Governo pagou R$ 30 mil para médico bolsonarista fechar contrato com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) para produzir manual sobre kit covid. Parecer da Conitec não recomenda uso de cloroquina
Na contramão das recomendações de autoridades mundiais de saúde, Jair Bolsonaro apostou tudo na estratégia de colocar a vida da população em risco, seja por aglomerações ou pela recomendação de medicamentos ineficazes contra a Covid-19, caso da cloroquina. Segundo reportagem do jornal O Globo, a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) foi procurada pelo Ministério da Saúde em novembro de 2020 para produzir um manual sobre “tratamento precoce” contra a doença pela administração de drogas como a cloroquina e a ivermectina. A cloroquina já foi associada, inclusive, a mortes de pacientes que fizeram nebulização. Enquanto isso, o governo ignorava oferta de vacinas da Pfizer.
De acordo com o jornal, o médico Ricardo Zimerman, um garoto propaganda do uso de drogas sem comprovação científica contra a Covid-19 nas redes sociais, ficou responsável pela elaboração do manual. Zimerman integrou a desastrosa missão que foi enviada para Manaus em janeiro, quando o estado do Amazonas enfrentava o primeiro colapso do sistema de saúde. Ele recebeu R$ 30 mil da pasta pelo trabalho.
Neste final de semana, reportagem da Folha de S. Paulo revelou que um parecer preliminar da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) não recomenda o uso de cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina para tratamento de Covid-19. O documento ainda será disponibilizado para consulta pública pelo período de dez dias.
“O governo federal escolheu a ineficácia, escolheu negar a ciência e ficar do lado do vírus”, criticou o senador Humberto Costa (P-PE). “Tragédia”, lamentou Costa.
Segundo a reportagem do Globo, o manual, que não chegou a ser lançado, pregava o uso de cloroquina, ivermectina e azitromicina em pacientes com Covid-1d e foi pedido pela secretário de Ciência e Tecnologia, Inovações e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde, Helio Angotti Neto.
A contratação ocorreu depois que a Opas apresentou a conclusão de um estudo, no dia 30 de outubro, que apontava a ineficácia da cloroquina no tratamento preventivo da doença. De acordo com o documento, não houve redução de mortalidade e internação em razão do uso da droga.
De acordo com o jornal, o Ministério da Saúde informou que “procede constante levantamento de evidências científicas” e que conta com “aporte de consultores externos ad hoc para eventuais avaliações de expertise técnica”.
A revelação do jornal acontece em péssimo momento para o governo. Nesta quinta-feira (20), a CPI da Covid ouvirá a médica Mayra Pinheiro, conhecida como capitão cloroquina. Pinheiro é secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde e, curiosamente, recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para ter o direito de ficar calada na sessão.
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