Para Ricardo Berzoini, apenas US$ 100 bilhões das reservas deixadas por Lula e Dilma seriam suficientes para a retomada da economia, mas a dupla Bolsonaro /Guedes junta maldade com ignorância
O discurso de que os governos do PT quebraram o país não se sustenta. Basta olhar o saldo das reservas cambiais que os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff deixaram nos cofres do Banco Central (BC). São US$ 350 bilhões, que numa cotação do dólar a R$ 5,70, significam R$ 1,995 trilhão.
Mas, em plena pandemia do novo coronavírus, com aumento do desemprego e o brasileiro passando fome, a dupla Jair Bolsonaro/Paulo Guedes, presidente e ministro da Economia, senta em cima do dinheiro que poderia ser utilizado para um novo orçamento de guerra, ou outro nome que o governo federal queira dar aos créditos extraordinários que ajudariam a combater a doença, com a compra de vacinas e insumos, medicamentos que estão em falta e reativar a economia brasileira, sem mexer no Teto de Gastos Públicos, que congelou os investimentos até 2036.
A análise é do ex-ministro do Trabalho e da Previdência dos governos Lula e Dilma, Ricardo Berzoini. Ele defende que apenas US$ 100 bilhões dos US$ 350 bilhões das nossas reservas, divididos em US$ 50 bilhões para o combate à pandemia, com o pagamento de um auxílio emergencial num valor decente, e a outra metade em investimentos em saneamento, portos e infraestrutura, entre outras obras, já seriam suficientes para o país retomar a economia e sair deste atoleiro.
“US$ 100 bilhões seriam suficientes para a retomada da economia. Esses dólares comprados com dinheiro público combateriam a fome, a miséria, reduziriam a inflação, diminuiria a pressão cambial, o desemprego. As pessoas não estão desempregadas porque o mundo quer, e sim porque a dupla Guedes/ Bolsonaro junta maldade com ignorância”, afirma.
O próprio ex-ministro chama a sua proposta de heterodoxa, e diz que o mercado financeiro acusaria de ser uma pedalada fiscal, e que seria contra os princípios do neoliberalismo, mas, para Berzoini, não há nenhum princípio em morrer de fome.
“Um novo orçamento de guerra não furaria o teto de gastos, seria um orçamento anticíclico para combater a situação dramática que estamos vivendo. Teríamos dinheiro para pagar um auxílio emergencial melhor e não esta esmola que o governo está dando”, diz.
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Lula e Dilma são acusados de quebrar o país, mas a reserva que eles deixaram podem salvar o Brasil. Infelizmente, com Guedes e Bolsonaro não há esta perspectiva- Ricardo Berzoini
Por que não é prudente gastar os US$ 350 bilhões
Berzoini explica que quando um governo coloca dólares à venda no mercado financeiro, o valor da moeda norte-americana tende a cair e, por isso, não seria prudente gastar toda a reserva cambial. Uma queda artificial prejudicaria as exportações brasileiras.
“O governo pode começar a vender esses dólares aos poucos para não inundar o mercado, mas só o anúncio de uma série de obras, mostrando que há dinheiro para isso, seria suficiente para as empresas começarem a fazer projetos e contratar trabalhadores”, diz.
Para Berzoini, o dólar em torno de R$ 4,70 já seria suficiente para expandir a indústria com a compra de equipamentos e ainda permitir a exportação de produtos brasileiros.
“O problema é que o compromisso deste governo é somente com o latifúndio exportador”, diz o ex-ministro do Trabalho, de Lula, e da Secretaria de Governo, de Dilma Rousseff, entre outros cargos ocupados nos governos petistas.
Segundo ele, a estratégia de colocar mais dinheiro em circulação na economia está sendo posta em prática pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, só que lá ele pode imprimir a própria moeda. Aqui, imprimir o real poderia acabar em inflação mais alta.
“Vários países no mundo, de inspiração liberal, estão expandindo seus gastos públicos por causa da pandemia. Por isso esta proposta não tem nada de esquerdista. O Brasil acumulou dólares na hora certa e agora precisa gastar. Esta é a hora”, conclui Ricardo Berzoini.
A criação das reservas cambiais
Berzoini conta que após a crise mundial de 2008, os EUA e a Europa travaram uma guerra cambial com o restante do mundo e a estratégia era inundar o mercado com o euro e o dólar para diminuir a valorização dessas moedas. Com o dólar, em 2010, a R$ 1,58 as exportações brasileiras estavam sendo prejudicadas.
O então ministro da Fazenda, Guido Mantega, para evitar que isto prejudicasse a nossa economia, decidiu comprar dólares. Ao final do governo Lula, o país tinha US$ 37 bilhões em reservas e quando ocorreu o impeachment de Dilma, em 2016, o Brasil tinha US$ 378 bilhões.
CUT