de saúde, desde a sincronização com a atenção primária em saúde, até a organização da média e alta complexidade, incluindo a oferta de leitos clínicos e UTIs covid-19, e garantia da oferta de insumos.

O boletim mostra ainda que entre os dias 17 e 24 de maio as taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS) aumentaram ou se mantiveram estáveis, em níveis elevados, em praticamente todo o Brasil. Isso reforçaria a avaliação de que a tendência de queda, que vinha sendo observada até por volta do dia 10 deste mês, se interrompeu.

Oito Estados e o Distrito Federal encontram-se com taxas de ocupação iguais ou superiores a 90%: Piauí (91%), Ceará (92%), Rio Grande do Norte (97%), Pernambuco (98%), Sergipe (99%), Paraná (96%), Santa Catarina (95%), Mato Grosso do Sul (99%) e Distrito Federal (96%).

Nove Estados apresentam taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos entre 80% e 89%: Roraima (83%), Tocantins (86%), Alagoas (89%), Bahia (83%), Minas Gerais (80%), Rio de Janeiro (83%), São Paulo (80%), Mato Grosso (87%) e Goiás (84%). Sete Estados estão na zona de alerta intermediário (entre 60% e 79%): Rondônia (79%), Pará (73%), Amapá (72%), Maranhão (76%), Paraíba (75%), Espírito Santo (79%) e Rio Grande do Sul (79%). Dois Estados estão fora da zona de alerta: Acre (47%) e Amazonas (57%).

“É fundamental acelerar a velocidade de vacinação da população, em curto prazo, complementando a capacidade de produção pela Fiocruz e pelo Instituto Butantan com aquisição de mais vacinas. Estima-se que, sem a vacinação de pelo menos 70% da população, não se terá o controle da pandemia no país. Enquanto esse objetivo não for atingido, urge que se mantenham medidas rígidas de controle da pandemia e se persiga a queda sustentada de casos, tendo como visão a sua erradicação”, ressalta o boletim.

Fonte: Valor

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