Na Capital da República, as mulheres e, especialmente, as mulheres negras são as que mais sofrem com o desemprego e também com os menores salários pagos, quando comparados os trabalhadores homens.
A informação de que na Capital Federal existe uma grande desigualdade sócio-econômica não chega a ser novidade. O Distrito Federal possui a maior renda per capita do Brasil R$ 85.661, por ano, valor 2,5 vezes maior do que a média nacional (R$ 33.594), dados de 2020. Este poder aquisitivo não é igualmente dividido e pode variar até quinze vezes, se compararmos, por exemplo, a diferença de renda entre quem mora no Lago Sul e na Estrutural. Além da desigualdade sócio-geográfica, há também uma desigualdade de gênero e raça. Mulheres negras são as mais afetadas pelo desemprego e, portanto, com as menores rendas. O desemprego, que no DF atinge a 242 mil pessoas, é 5,3 pontos percentuais mais severo no segmento feminino, do que o masculino. Já o desemprego da mulher negra chega a 18,6%, 7,8 pontos percentuais mais grave.
Taxa de desocupação no Distrito Federal de 2012 a 2019
Segundo o IBGE, que divulgou por ocasião do Dia Mundial da Mulher, 8 de março, a 2ª edição das Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil, leitura que analisa as condições de vida das brasileiras a partir de um conjunto de indicadores proposto pelas Nações Unidas, a taxa de desocupação entre as mulheres pretas ou pardas do DF era quase o dobro da registrada entre os homens brancos.
Em 2019, no Distrito Federal, em 2019, a taxa de desemprego era de 13,4% –16,1% entre as mulheres e de 10,8% entre os homens, uma diferença de 5,3 pontos percentuais. “Dessa forma, o DF ficou acima da média do Brasil (4,5 pontos percentuais) e atingiu a maior diferença entre homens e mulheres da série histórica iniciada em 2012” – diz o estudo.
Desemprego
As pessoas que mais sofrem com o desemprego são as mulheres pretas ou pardas. No DF, a taxa de desemprego era de 18,6% entre estas, de 12,1% entre as mulheres brancas, de 11,5% entre os homens pretos e pardos e de 9,6% entre os brancos. Ou seja, em 2019, a taxa de desocupação entre as mulheres pretas ou pardas do DF era quase o dobro da registrada entre os homens brancos.
Qualificação
Além de apresentarem as maiores taxas de desemprego, as mulheres respondem por padrões salariais mais baixos do que os homens. Essa realidade, contudo, não pode ser justificada por uma questão de padrão inferior de qualificação. Pelo contrário, os dados disponíveis apontam que as mulheres brasileiras são em média mais instruídas que os homens. A fatia de mulheres com formação universitária na Capital Federal é 28,5% superior do que a de homens. Na outra ponta, dentre os trabalhadores com 25 anos ou mais, 40,4% dos homens não tinham instrução ou possuíam apenas o ensino fundamental incompleto, proporção que era de 37,1% entre as mulheres.
Terceiro turno
Ganhando salários menores no mercado ou desempregada em maior quantidade, as mulheres ainda possuem uma jornada de trabalho extra – o terceiro turno – ainda maior do que os homens. “Na Capital Federal, diz o estudo do IBGE, entre as pessoas ocupadas, a diferença de horas dedicadas aos cuidados de pessoas e/ou afazeres domésticos entre mulheres e homens era de 6,6 horas. O número de horas dedicas às atividades mencionadas, entre as pessoas ocupadas, também tem aumento expressivo do grupo de 14 a 29 anos de idade (14,2 horas contra 9,5 horas) para o de 30 a 49 anos (17,8 horas contra 11,5).
“Por cor ou raça, entre as pessoas ocupadas na semana de referência, no Brasil e em todas as unidades da Federação – exceto em Alagoas, onde a média de horas das mulheres brancas foi ligeira maior, e na Bahia, onde há igualdade de horas –, as mulheres pretas ou pardas eram as pessoas que dedicavam mais horas aos cuidados de pessoas e/ou afazeres domésticos. No DF, em 2019, esse segmento dispensava, em média, 17,8 horas às atividades mencionadas, seguidas pelas mulheres brancas (16,3 horas), pelos homens pretos ou pardos (10,6 horas) e pelos brancos (10,4 horas).
Do blog do Chico Santanna