A3ª pesquisa consecutiva do PoderData mostrando uma vitória de Luiz Inácio Lula da Silva sobre Jair Bolsonaro nas eleições do ano que vem consolidam um cenário de retorno do PT ao poder, inesperado até entre os petistas poucos meses atrás. Em março, Lula vencia Bolsonaro na pesquisa PoderData por 41% a 36%. Em abril, 52% a 34%.
Agora, mesmo com o retorno do auxílio emergencial, eles oscilaram na margem de erro, e Lula bate o presidente por 50% a 35%.
No curto prazo, esse inédito favoritismo de Lula faltando 17 meses para as eleições deve produzir as seguintes reações:
Se a elite concluir que Bolsonaro está fadado a perder, ou ela retorna aos braços de Lula ou ela abandona o presidente já e corre para formar um outro adversário contra o PT. É possível que tente as duas opções simultaneamente.
Bancos têm procurado interlocutores do PT em busca de informações sobre como seria um 3º governo Lula. Por enquanto, a única informação que recebem é para dispensar os textos da Fundação Perseu Abramo e esperar um pouco mais para que o próprio Lula autorize os contatos.
É irônico. Em junho de 2018, 2 dos 5 maiores bancos brasileiros, se recusaram a receber uma equipe do PT para debater cenários econômicos alegando problemas de agenda. Na verdade, não queriam nem ouvir o que o PT tinha a dizer, mesmo sabendo que o partido poderia vencer as eleições. Depois do fracasso da política econômica de Paulo Guedes, o cenário mudou.
Empresários que assediaram seus empregados para vestir camisetas amarelas pelo impeachment em 2016 agora buscam reconstruir pontes. Embora o antipetismo seja a regra, há um profundo cansaço na elite corporativa com o estilo Bolsonaro de governar por conflitos.
O timing para se construir a famosa opção da “3ª Via” pode ter se perdido, mas até por sobrevivência política é impossível que partidos como PSDB e PDT não apresentem candidatos. Hoje a única possibilidade de viabilizar um 3º candidato seria um eventual derretimento público do governo Bolsonaro, o que não parece provável. Nessa hipótese, seria natural que os eleitores antipetistas de Bolsonaro transferissem os seus votos, como aconteceu em 2014 quando os votos pró-Marina Silva terminaram com Aécio Neves.
Sempre que está acuado, Bolsonaro foge para a frente, radicalizando o discurso nas redes sociais e animando a sua massa. Atrás nas pesquisas, o presidente irá insistir no projeto de voto por cédula como único modo de evitar fraudes, preparando o terreno para contestar uma eventual derrota em outubro de 2022. A possibilidade de uma quartelada não deve ser minimizada.
Sempre que assiste Bolsonaro acuado, o Centrão aumenta o seu preço para permanecer ao lado do governo. Com uma CPI no Senado batendo no governo sem dó, o presidente da Câmara, Arthur Lira, vai pedir uma fatia ainda maior no orçamento. Aumentam as chances de recriação do Ministério do Planejamento. Na corrida por bondades, esqueça privatizações dos Correios ou reformas que retirem direitos dos servidores públicos.
Ao mesmo tempo que apela para o seu núcleo duro, Bolsonaro vai abrir as portas para mais gastos. O auxílio emergencial será renovado até o final do ano ou o Bolsa Família irá incorporar 10 milhões de novos participantes, o que for mais fácil aprovar no Congresso.
Fraco, Bolsonaro tentará vender a imagem uma polarização com uma inexistente extrema esquerda, alimentar teorias da conspiração para não aceitar o resultado e abrir os cofres do orçamento como se não houvesse amanhã.