O ritmo desigual do acesso às vacinas anticovid pode se estender até 2023 e, assim, atrasar o fim da pandemia. Essa é a análise de Chris Beyrer, professor da Escola de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins.
“Enquanto houver um grande número de pessoas suscetíveis não imunizadas, o vírus vai continuar evoluindo, nós já estamos vendo isso com as novas variantes”, disse ele em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada nesta 2ª feira (24.mai.2021).
Segundo Beyrer, essa demora pode minar os efeitos das vacinas já aplicadas.
“Os imunizantes da Pfizer e da Moderna que estamos usando agora foram desenvolvidos a partir do vírus encontrado em um paciente de Washington em março do ano passado. Eles já estão desatualizados em 14 meses”, falou.
“Estamos preocupados que se continuarmos nessa terrível desigualdade, o vírus vai escapar das vacinas atuais. Se isso acontecer, teremos que reimunizar as pessoas ou criar novas vacinas, e nesse caso veremos países ricos comprando doses e podemos continuar nessa dinâmica em 2023.”
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), os países de alta renda compraram 45% das vacinas disponíveis. Eles detêm 15% da população mundial.
“Os países de média e baixa média representam quase metade da população mundial, mas receberam apenas 17% das vacinas mundiais”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em 20 de maio.
Ao menos 10 países ainda nem começaram a vacinar seus habitantes. A maioria está na África, como Chade, Burkina Faso e Tanzânia.
A compra de mais doses do que o necessário por parte dos países ricos é um dos problemas apontados por Beyrer. O outro é que algumas das vacinas presentes no mercado parecem não proteger tanto contra as novas variantes.
“Temos o caso do Chile, por exemplo, onde há alta cobertura, mas com a CoronaVac, e não vemos diminuição significativa em taxas de infecção e de hospitalização”, falou.
“Nós precisaremos focar em expandir a fabricação e distribuir mais igualmente as vacinas de alta eficácia. São elas que realmente vão acabar com a pandemia.”
Beyrer citou como vacinas de alta eficácia as que usam a tecnologia de RNA mensageiro, como as da Pfizer e da Moderna.
“Nós já sabemos que ao menos uma variante, a identificada na África do Sul, reduz a eficácia da proteção da vacina da AstraZeneca. Não é o futuro, está aqui agora. De qualquer forma, as vacinas de RNA mensageiro parecem robustas. Elas parecem aguentar essas variantes”, falou.
Estudo realizado no Japão e divulgado em meados de maio indicou que a vacina da Pfizer imuniza contra todas as cepas do coronavírus.
Uma equipe de pesquisadores da Universidade Municipal de Yokohama examinou amostras de sangue de 105 profissionais de saúde no Japão que receberam duas doses da vacina Pfizer/BioNTech entre março e abril.
Constatou-se que 89% dos indivíduos apresentaram quantidade suficiente de anticorpos tidos como eficazes contra 7 variantes do novo coronavírus propagadas no Reino Unido, na África do Sul, no Brasil e em outros países.
Também em maio, a Moderna anunciou que informações preliminares de um estudo com 40 pessoas apontou que uma 3ª dose de seu imunizante ou de uma nova candidata a vacina aumentam a proteção contra as variantes da covid-19 brasileira e sul-africana.
Apesar de não usar a tecnologia RNAm, a vacina da AstraZeneca também oferece proteção contra algumas variantes, de acordo com um estudo preliminar do PHE (Public Health England), da Inglaterra.
A pesquisa mostrou que duas doses das vacinas Pfizer/BioNTech e AstraZeneca oferecem proteção de 81% contra a cepa indiana e 87% contra a britânica.
Fonte: Poder 360