O Rio de Janeiro registrou nesta quinta-feira (6) a segunda maior chacina de sua história após uma operação policial no Jacarezinho terminar com 25 mortos. De acordo com o Instituto Fogo Cruzado, apenas uma chacina na Baixada Fluminense, em 2005, teve mais vítimas fatais. Para o sociólogo e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) José Cláudio Souza Alves, os grupos paramilitares são os vencedores do dia.
“O interesse é fortalecer as milícias, é óbvio, a polícia jamais fez operações desse porte em áreas controladas pela milícia, é o grupo criminoso organizado vinculado diretamente à estrutura do Estado, em parceria e aliança, diretamente organizado por funcionários, servidores públicos do Estado”, diz Alves ao MyNews.
As milícias já são o principal grupo criminoso da cidade do Rio de Janeiro, de acordo com pesquisa conjunta do Grupo Estudos dos Novos Ilegalismos da UFF (Universidade Federal Fluminense), o aplicativo Fogo Cruzado, o NEV-USP (Núcleo de Estudos da Violência da USP), a plataforma Pista News e o Disque-Denúncia. O levantamento concluiu que 57,5% do território da capital fluminense está sob domínio paramilitar, 25,2% do território está sob disputa, o tráfico domina 15,4% do território e 1,9% não sofre influência de grupos criminosos.
Com mais de duas décadas de pesquisa sobre os grupos paramiltitares, Alves destaca que a operação policial descumpre decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que impôs restrições à realização de operações policiais nas favelas do Estado do Rio de Janeiro durante a pandemia. O que aconteceu nesta quinta-feira no Rio de Janeiro, já aconteceu em outras cidades da Baixada Fluminense, diz o pesquisador.
“É a continuidade de um descumprimento dessa ADPF [do STF] porque simplesmente a Polícia Militar do Rio e a Polícia Civil não respondem a ninguém, eles têm autonomia própria, eles se comportam de acordo com os interesses deles”, afirma o autor do livro “Dos Barões Ao Extermínio: Uma História Da Violência Na Baixada Fluminense”.
Com o “recado” da operação policial, afirma Alves, os grupos paramilitares atuarão para ampliar seu controle econômico e eleitoral de novos territórios. O pesquisador enxerga uma ação conjunta do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), e o do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PSC), em aliança com grupos milicianos, com o foco nas eleições de 2022.
“Isso é um ato terrorista do Estado, é um ato totalitário do Estado, é um ato de assassínio de uma população que já vem morrendo nas mãos da covid-19”, avalia Alves.