De novembro de 2020 a abril de 2021, a maioria dos 33 partidos políticos do Distrito Federal sofreu uma desidratação. Mais de cinco mil eleitores cancelaram suas filiações a 21 partidos. Apenas onze apresentaram elevação de militantes registrados. O destaque ficou para o Psol que cresceu 16,62%, enquanto partidos tradicionais como o PSDB, do senador Izalci Lucas, o PP, da deputada Celina Leão, e o DEM, do coronel Alberto Fraga apresentaram queda no volume de eleitores associados. O PT permanece como a maior agremiação partidária da Capital Federal.
Faltando dezessete meses para as eleições, o volume de filiados a partidos no Distrito Federal caiu 2,46%. Em relação a novembro de 2020, são 5.391 eleitores a menos, que decidiram deixar de militar organicamente numa agremiação partidária. Esse retrato é fruto da perda de associados em 21 dos 33 partidos formalmente inscritos na Justiça Eleitoral. Nesse cenário que pode demonstrar desencanto pelas maiorias das siglas, um partido, contudo, demonstrou musculatura: o Psol. De novembro a abril, cresceu 16,62%, subiu um degrau na escala de filiados, passando do PSB, e assumindo a 12ª colocação dos maiores partidos. Está a 60 filiados para entrar no seleto grupo dos dez maiores partidos do Distrito Federal.
Para o analista político, Mellilo Dinis, enquanto alguns partidos lutam para crescer, como o Psol, outros se desidratam a olhos vistos. “Há diversos fatores: desencanto com a política, pouca vida partidária, dificuldades de encontrar projetos e propostas que superem a identificação com um ou outro nome na política, distanciamento entre bases e direção – explica ele.
“Os partidos estão em descrédito não só no Brasil, mas em inúmeros países – explica o consultor Hélio Doyle – conseguir aumentar o número de filiados nessas circunstâncias é uma façanha, ainda mais quando são partidos que não estão no poder. Mas ainda falta muito para que os partidos brasileiros ganhem real representatividade e que o número de filiados signifique militância efetiva.”
“Os partidos políticos, exceto os mais orgânicos e ideológicos, quase sempre, são ‘pequenas empresas e grandes negócios’. Portanto, tem uma variação de membros das agremiações muito grande. Esta, em grande parte, decorre da percepção de parte da população em que as burocracias partidárias não são transparentes, democráticas e nem participativas. É quase sempre o mesmo grupo que dirige a maioria dos partidos. Este quadro, mesmo no DF, que têm uma população mais politizada, vai reduzindo os números de filiados, enquanto os políticos continuam na ilusão de comprar gato por lebre” – complementa Mellilo Dinis.
Maior legenda
O maior partido da Capital Federal continua sendo o PT, mas o partido ficou meio estacionado nos últimos cinco meses, cresceu apenas, 0,23%, e conta hoje com 31.629. Esse volume de filiados, praticamente, já assegura ao PT uma cadeira na Câmara Legislativa.
Também figurando dentre os maiores partidos estão, na sequência, o MDB, do governador Ibaneis Rocha, que ampliou seu plantel em 2,03%, o PSDB, do senador Izalci Lucas, o PP, da deputada Celina Leão, e o DEM, do coronel Alberto Fraga. A diferença, é que esses três outros partidos apresentaram queda no volume de eleitores associados.
No PSDB, que em novembro de 2020, já havia perdido 27% dos seus quadros, quando comparado a outubro de 2019, voltou a apresentar queda, dessa vez de 1%. As reduções no PP e no DEM foram, respectivamente de 1,89% e 1,86%. Percentual semelhante ao PSC, que perdeu 1,16%, mas mantem a 6ª colocação dentre as grandes siglas.
O bloco dos dez maiores se complementa com PDT, do distrital Reginaldo Veras, o PL, da deputada e hoje ministra de Bolsonaro, Flávia Arruda, o PTB, da distrital Jaqueline Silva, e o Solidariedade, do ex-deputado Augusto Carvalho. Desses quatro, PDT e PL cresceram um pouco, mas cresceram, 0,13% e 0,94%, respectivamente. Os outros dois tiveram reduções: -0,98% e -0,62%.
Médio Porte
O segundo pelotão com os dez partidos de médio porte é liderado, pela ordem, por PSL, da Bia Kicis, PSOL, fundado há poucos anos por lideranças como a ex-deputada Maria José Maninha, e o PSB, do ex-governador Rodrigo Rollemberg. A diferença de quantitativos de plantéis entre eles é muito pequena. E, considerando que o PSL ficou estagnado e que o PSB apresentou redução de seu quadro (vide tabela), pode se supor que em outubro desse ano, quando a Justiça Eleitoral vier a apresentar o novo balanço de filiados, que o Psol tenha superado o PSL, principalmente, pelo fato do presidente Jair Bolsonaro tender a entrar em outro partido e, como ele, trazer seus simpatizantes.
Republicanos, de Rodrigo Delmasso, Cidadania, do ex-governador Cristovam Buarque, Podemos, de Reguffe, ocupam da 14ª à 16ª posição. Dos três só o Republicanos apresentou crescimento: +3,38%. Fechando o bloco intermediário estão PRTB, que vice-presidente Hamilton Mourão, o PCdoB, que tem na sua direção candanga o filho do ex-presidente João Goulart – Jango Filho, o Avante, presidido pelo vice-governador Paco Brito, e PTC. Em comum a todos eles está o fato de estarem perdendo filiados, a uma média de 0,81%.
Terceiro pelotão
Patriota, PMN, Pros, PV, DC, Novo, Rede, PSD, PCB, PSTU, PMB, PCO, UP, além de formarem o terceiro pelotão, que reúne micros e pequenos partidos – por quantidade de afiliados –, trazem em comum também o desafio da sobrevivência no mundo político. Nessa relação, o Partido Verde, com 1.397 filiados fecha a no,inata de agremialçoes com mais de mil filiados. Todos os demais estão abaixo.
Vários desses partidos não conseguiram superar a cláusula de barreira na eleição passada ou passaram raspando e vão enfrentar um desafio ainda maior em 2022, pois as exigências legais serão maiores, devendo eleger um mínimo de onze deputados federais ou um quantitativo de votos equivalente a 2,5% da votação nacional. É possível que em abril haja uma dança das cadeiras e políticos hoje eleitos ou lideranças de maior prestigio migrem para partidos de maior estrutura. Ocorrendo isso, a tendência é a desidratação ainda maior de algumas legendas e até a possibilidade de extinção ou absorção delas por partidos maiores. Daí a importância de os partidos terem um amplo quadro de filiados. Isso pode ser a diferença entre a morte ou a sobrevivência na floresta eleitoral.
Chico Sant’Anna