Cerca de 200 organizações do movimento negro foram às ruas em 20 estados brasileiros, na manhã desta quinta-feira (18), para exigir do poder público políticas de amparo da população negra durante a pandemia do coronavírus.
Entre as demandas está a vacinação para todos por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e o retorno do auxílio emergencial de R$ 600 para a população negra, a mais afetada pelas crises econômica e sanitária devido às desigualdades raciais e socioeconômicas que marcam o Brasil e o mundo.
O valor se contrapõe à proposta do governo Bolsonaro, que tem defendido um auxílio com três parcelas de R$ 200. Por sua vez, o Congresso Nacional trabalha com a hipótese de quatro parcelas de R$ 250.
As cerca de 200 entidades se organizam por meio da Coalização Negra por Direitos, aliança que puxou as manifestações desta quinta-feira em todo o Brasil.
Em São Paulo
Em São Paulo, cerca de 200 manifestantes ocuparam a Avenida Paulista em frente ao Banco Central, na região central da capital paulista. Aos gritos de “tem gente com fome”, eles cobraram a retomada do auxílio emergencial por parte do governo federal e o início da vacinação em massa.
Para Douglas Belchior, professor de História e um dos fundadores da Coalizão Negra por Direitos, a maior vulnerabilidade da população negra durante a pandemia se deve não a uma “predileção do vírus” pelos corpos pretos, e sim a “uma contingência da situação social do país”.
“Em todos os países, aqueles grupos sociais historicamente oprimidos são os mais afetados [pela pandemia do coronavírus], porque as condições sociais influenciam drasticamente na maneira como a doença chega, na maneira como o corpo recebe. Nós [população negra] somos mais afetados principalmente porque os cuidados médicos com o nosso povo são muito mais limitados”, argumenta.
:: Sete vezes em que Bolsonaro e seus aliados contribuíram para a falta de vacinas ::
Estado com mais casos e mortes por covid-19
Integrante da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo e da Coalização Negra por Direitos, Zezé Menezes responsabiliza o governo estadual de São Paulo e as prefeituras das cidades paulistas pelo alto número de casos confirmados de covid-19 e de óbitos pela doença no estado.
“São Paulo é um estado que concentra 25% das mortes pelo coronavírus no país. São Paulo é responsável por quase 50 mil mortes […]. Nós queremos chamar a atenção para a responsabilidade do governo estadual e das prefeituras, que não têm um programa eficiente de controle do vírus e que vitimou uma parcela importante da população, principalmente a população pobre e preta das periferias”, ressalta Zezé.
Na avaliação da militante, para reverter a situação, seria necessário “um programa de vacinação rápido e eficiente” para impedir a proliferação de mais variantes do vírus, a exemplo da nova cepa que se espalhou nas últimas semanas do Amazonas para os demais estados brasileiros.
Auxílio municipal em São Paulo
De acordo com a covereadora Paula Nunes (Psol-SP), o Psol está encampando, na Câmara Municipal de São Paulo, o aumento do valor e do tempo de duração do auxílio emergencial de R$ 100 por três meses, previsto por um projeto de lei municipal.
Integrante de um mandato coletivo feminista do Psol, Paula destaca que a falta do auxílio emergencial afeta principalmente as mães solo.
“A nossa luta tem sido para ampliar esse valor e para garantir também que essas mães solo tenham acesso ao dobro do valor, porque aqui [em São Paulo, o auxílio emergencial] é garantido por pessoa inscrita no CadÚnico. Então numa mesma família, dois adultos poderiam receber o benefício. As mães solo não teriam esse direito”, argumenta.
:: Coluna | A população negra, a educação e a pandemia ::
Pelo Brasil
Além da cidade de São Paulo, receberam o ato desta terça-feira (18) as cidades de Altamira (PA), Aracaju (SE), Belém (PA), Belford Roxo (RJ), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Camaragibe (PE), Campo Grande (MS), Castanhal (PA), Cuiabá (MG), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), Goiânia (GO), Itapecirica da Serra (SP), Macaé (RJ), Macapá (AM), Maceió (AL), Olinda (PE), Osasco (SP), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio Branco (AC), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), Santa Inês (MA), São Bernardo do Campo (SP), São Luís (MA), Santos (SP), Manaus (AM), Teresina (PI), Vitória (ES), João Pessoa (PB), Natal (RN), Porto Velho (RO), Boa Vista (RA), Florianópolis (SC) e Palmas (TO).
*Com informações de Pedro Stropasolas
Edição: Rodrigo Durão Coelho