Em entrevista para o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), a pastora Romi Bencke, secretária-geral do CONIC, afirmou que “ser uma liderança ecumênica significa ter a coragem de fazer as perguntas mais difíceis, mesmo em uma sociedade altamente polarizada”. Confira a íntegra a seguir. Neste momento em que a Campanha da Fraternidade Ecumênica 2021 continua a fazer o seu trabalho no Brasil – apesar dos ataques constantes de grupos de oposição – a Revda. Bencke relembra as primeiras discussões que decidiram o tema da campanha. Essas conversas, realizadas em igrejas e comunidades, trouxeram relatos fortes e honestos da polarização que existe hoje na sociedade brasileira. Bencke e o grupo de planejamento ecumênico escolheram como tema: “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”. O diálogo não é só uma forma de superar a polarização – Bencke também acredita que é uma resposta Cristã genuína em tempos de divisão. “O diálogo autêntico é o que aprendemos com Jesus Cristo, que dialogou com mulheres, mestres da lei, cobradores de impostos”, disse Bencke, que acrescenta: “Toda a Campanha da Fraternidade Ecumênica tem um lema bíblico que ilumina a realidade da qual estamos falando.” A campanha, realizada ecumenicamente em média a cada cinco anos desde 2000, este ano gira em torno de Efésios 2:14, que diz: “Pois ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um e destruiu a barreira, o muro de inimizade”. Havia polarização entre judeus e gentios na comunidade de Éfeso, mas, em Jesus, os muros da divisão foram derrubados. Embora trabalhar contra a divisão e a polarização possa parecer algo estritamente louvável – ou pelo menos inócuo – em muitos contextos, a Campanha da Fraternidade Ecumênica atraiu duras críticas de grupos fundamentalistas que se sentem ameaçados pelo chamado à unidade. Estes grupos questionam o que chamam de valores “modernistas” ou “revolucionários”, incluindo a superação do racismo estrutural, a prevenção da discriminação e violência de gênero e o enfrentamento da emergência climática. “Outro aspecto que criticam no texto de estudo da campanha é o fato de que defendemos que os povos indígenas devem ter o direito de adorar o seu sagrado e que não devem ser alvo de missões proselitistas”, disse Bencke. “Eles também criticam os gestos de solidariedade por parte de grupos ecumênicos Cristãos em favor das tradições Afro-religiosas, alvos de ataques e perseguições de grupos Cristãos extremistas”. Bencke acredita que, em seu cerne, a Campanha da Fraternidade Ecumênica é uma expressão ecumênica da unidade na diversidade da compaixão pelos vulneráveis. “Isso significa reconhecer a outra pessoa – e também a criação – como expressão do amor incondicional de Deus”, disse ela. “O Brasil tem décadas de experiências ecumênicas.” São vários os impactos do movimento ecumênico na sociedade brasileira, acrescenta: “Podemos destacar todas as contribuições para a abertura democrática do país e para a afirmação da diversidade religiosa que é inerente ao Brasil”. Apesar das críticas, Bencke acredita firmemente que vale a pena fazer uma pergunta difícil: “Quais são os muros que nos dividem, tanto nas igrejas quanto na sociedade?” A Campanha da Fraternidade Ecumênica buscar colocar em foco questões relacionadas ao racismo, a fobia anti-LGBTQIA+, o feminicídio, as mudanças climáticas, a desigualdade econômica, o fundamentalismo religioso, o negacionismo, os ataques a organizações internacionais como a ONU e a OMS, a falta de empatia e solidariedade, e a perseguição de defensores e defensoras de direitos humanos. “Todos esses temas são agendas do movimento ecumênico cujo horizonte último é a cultura da paz”, disse ela, acrescentado: “Para que a paz seja concreta, essas paredes precisam ser derrubadas.” Cristãos e Cristãs precisam falar sobre o que lhes divide como tais e como sociedades, insistiu Bencke. “Não há esperança de que haja unidade na diversidade em uma sociedade que entende o diálogo como algo a ser atacado”, finaliza.