Daqui a um ano, em março de 2022, estaremos a seis meses da eleição presidencial. De lá em diante, só haverá uma pergunta na pauta: quem será o próximo presidente? Por enquanto, ainda há outros assuntos. As mudanças na liderança do Congresso, as contradições do Supremo Tribunal Federal, o ridículo governo de Jair Bolsonaro e sua penca de milicos. Quem, há alguns anos, imaginaria que assim estaríamos às vésperas da eleição, o Legislativo presidido por gente como a de agora, o Judiciário por alguém como Luiz Fux e tendo à frente do Executivo um capitão que o Exército declarou inapto?
É dessa maneira, no entanto, que lá chegaremos e qualquer discussão a respeito da eleição começa por reconhecer que as coisas vão mal e as pessoas estão insatisfeitas, com a sensação de que a vida piorou. Somente os que acreditam no coelhinho da Páscoa imaginam que vai melhorar nos próximos 12 meses. Do Legislativo não virá nada (salvo o mesmo de sempre, piorado) e do Judiciário tampouco. Quanto ao que pode vir do governo nem Bolsonaro espera alguma coisa.
Tudo que ele faz atualmente sugere que entregou os pontos. É até possível que, lá em 2019, ainda acreditasse em si mesmo, que conseguiria fazer um governo decente, pois lhe haviam dito que seria fácil. Não era e foi incapaz de se reinventar. Teve, por exemplo, de abandonar a pretensão de liderar um plano nacional-desenvolvimentista e só lhe restou continuar amarrado ao seu ministro da Economia, antediluviano e cascateiro. Da turma de ideólogos de araque que recrutou para o Ministério não veio nada. De onde se esperava que nada viria, como de Sergio Moro, não veio nada mesmo.
Em sua trajetória política, sempre como deputado eleito por um segmento limitado, Bolsonaro aprendeu uma única lição: pensar só na sua turma, falar apenas com ela, ignorar quem pensa diferente. Mesmo que à custa de escandalizar o resto do mundo.
Bolsonaro construiu a vida sendo um representante do autoritarismo típico do pensamento militar e policial dos subúrbios cariocas, preocupado unicamente em disparar ameaças, grosserias e preconceitos contra os mais fracos e os diferentes. Nunca soube pensar (e não precisou aprender) qualquer coisa construtiva, uma proposta ou projeto de interesse mais amplo. Fidelizava seu eleitorado escoiceando mulheres, negros e negras, homossexuais, intelectuais, artistas e esquerdistas, garantindo nos quartéis os votos para se reeleger (juntamente com a distribuição de honrarias a seus irmãos milicianos).
É isso que sabe fazer e foi assim que fez sua pré-campanha a presidente em 2017. E ficaria limitado ao tamanho dessa parcela minoritária na sociedade brasileira, caso não se beneficiasse da saraivada de golpes e intervenções indevidas que marcaram aquela eleição. Para pensar a próxima, podemos começar voltando ao que o eleitorado fez no segundo turno em 2018: 39% dos eleitores escolheram Bolsonaro, 32% votaram em Haddad e 29% se abstiveram, votaram nulo ou em branco.
As quase 58 milhões de pessoas que votaram no capitão têm de se fazer as perguntas normais em uma reeleição: valeu a pena, foi bom, o voto foi correspondido? Aconteceu o que elas esperavam, o candidato merece ser reeleito? A aposta de risco que muitos fizeram (pois ele era mal conhecido pela maioria) deu certo, era isso mesmo que queriam? A saúde, a economia, o emprego, a renda, a educação, a habitação, a segurança, o meio ambiente, a ciência, as artes e a tecnologia, a imagem internacional do País, estão dentro de suas expectativas?
Uma eleição majoritária é bem diferente da proporcional, em que a satisfação ideológica pode ser suficiente para definir o voto. Mas o capitão continua pensando como se fosse um candidato a deputado de militares reacionários e policiais truculentos, que é o que sabe ser. Acredita que coice ganha eleição.
Três anos atrás, 90 milhões de eleitores não votaram em Bolsonaro. É possível que alguns lamentem, achando que ele foi uma grata surpresa, tendo se revelado um presidente competente e cheio de qualidades. Mas o mais provável é que a vasta maioria não ache isso.
Ao contrário do que pensam alguns, Bolsonaro deve perder a próxima eleição. Seria muito melhor para o Brasil que saísse logo e não tivéssemos de aguardar até janeiro de 2023 para nos livrarmos dele. Muita gente deixaria de morrer estupidamente.
Carta Capital