OMS classifica variante da Covid-19 descoberta na Índia como ‘preocupante’

A variante do coronavírus descoberta na Índia, a chamada “B.1.617”, foi classificada como “preocupante”, anunciou nesta segunda-feira 10 a Organização Mundial de Saúde (OMS), em particular por ser mais contagiosa.

“Há informações de que a B.1.617 é mais contagiosa”, mas também há evidências que sugerem “um certo grau de resistência às vacinas” e, “portanto, classificamos como uma variante de preocupação global”, disse a médica e pesquisadora Maria Van Kerkhove, gerente técnica da luta contra a Covid-19 da OMS.

A cientista explicou que mais detalhes serão publicados na terça-feira 11 no relatório epidemiológico semanal da agência da ONU. Ela ressalta que ainda há muitas pesquisas a serem feitas sobre essa variante, principalmente por meio do aumento do sequenciamento, para saber “quanto desse vírus circula”, mas também o grau de “gravidade” com o qual atenua a eficácia das vacinas.

“Não temos nada que indique neste momento que os nossos diagnósticos, os nossos medicamentos e as nossas vacinas não funcionem [contra a variante]. E isso é importante”, frisou a cientista, insistindo no fato de que devemos continuar a aplicar medidas de saúde, como o distanciamento social, o uso de máscaras de proteção e a redução de contatos.

“Continuaremos a observar variantes preocupantes e devemos fazer todo o possível para limitar a transmissão e as infecções, prevenir o contágio e reduzir a gravidade da doença”, insistiu a especialista.

Essa variante é uma das razões – mas longe de ser a única – que explica a explosão da pandemia na Índia, o pior foco do surto no mundo hoje. De acordo com estatísticas oficiais, cerca de 4.000 pessoas morrem atualmente a cada dia de Covid-19 na Índia, onde o número total de vítimas da epidemia é de quase 250.000 mortes.

Muitos especialistas consideram esses números inferiores à realidade, citando dados de crematórios indianos.

As vítimas desaparecidas são particularmente numerosas agora que o surto epidêmico de Covid-19 se espalhou para fora das grandes cidades, em áreas rurais onde os hospitais são escassos e mantêm seus registros pouco atualizados.

Oxigênio
A epidemia está se estabilizando em grandes cidades indianas como Nova Délhi e Mumbai, que receberam suprimentos adicionais de oxigênio, mas estão se intensificando na zona rural do Sul, levando as autoridades a ordenar bloqueios locais.

O surto recorde de coronavírus na Índia preocupa os países africanos que, além da chegada da variante indiana ao continente, temem que ela limite permanentemente o fornecimento de vacinas, até agora em grande parte fornecidas pelo gigante asiático.

O fantasma de um cenário indiano pairou sobre a “reunião de emergência” dos ministros da Saúde dos países membros da União Africana sobre a “estratégia continental” de combate ao Covid-19, realizada na tarde do sábado 8.

Com mais de 4,5 milhões de casos e mais de 123.000 mortes oficialmente registradas no continente, a África foi, até agora, relativamente poupada pela pandemia.

Além de um número equivalente de habitantes, a Índia e a África compartilham pontos comuns de cidades superpovoadas e estruturas de saúde frágeis.

Conhecida como “farmácia mundial”, a Índia produziu a maioria das vacinas Oxford/AstraZeneca distribuídas para países africanos no âmbito do programa Covax, que visa fornecer acesso equitativo, especialmente para as nações mais pobres.

Mas, no final de março, a Índia anunciou que estava adiando suas exportações de vacinas, para devotá-las a conter a nova onda no país, e as campanhas de vacinação na África foram seriamente atrasadas.

O fornecimento continua, como em Madagascar, que recebeu uma remessa de 250.000 vacinas da AstraZeneca da Covax no sábado, mas em um ritmo mais lento.

O Ministro da Saúde de Serra Leoa, Austin Ndemby, falou de um “dilema moral” sobre quais critérios administrar vacinas, dada a incerteza sobre vacinas no futuro.

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