Fome atinge mais lares liderados por mulheres negras

Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional aponta que a fome atingiu 19 mil brasileiros em 2020. Cenário reflete redução de auxílio emergencial

Diante da pandemia do Coronavírus, sem dinheiro, sem acesso ao mercado de trabalho e com a redução do auxílio emergencial no país, a alimentação básica em lares liderados por mulheres negras está comprometida. O cenário apontado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan) retrata o desespero feminino por causa do gênero e da cor/raça.

fome atinge 11,1% dos lares chefiados por mulheres contra 7,7% de lares liderados por homens. Pelo menos, 35,9% das mulheres provedoras da alimentação no Brasil são mães solo e vivenciam insegurança alimentar.

O estudo identificou ainda que o fator raça/cor influencia no quadro da fome com taxa de 10,7% das casas com mulheres negras. Lares com mulheres brancas apontam índice de 7,5%.

Com o auxílio aprovado pelo governo federal na média de R$ 250, o abastecimento do alimento na mesa do brasileiro é ínfimo. Para a secretária Nacional de Mulheres do PTAnne Karolyne, o auxílio emergencial aprovado não será decisivo para mudar esse cenário (ouça no áudio abaixo).

“Enquanto a questão racial e de gênero não for parte da política de governo, continuaremos a ser alvos”, destaca.

Aumento da pobreza

Maria das Graças Xavier, mulher negra, bacharel em Direito, especialista em direitos humanos e políticas públicas, e coordenadora da União Nacional por Moradia Popular, relata que a grande maioria das mulheres negras vivem em favelas, em cortiços, em situação de rua ou emprestadas em casas de parentes. “Com a pandemia, a grande maioria delas que trabalham como domésticas, diaristas, camelôs, cuidadoras ou na educação, o salário reduziu por não poderem sair para trabalhar. O novo auxílio não dá para comprar alimentos para os filhos, pagar luz e água. É humanamente impossível, conta.

Conforme Maria das Graças (ouça no vídeo abaixo), muitas mulheres estão trabalhando com reciclagem, catando latinhas ou papelão na rua para poder sobreviver.

A União dos Movimentos de Moradia e União Nacional por Moradia Popular fazem campanha de doações para ajudar essas famílias com liderança feminina.

Superada em 2013, fome voltou após o golpe

A rede reconhece que a fome é um problema histórico no Brasil, mas ressalta que houve um momento em que fomos capazes de combatê-la. “Entre 2004 e 2013, os resultados da estratégia Fome Zero, aliados a políticas públicas de combate à pobreza e à miséria, se tornaram visíveis”, escreve a Penssan, referindo-se ao conjunto de medidas contra a fome implementada pelo presidente Lula já no primeiro mandato.

“A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada em 2004, 2009 e 2013, revelou uma importante redução da insegurança alimentar em todo o país. Em 2013, a parcela da população em situação de fome havia caído para 4,2% — o nível mais baixo até então. Isso fez com que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura finalmente excluísse o Brasil do Mapa da Fome que divulgava periodicamente”, acrescenta a entidade.

Após o golpe de Estado que derrubou a presidente Dilma Rousseff, a fome avançou a passos largos no Brasil, mostram os dados. “De 2018 a 2020, como mostra a pesquisa VigiSAN, o aumento da fome foi de 27,6%. Ou seja: em apenas dois anos, o número de pessoas em situação de insegurança alimentar grave saltou de 10,3 milhões para 19,1 milhões. Nesse período, quase 9 milhões de brasileiros e brasileiras passaram a ter a experiência da fome em seu dia a dia”, afirma a Penssan.

PT

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