Por Moisés Mendes*
A família Bolsonaro, e não só o pai dos garotos, tinha certeza de que Sergio Moro iria aparelhar a Polícia Federal. Era uma das principais tarefas do ex-juiz a serviço da facção no poder.
Mas Sergio Moro não quis ou não soube atender às expectativas de Bolsonaro, como ficou claro naquela famosa reunião filmada de abril do ano passado, aquela da boiada de Salles e das hemorroidas de Bolsonaro.
Moro pode ter amarelado por sentir falta do suporte operacional e afetivo de um Dallagnol. Pode ter se assustado porque Brasília não é Curitiba ou pode ter percebido que não teria nunca o controle da PF.
O desfecho dos desentendimentos entre Bolsonaro e Moro se deu por causa da PF. O ex-juiz saltou fora da incumbência de Bolsonaro de transformar a instituição num aparelho de arapongas, e ali se deu o desenlace.
Sua acusação de que o ex-chefe interferia politicamente na PF resultou em inquérito, mas sem chance de que resulte em alguma coisa (já foi prorrogado por três vezes pelo ministro Alexandre de Moraes, e o novo prazo vence dia 27 de julho).
Bolsonaro manobrou do jeito que deu, com várias trocas no comando, para ter o controle absoluto da PF. Mas quem conhece a instituição sabe que não há como ter esse controle total.PUBLICIDADE
O que aconteceu agora com a pedalada na porteira de Ricardo Salles pode ter sido o início da reação, depois de Bolsonaro ter autorizado Salles a desqualificar e desmontar as ações dos policiais contra contrabandistas de madeira.
A Polícia Federal sabe muitas coisas que nós somente saberemos mais adiante sobre o envolvimento de Salles com os bandidos saqueadores da Amazônia.
Como disse o delegado Alexandre Saraiva, perseguido por Salles por autuar bandidos, nesse trecho bíblico:
“Regozijem-se os campos e tudo o que neles há! Cantem de alegria todas as árvores da floresta.”
Mas há uma questão decisiva para que essa reação não seja incompleta. A PF não pode se rebelar apenas contra o esquemão de Salles e Bolsonaro na Amazônia.
O desvendamento de toda a estrutura podre dos Bolsonaros, nas mais variadas frentes, depende da capacidade da PF de preservar a própria instituição da tentativa de aparelhamento pela família.
O constrangedor nisso tudo é que, enquanto a PF reage, continua o total alheamento de Hamilton Mourão, presidente do Conselho Nacional da Amazônia.
Será que Mourão nunca desconfiou das ligações de Salles com grileiros, desmatadores e contrabandistas de madeira?
Por Moisés Mendes, Jornalista